NOSSAS REDES

POLÍTICA

Erika Hilton, sobre a ofensiva de Trump contra a c…

PUBLICADO

em

Erika Hilton, sobre a ofensiva de Trump contra a c...

Anita Prado

A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) tornou pública a batalha para ter sua identidade de gênero respeitada após ser registrada como “sexo masculino” na emissão de um visto diplomático pela Embaixada dos Estados Unidos — mesmo apresentando documentos brasileiros que atestam legalmente sua identidade como mulher. Em resposta, acionou o Itamaraty e pretende levar o caso à Câmara dos Deputados. Na entrevista a seguir, Hilton também critica a recente resolução do Conselho Federal de Medicina, que restringe o acesso de jovens trans à terapia hormonal, e o avanço de uma agenda autoritária promovida pela extrema-direita no Brasil e no mundo.

Como a senhora se sente ao ter que reafirmar publicamente algo tão elementar quanto a sua identidade de gênero? Eu me sinto cansada, porque nós já deveríamos ter superado essas questões básicas. Nós já não deveríamos mais aceitar conviver com naturalidade com racismo, com transfobia, com misoginia, com ódio. E nós estamos vendo o crescimento da violência, da barbárie e do preconceito cada vez mais forte por parte da extrema-direita no mundo. E aí a gente se sente exausta. Mas, ao mesmo tempo, nessa exaustão, encontra força e coragem para seguir denunciando, gritando e exigindo o mínimo: a dignidade, o respeito, a cidadania. Então, cansa. Mas, ao mesmo tempo, faz com que a minha voz ecoe.

Lhe causou espanto o fato de o governo americano querer definir o status de um cidadão de outro país? Me causou profundo espanto o governo americano não só querer definir status, mas violar documentos nacionais brasileiros. Isso me deixou ainda mais horrorizada, chocada e muito preocupada. Se o governo americano se sente autorizado, a partir de um decreto lá dos Estados Unidos, a interferir nos documentos oficiais brasileiros, o que mais ele é capaz de fazer?

Que tipo de resposta política e diplomática a senhora espera do governo brasileiro? Uma coisa é o que eu espero, outra coisa é o que eu acho que vai acontecer. Eu esperaria muito que o governo se posicionasse, que o governo repudiasse, que o governo dissesse “aqui, não”, que aqui nós respeitamos identidades, nós respeitamos a população trans e, mais do que isso, que aqui nós respeitamos e defendemos com unha a nossa soberania, que não somos “República das Bananas”. Onde um gringo, um estrangeiro, invade as nossas fronteiras, viola os nossos documentos, deslegitima as nossas parlamentares eleitas pelo voto do nosso povo. É isso que eu esperaria. Agora, eu não sei se é isso que vai acontecer. Eu estive já no Itamaraty, conversando com o chanceler, que disse que vai fazer uma cobrança à embaixada dos Estados Unidos, mas não sei se vai passar desse pedido de explicações. Devo conversar também na Câmara, para que a mesa tome uma medida, se manifeste.

O mundo atravessa um período de retrocesso quanto aos direitos das pessoas trans? O que explica esse fenômeno? Eu acho que nós, pessoas trans, estamos sendo usadas de bode expiatório para a construção de um pânico moral, para o enfraquecimento da agenda do respeito, dos direitos humanos, da diversidade. Somos colocadas como inimigas da sociedade porque temos avançado, e é perigoso o nosso avançar para as estruturas de poder. Então, para construírem um pânico moral, para construírem uma guerra invisível entre o bem e o mal, se utilizam de nós. São as pessoas trans que estão sendo utilizadas para serem representadas como inimigas dentro de uma guerra fantasiosa — uma guerra que é construída na cabeça dessas figuras da extrema-direita e que é vendida para a sociedade como um risco à família, um risco à moral, um risco às infâncias. Tudo isso foi criado num conto fantasioso, como o “kit gay”, e agora vem ganhando cada vez mais força. É preciso conter a liberdade, porque a liberdade representa a insurgência, representa o questionamento, representa a ousadia — e isso é perigoso a governos autoritários, fascistas e corruptos, como são esses da extrema-direita.

Continua após a publicidade

Casos de discriminação por parte do governo americano envolvendo a atriz Hunter Schafer, da série americana Euphoria, e a deputada Duda Salabert (PDT-MG), também foram relatados. Qual o impacto desses episódios para pessoas comuns, que não têm o mesmo destaque na sociedade? Quando a sociedade assiste a figuras públicas sendo agredidas dessa maneira, surgem dois efeitos. O primeiro é o medo, a frustração, a desesperança — o que é muito perigoso. Mas, ao mesmo tempo, há um segundo efeito: o das pessoas se unirem para dizer: “Olha, nossas ídolas, as pessoas que a gente admira, estão sendo agredidas, violadas. Precisamos nos unir a elas, lutar com elas”.

Nesse mês, o Conselho Federal de Medicina aprovou uma resolução que restringe o acesso de jovens trans a bloqueadores hormonais e à terapia hormonal cruzada. O que motivou essa decisão, em seu ponto de vista? Faz parte da tentativa desse genocídio mais eufêmico, menos direto. Porque, quando você nega acesso ao direito à saúde, você traz o suicídio, a automedicação e uma série de problemas de saúde. A decisão do CFM nega a existência natural de pessoas trans ao dizer que a transexualidade só pode ser considerada a partir de determinada idade — como se pessoas trans fossem pokémons que saem de pokebolas e se transformam aos 18 anos de idade. Querem reforçar essa ideia de abstração, de não naturalidade.

No último Carnaval, a senhora desfilou na Paraíso do Tuiuti com uma faixa presidencial. Um dia será possível uma pessoa trans ocupar um cargo como esse no Brasil? A senhora tem essa ambição pessoalmente? Eu acho que um dia será possível, sim. Talvez demore para que isso aconteça, diante dessa toada. O fato de eu ser usada como bode expiatório para a construção de um pânico moral — e de um caos moral na sociedade — também está diretamente ligado aos avanços históricos e estruturais importantes que nós viemos construindo por aqui. Eu usei uma faixa presidencial, mas grande parte da minha comunidade me chama de presidente nas redes sociais, nas ruas, nos atos públicos dos quais eu participo. Isso soa como algo ameaçador à extrema-direita. Ainda que eles olhem com desprezo e deboche, como fazem muitas vezes, no fundo, nos seus íntimos, isso os amedronta. Essa é minha ambição pessoal? Não é. O Congresso Nacional é nefasto, é cruel, é perverso. O povo brasileiro precisa aprender a votar. Nós precisamos renovar a cara do Congresso Nacional para chegar nesse lugar. Mas é lindo ver uma comunidade que vive às margens da sociedade projetar um futuro no cargo mais alto do nosso país. Nós estamos preparando o Brasil — e o mundo — para nos verem em outros lugares, e a resposta dos covardes e dos canalhas à nossa existência é exatamente essa. Nos querem negar o nome, nos querem negar a saúde, mas não vão nos parar.



Leia Mais: Veja

Advertisement
Comentários

Warning: Undefined variable $user_ID in /home/u824415267/domains/acre.com.br/public_html/wp-content/themes/zox-news/comments.php on line 48

You must be logged in to post a comment Login

Comente aqui

POLÍTICA

CPMI do INSS deve causar estrago ainda maior ao go…

PUBLICADO

em

CPMI do INSS deve causar estrago ainda maior ao go...

Marcela Rahal

Como se não bastasse a ideia de uma CPI na Câmara, ainda a depender do aval do presidente Hugo Motta (o que parece que não deve acontecer), o governo pode enfrentar uma investigação para apurar os desvios bilionários do INSS nas duas Casas.

Já são 211 assinaturas de parlamentares a favor da CPMI, 182 deputados e 29 senadores, o suficiente para o início dos trabalhos. A deputada Coronel Fernanda, autora do pedido na Câmara, vai protocolar o requerimento nesta terça-feira, 6. Caberá ao presidente do Congresso, Davi Alcolumbre, convocar o plenário para a leitura da proposta e, consequentemente, a criação da Comissão.

Segundo a parlamentar, que convocou uma entrevista coletiva para amanhã às 14h30, agora o processo deve andar. O governo ficará muito mais exposto com um escândalo que tem tudo para ficar cada vez maior, segundo as investigações ainda em andamento.

O desgaste será inevitável. O apelo do caso é forte e de fácil entendimento para a população. O assalto bilionário aos aposentados e pensionistas do INSS.



Leia Mais: Veja

Continue lendo

POLÍTICA

Com fortes dores, Antonio Rueda passará por cirurg…

PUBLICADO

em

Com fortes dores, Antonio Rueda passará por cirurg...

Ludmilla de Lima

Presidente da Federação União Progressista, Antonio Rueda passará por uma cirurgia nesta segunda-feira, 05, devido a um cálculo renal. Por causa de fortes dores, o procedimento, que estava marcado para amanhã, terá que ser antecipado. Antes do anúncio da federação, na terça da semana passada, ele já havia sido operado por causa do problema, colocando um cateter.

Do União Brasil, Rueda divide a presidência da federação com Ciro Nogueira, do PP. Os dois partidos juntos agora têm a maior bancada do Congresso, com 109 deputados e 14 senadores. O PP defendia que o ex-presidente da Câmara Arthur Lira ficasse no comando do bloco, mas o União insistia no nome de Rueda. A solução foi estabelecer um sistema de copresidentes, que funcionará ao menos até o fim deste ano. 

A “superfederação” ultrapassa o PL na Câmara – o partido de Jair Bolsonaro tem 92 deputados – e se iguala ao PSD e ao PL no Senado. O poder do grupo, que seguirá unido nos próximos quatro anos, também é medido pelo fundo partidário, de R$ 954 milhões.

A intensificação das agendas políticas nos últimos dias agravou o quadro de saúde de Rueda, que precisou também cancelar uma viagem ao Rio.



Leia Mais: Veja

Continue lendo

POLÍTICA

Os dois bolsonaristas unidos contra Moraes para pu…

PUBLICADO

em

Os dois bolsonaristas unidos contra Moraes para pu...

Matheus Leitão

A mais nova dobradinha contra Alexandre de Moraes tem gerado frisson nas redes bolsonaristas, mas parece mesmo uma novela de mau gosto. Protagonizada por Eduardo Bolsonaro, o filho Zero Três licenciado da Câmara, e Paulo Figueiredo, neto do último general ditador do Brasil, os dois se uniram para tentar punir o ministro do Supremo Tribunal Federal nos EUA.

Em uma insistente tentativa de se portarem com alguma relevância perante o governo Donald Trump, os dois agora somam posts misteriosos de Eduardo com promessas vazias de Figueiredo após uma viagem por alguns dias a Washington.

Um aparece mostrando, por exemplo, a lateral da Casa Branca em um ângulo no qual parece, pelo menos nas redes sociais, a parte interna da residência oficial do presidente dos Estados Unidos. O outro promete que as sanções ao ministro do STF estão 70% construídas e pede mais “72 horas” aos seus seguidores.

“Aliás, hoje aqui de manhã, eu tive um [inaudível] com eles, no caso o Departamento de Estado especificamente, e o termo que usaram para mim foi: olha, nós não queremos criar excesso de expectativa, mas nós estamos muito otimistas que algo vai acontecer e a gente vai poder fazer num curto prazo”, disse Paulo Figueiredo.

A ideia dos dois é que, primeiro, Alexandre de Moraes, tenha seu visto cancelado e não possa mais entrar nos Estados Unidos. Depois, que ele tenha algumas sanções econômicas, caso tenha bens nos Estados Unidos, como o bloqueio financeiro a instituições do país, como empresas de cartão de crédito.

Continua após a publicidade

“O que eu posso dizer para você é que a gente nunca esteve tão perto. Eu não posso dizer quando e nem garantir que vão acontecer”, prometeu ainda Paulo Figueiredo. A novela ainda vai ganhar novos ares nesta semana com a chegada de David Gamble, coordenador para Sanções do governo de Trump, ao Brasil nesta semana. 

A seguir as cenas dos próximos capítulos…



Leia Mais: Veja

Continue lendo

MAIS LIDAS