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Esquerda mede espaço de pauta identitária e calcula riscos – 29/12/2024 – Poder

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Joelmir Tavares

Após o debate sobre as chamadas pautas identitárias atravessar os últimos ciclos eleitorais, a esquerda no Brasil busca enfrentar o tema numa tentativa de afastar contradições e alinhar discursos para evitar que a ligação com bandeiras segmentadas vire bode expiatório de derrotas.

A dimensão das bandeiras identitárias no PSOL, sobretudo nos representantes do Legislativo, foi citada por setores do PT como uma das causas do fracasso de Guilherme Boulos na disputa à Prefeitura de São Paulo, sob o argumento de que afugentam setores mais amplos do eleitorado.

A avaliação hoje é de que é preciso reafirmar apoio a políticas de direitos específicos a uma parcela da população, como mulheres, negros e comunidade LGBTQIA+, mas sem que essa atenção signifique um abandono de causas clássicas da esquerda, como luta de classes e políticas públicas universais.

O tema se transformou em questão espinhosa para o chamado campo progressista, no momento em que conservadores avançam no diálogo com estratos sociais que já estiveram mais próximos da esquerda ou que têm consolidado uma rejeição profunda a ela, como é o caso dos evangélicos.

A crítica à centralidade que as pautas individuais têm adquirido se sustenta no argumento de que a extrema direita —ou, no caso brasileiro, o bolsonarismo ideológico— usa tais reivindicações como espantalhos do debate público.

O caso do aborto é emblemático, com líderes à direita distorcendo ou hiperdimensionando pontos da discussão para atacar e descredibilizar o lado rival.

Para a presidente nacional do PSOL, Paula Coradi, “não existe projeto de esquerda que não passe por mulheres, negros e indígenas, compreendendo as lutas por liberdade e diversidade”. Ela diz que recuar nessa seara para não alimentar a direita pode gerar regressão de direitos.

Para nós do PSOL, essas ditas pautas identitárias não devem ser lidas dessa forma. A classe trabalhadora tem gênero, raça e formas de existir, de amar e de se relacionar com o mundo. Ela é atravessada por esses marcadores. Sem falar que mulheres e negros são majoritários”, afirma.

Paula aponta o dedo para “a velha esquerda” ao defender que o campo pode, sim, “combinar as lutas históricas por justiça social e reforma agrária com as lutas do nosso tempo”. Ela diz que as reivindicações que agora se impõem foram negligenciadas por muitos anos.

O PSOL lançou 210 candidatos a prefeito em 2024 no país e não elegeu nenhum.

Dias após perder para Ricardo Nunes (MDB), Boulos disse ao fim de um evento com simpatizantes que “tem que tomar cuidado” quando o assunto são as pautas identitárias.

Ele afirmou que a esquerda “não pode abandonar de forma nenhuma” a defesa de direitos de grupos minorizados. “Isso é uma coisa. Outra coisa é transformar isso no centro da disputa política, que é o que a extrema direita faz no mundo inteiro. Nessa cilada a gente não pode cair”, declarou.

A presidente do partido classifica como descabida a associação entre a derrota do correligionário e a temática identitária.

Segundo Paula, o resultado foi fruto do “uso desenfreado da máquina pública” em favor de Nunes e da presença avassaladora do influenciador Pablo Marçal (PRTB), que fortaleceu o prefeito ao posicioná-lo, por comparação, como “um sujeito viável e aceitável”.

O deputado federal Orlando Silva (PC do B-SP), que atuou na campanha de Boulos e milita na causa antirracista —como candidato a prefeito de São Paulo em 2020 usou o slogan “não vote nulo, não vote em branco, vote no preto”—, avalia como “falsa contradição” a escolha entre lutas gerais e específicas.

“As políticas universais têm que incluir os diversos segmentos, que têm outras dimensões de vulnerabilidade para além da situação econômica. E, da mesma forma, a luta especifica não pode ser travada abstraindo a geral. Temos de ter clareza do que é inegociável para nós”, diz.

Orlando também tem a visão de que frear a demanda identitária “alegando que eleitoralmente é ruim ou não é conveniente” pode motivar acusações de oportunismo eleitoral e perda de confiança. “Recuar numa disputa de ideias pode ser fatal.”

O deputado enxerga as críticas ao chamado identitarismo como tentativa de “desqualificar trabalhos importantes” e aponta sua origem na academia e na elite política. “É uma crítica feita por gente estabelecida, quase sempre bem posicionada. Nunca vi um líder comunitário levantando esses questionamentos.”

As pautas identitárias emergiram num contexto em que grupos historicamente excluídos impuseram suas necessidades, “recusando-se a colocá-las como questões menores, subalternas às questões de classe”, afirma Luis Felipe Miguel, professor de ciência política da UnB (Universidade de Brasília).

Outro componente, diz ele, foi o esgotamento dos modelos tradicionais da esquerda classista, o que levou o espectro a marcar sua diferença abraçando as causas de grupos oprimidos. Isso, contudo, não significou contestação ao sistema neoliberal, limitando-se a “ajustes cosméticos”.

Em paralelo, “a nova extrema direita percebeu que tinha como explorar os ressentimentos difusos” gerados por discursos pró-diversidade que soavam hegemônicos, segundo o pesquisador.

“O identitarismo é mais sintoma do que causa da crise da esquerda. É a válvula de escape de uma esquerda que não apresenta mais um projeto de transformação anticapitalista da sociedade”, afirma.

O docente acredita que, no aspecto eleitoral, tendem a se beneficiar mais das pautas identitárias candidatos a cadeiras no Legislativo. Ainda assim, a votação fica restrita a eleitores já com inclinação à esquerda. No caso de cargos majoritários, o discurso espanta as grandes parcelas do eleitorado, diz ele.

Miguel vê, no entanto, surgir hoje uma reação a essa linha de atuação dentro da própria esquerda.

“As tentativas de silenciamento das críticas, na base de carteiradas de ‘lugar de fala‘, já encontram resistência. Não cola mais o discurso de vitimização que tenta fazer com que qualquer discordância seja automaticamente definida como recusa da importância das agendas de gênero ou racial”, comenta.



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Mulher alimenta pássaros livres na janela do apartamento e tem o melhor bom dia, diariamente; vídeo

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O projeto com os cavalos, no Kentucky (EUA), ajuda dependentes químicos a recomeçarem a vida. - Foto: AP News

Todos os dias de manhã, essa mulher começa a rotina com uma cena emocionante: alimenta vários pássaros livres que chegam à janela do apartamento dela, bem na hora do café. Ela gravou as imagens e o vídeo é tão incrível que já acumula mais de 1 milhão de visualizações.

Cecilia Monteiro, de São Paulo, tem o mesmo ritual. Entre alpiste e frutas coloridas, ela conversa com as aves e dá até nomes para elas.

Nas imagens, ela aparece espalhando delicadamente comida para os pássaros, que chegam aos poucos e transformam a janela num pedacinho de floresta urbana. “Bom dia. Chegaram cedinho hoje, hein?”, brinca Cecilia, enquanto as aves fazem a festa com o banquete.

Amor e semente

Todos os dias Cecilia acorda e vai direto preparar a comida das aves livres.

Ela oferece porções de alpiste e frutas frescas e arruma tudo na borda da janela para os pequenos visitantes.

E faz isso com tanto amor e carinho que a gratidão da natureza é visível.

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Cantos de agradecimento

E a recompensa vem em forma de asas e cantos.

Maritacas, sabiás, rolinha e até uma pomba muito ousada resolveu participar da festa.

O ambiente se transforma com todas as aves cantando e se deliciando.

Vai dizer que essa não é a melhor forma de começar o dia?

Liberdade e confiança

O que mais chama a atenção é a relação de respeito entre a mulher e as aves.

Nada de gaiolas ou cercados. Os pássaros vêm porque querem. E voltam porque confiam nela.

“Podem vir, podem vir”, diz ela na legenda do vídeo.

Internautas apaixonados

O vídeo se tornou viral e emocionou milhares de pessoas nas redes sociais.

Os comentários vão de elogios carinhosos a relatos de seguidores que se sentiram inspirados a fazer o mesmo.

“O nome disso é riqueza! De alma, de vida, de generosidade!”, disse um.

“Pra mim quem conquista os animais assim é gente de coração puro, que benção, moça”, compartilhou um segundo.

Olha que fofura essa janela movimentada, cheia de aves:

Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Que gracinha! - Foto: @cecidasaves/TikTok Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Põe comida para os pássaros livres na janela do apartamento dela em SP. – Foto: @cecidasaves/TikTok



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Cavalos ajudam dependentes químicos a se reconectar com a vida, emprego e família

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Cecília, uma mulher de São Paulo, põe alimentos todos os dias os para pássaros livres na janela do apartamento dela. - Foto: @cecidasaves/TikTok

O poder sensorial dos cavalos e de conexão com seres humanos é incrível. Tanto que estão ajudando dependentes químicos a se reconectar com a família, a vida e trabalho nos Estados Unidos. Até agora, mais de 110 homens passaram com sucesso pelo programa.

No Stable Recovery, em Kentucky, os cavalos imensos parecem intimidantes, mas eles estão ali para ajudar. O projeto ousado, criado por Frank Taylor, coloca os homens em contato direto com os equinos para desenvolverem um senso de responsabilidade e cuidado.

“Eu estava simplesmente destruído. Eu só queria algo diferente, e no dia em que entrei neste estábulo e comecei a trabalhar com os cavalos, senti que eles estavam curando minha alma”, contou Jaron Kohari, um dos pacientes.

Ideia improvável

Os pacientes chegam ali perdidos, mas saem com emprego, dignidade e, muitas vezes, de volta ao convívio com aqueles que amam.

“Você é meio egoísta e esses cavalos exigem sua atenção 24 horas por dia, 7 dias por semana, então isso te ensina a amar algo e cuidar dele novamente”, disse Jaron Kohari, ex-mineiro de 36 anos, em entrevista à AP News.

O programa nasceu da cabeça de Frank, criador de cavalos puro-sangue e dono de uma fazenda tradicional na indústria de corridas. Ele, que já foi dependente em álcool, sabe muito bem como é preciso dar uma chance para aqueles que estão em situação de vulnerabilidade.

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A ideia

Mas antes de colocar a iniciativa em prática, precisou convencer os irmãos a deixar ex-viciados lidarem com animais avaliados em milhões de dólares.“Frank, achamos que você é louco”, disse a família dele.

Mesmo assim, ele não desistiu e conseguiu a autorização para tentar por 90 dias. Se algo desse errado, o programa seria encerrado imediatamente.

E o melhor aconteceu.

A recuperação

Na Stable Recovery, os participantes acordam às 4h30, participam de reuniões dos Alcoólicos Anônimos e trabalham o dia inteiro cuidando dos cavalos.

Eles escovam, alimentam, limpam baias, levam aos pastos e acompanham as visitas de veterinários aos animais.

À noite, cozinham em esquema revezamento e vão dormir às 21h.

Todo o programa dura um ano, e isso permite que os participantes se tornem amigos, criem laços e fortaleçam a autoestima.

“Em poucos dias, estando em um estábulo perto de um cavalo, ele está sorrindo, rindo e interagindo com seus colegas. Um cara que literalmente não conseguia levantar a cabeça e olhar nos olhos já está se saindo melhor”, disse Frank.

Cavalos que curam

Os cavalos funcionam como espelhos dos tratadores. Se o homem está tenso, o cavalo sente. Se está calmo, ele vai retribuir.

Frank, o dono, chegou a investir mais de US$ 800 mil para dar suporte aos pacientes.

Ao olhar tantas vidas que ele já ajudou a transformar, ele diz que não se arrepende de nada.

“Perdemos cerca de metade do nosso dinheiro, mas apesar disso, todos aqueles caras permaneceram sóbrios.”

A gente aqui ama cavalos. E você?

A rotina com os animais é puxada, mas a recompensa é enorme. – Foto: AP News



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Resgatado brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia após seguir sugestão do GPS

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O brasileiro Hugo Calderano, de 28 anos, conquista a inédita medalha de prata no Mundial de Tênis de Mesa no Catar.- Foto: @hugocalderano

Cuidado com as sugestões do GPS do seu carro. Este brasileiro, que ficou preso na neve na Patagônia, foi resgatado após horas no frio. Ele seguiu as orientações do navegador por satélite e o carro acabou atolado em uma duna de neve. Sem sinal de internet para pedir socorro, teve que caminhar durante horas no frio de -10º C, até que foi salvo pela polícia.

O progframador Thiago Araújo Crevelloni, de 38 anos, estava sozinho a caminho de El Calafate, no dia 17 de maio, quando tudo aconteceu. Ele chegou a pensar que não sairia vivo.

O resgate só ocorreu porque a anfitriã da pousada onde ele estava avisou aos policiais sobre o desaparecimento do Thiago. Aí começaram as buscas da polícia.

Da tranquilidade ao pesadelo

Thiago seguia viagem rumo a El Calafate, após passar por Mendoza, El Bolsón e Perito Moreno.

Cruzar a Patagônia de carro sempre foi um sonho para ele. Na manhã do ocorrido, nevava levemente, mas as estradas ainda estavam transitáveis.

A antiga Rota 40, por onde ele dirigia, é famosa pelas paisagens e pela solidão.

Segundo o programador, alguns caminhões passavam e havia máquinas limpando a neve.

Tudo parecia seguro, até que o GPS sugeriu o desvio que mudou tudo.

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Caminho errado

Thiago seguiu pela rota alternativa e, após 20 km, a neve ficou mais intensa e o vento dificultava a visibilidade.

“Até que, numa curva, o carro subiu em uma espécie de duna de neve que não dava para distinguir bem por causa do vento branco. Tudo era branco, não dava para ver o que era estrada e o que era acúmulo de neve. Fiquei completamente preso”, contou em entrevista ao G1.

Ele tentou desatolar o veículo com pedras e ferramentas, mas nada funcionava.

Caiu na neve

Sem ajuda por perto, exausto, encharcado e com muito frio, Thiago decidiu caminhar até a estrada principal.

Mesmo fraco, com fome e mal-estar, colocou uma mochila nas costas e saiu por volta das 17h.

Após mais de cinco horas de caminhada no escuro e com o corpo congelando, ele caiu na neve.

“Fiquei deitado alguns minutos, sozinho, tentando recuperar energia. Consegui me levantar e segui, mesmo sem saber quanta distância faltava.”

Luz no fim do túnel

Sem saber quanto tempo faltava para a estrada principal, Thiago se levantou e continuou a caminhada.

De repente, viu uma luz. No início, o programador achou que estava alucinando.

“Um pouco depois, ao olhar para trás em uma reta infinita, vi uma luz. Primeiro achei que estava vendo coisas, mas ela se aproximava. Era uma viatura da polícia com as luzes acesas. Naquele momento senti um alívio que não consigo descrever. Agitei os braços, liguei a lanterna do celular e eles me viram”, disse.

A gentileza dos policiais

Os policiais ofereceram água, comida e agasalhos.

“Falaram comigo com uma ternura que me emocionou profundamente. Me levaram ao hospital, depois para um hotel. Na manhã seguinte, com a ajuda de um guincho, consegui recuperar o carro”, agradeceu o brasileiro.

Apesar do susto, ele se recuperou e decidiu manter a viagem. Afinal, era o sonho dele!

Veja como foi resgatado o brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia:

Thiago caminhou por 5 horas no frio até ser encontrado. – Foto: Thiago Araújo Crevelloni

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