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‘Herege’ é terror eficiente mas peca com seu didatismo – 20/11/2024 – Ilustrada

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Pedro Strazza

Você só precisa de alguns poucos minutos para perceber a cilada em que se encontram as duas protagonistas de “Herege“. Jovens missionárias mórmons, elas passam o dia vendendo a sua religião de porta em porta, mas traem as regras ao entrar na casa de um dos estranhos que visitam.

As garotas atravessam o batente para fugir da chuva, que só piora, mas também porque o senhor, vivido por Hugh Grant, parece interessado na conversão. Para uma delas, a irmã Paxton, é a chance de conseguir sair do zero na missão —a sua colega, a irmã Barnes, já converteu oito ou nove pessoas. Que fria.

Entre o cansaço e a ambição, as duas se convencem de que o homem está acompanhado da esposa em casa, uma regra importante de suas visitas. Mas basta a câmera passear pela sala de estar para o espectador notar que aquele cara não é confiável.

Nada no recinto está fora do lugar, mas a casa não tem janelas e a disposição dos poucos móveis é esquisita. Para piorar, logo se percebe que a eletricidade funciona por temporizadores, que desligam a luz de tempos em tempos.

A situação lembra “João e Maria” e esse parece mesmo o ponto de partida do filme —embora não seja a sua linha de chegada. Assim, aos poucos, “Herege” se mostra o trabalho mais mirabolante de Scott Beck e Bryan Woods, que estouraram a primeira vez com o roteiro do primeiro “Um Lugar Silencioso“.

Mirabolante define mesmo os esforços da dupla, que entre um longa e outro aprenderam a valorizar mais a reviravolta como motor da narrativa. A trama existe para a tensão na casa, que aumenta conforme a conversa religiosa desanda, e cada informação nova só piora a situação das garotas vividas por Sophie Thatcher e Chloe East.

Mas o mais intrigante em “Herege” é a figura do dono da casa. A performance soturna de Grant, ator hoje tão ligado à comédia, é um diferencial e tanto ao personagem, que ganha vida na língua de serpente.

Lá pelas tantas, o filme existe para instigar o público a descobrir o que aquele senhor esquisito deseja com as missionárias, que avançam pela casa a contragosto —elas descobrem da pior forma possível que a porta da frente não abre por um suposto defeito na trava.

Como o título bem sugere, o interesse do dono da casa mora no próprio papo de religião. Na melhor cena do longa, Grant faz um extenso monólogo sobre a hipocrisia dos credos de hoje, criticando as diversas coincidências que ligam os seus diferentes tipos.

O seu discurso lembra um stand-up e martela as iterações de um culto ao outro de forma bem-humorada, ainda que este efeito só amplie o suspense. De vítima, sobram sacaneadas para a história da música pop e do jogo “Banco Imobiliário“, que amarram a tese do hospedeiro com a acidez necessária.

A produção então ganha corpo nessa afronta ao credo alheio, com Beck e Woods aproveitando do debate para dentro do conflito das garotas com o homem. A trama orbita entre o esforço das meninas para fugir e o jogo do sequestrador, que se materializa em cena em uma grande maquete.

Nisso, “Herege” tem algo dos testes de fé dos filmes de M. Night Shyamalan, ainda que sob uma ótica de puro ceticismo ateu. O paralelo faz sentido dado a fábula que é o primeiro “Um Lugar Silencioso”, mas aqui os cineastas transparecem isso pela direção, armando as peças do tabuleiro com calma e humor. O primeiro plano do longa, por exemplo, transforma um diálogo simples sobre sexo em uma piada visual bem enquadrada.

É uma pena então que o longa desande a partir do momento em que termina de revelar as suas ideias e precisa fazer algo em torno delas. A história inventa percalços para as meninas e para o dono da casa, mas começa a andar em círculos à espera da resolução de seus mistérios.

Os diretores também subestimam a inteligência do público e recheiam o longa de lembretes visuais e diálogos expositivos para amarrar tudo na trama. A situação fica tão grave que na reta final a sensação é de que Grant deixa a posição de ameaça para virar um papagaio professor para as meninas.

Nada disso bota abaixo “Herege”, que tem revelações suficientes para divertir o espectador mais interessado. Mas a insegurança das ideias transparece demais na condução, o que é um pecado grave a qualquer produção que se proclame elaborada.



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Ufac sediará 57º Fórum Nacional dos Juizados Especiais — Universidade Federal do Acre

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Ufac sediará 57º Fórum Nacional dos Juizados Especiais — Universidade Federal do Acre

O pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, representou a reitora Guida Aquino ao receber a visita da juíza de Direito Evelin Bueno, coordenadora da comissão organizadora do Fórum Nacional dos Juizados Especiais (Fonaje) e representante do Tribunal de Justiça do Acre (TJ-AC). O encontro ocorreu nesta terça-feira, 7, no gabinete da Reitoria, campus-sede.
A reunião teve como objetivo discutir uma possível parceria entre o TJ-AC e a Ufac para a realização do 57º Fonaje, previsto para ocorrer entre os dias 27 e 29 de maio de 2026, em Rio Branco. O evento é um dos maiores do Poder Judiciário brasileiro e reúne magistrados, professores e profissionais do direito de todo o país para debater e aperfeiçoar o sistema dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais.
Carlos Paula de Moraes manifestou apoio à proposta e ressaltou que a universidade busca fortalecer parcerias institucionais em eventos de relevância nacional. “A Ufac tem compromisso social e coloca sua estrutura à disposição para iniciativas que promovam conhecimento e integração. Essa parceria reforça o papel da universidade como espaço de cultura, ciência e diálogo com a sociedade.”

Durante a conversa, a juíza Evelin Bueno destacou a importância de o Acre sediar, pela primeira vez, um evento dessa dimensão. “Em 30 anos de existência, o Fonaje nunca foi realizado no Acre. Será uma oportunidade para mostrar a competência dos profissionais do Estado e a qualidade do nosso sistema jurídico.”
Ela explicou que a comissão organizadora pretende realizar o encontro no campus-sede, utilizando o Teatro Universitário e o Centro de Convenções, pela estrutura e localização adequadas. “A Ufac é o espaço mais apropriado para um evento dessa natureza. Além da parte científica, queremos agregar uma programação cultural e gastronômica que valorize as potencialidades do Acre e proporcione uma experiência completa aos visitantes.”

Ao final da visita, ficou definido que o TJ-AC encaminhará, nos próximos dias, o pedido formal de reserva dos espaços da Ufac para a realização do evento em 2026. Neste ano, o 56º Fonaje ocorrerá de 12 a 14 de novembro, em Porto Alegre, sediado pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS). O tema do evento será “Resgate dos Ritos dos Juizados Especiais e os Desafios Atuais”.

 



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PET-Educação Física resgata jogos e brincadeiras no Taquari — Universidade Federal do Acre

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PET-Educação Física resgata jogos e brincadeiras no Taquari — Universidade Federal do Acre

O Programa de Educação Tutorial (PET) de Educação Física da Ufac realiza o projeto de extensão Resgatando Jogos e Brincadeiras Tradicionais, no Taquari, em Rio Branco, em parceria com a Igreja Batista do bairro, a qual cede o espaço e materiais para as atividades, que iniciaram em julho deste ano.

Estudantes de Educação Física trabalham com crianças e adolescentes no bairro, visando resgatar jogos e brincadeiras que fazem parte da memória cultural de diferentes gerações, proporcionando momentos de lazer, socialização e desenvolvimento motor, além de favorecer a convivência coletiva e a transmissão de saberes populares e tradicionais.

“Ao unir esforços entre universidade, comunidade e instituições locais, o PET-Educação Física desempenha um papel importante na extensão universitária ao promover a valorização cultural e o bem-estar social de crianças e adolescentes, ao mesmo tempo em que contribui para a formação cidadã dos acadêmicos envolvidos”, comentou a tutora do PET-Educação Física, professora Eliane Elicker.

 



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Hospital Sírio-Libanês faz encontro na Ufac sobre melhoria do SUS — Universidade Federal do Acre

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Hospital Sírio-Libanês faz encontro na Ufac sobre melhoria do SUS — Universidade Federal do Acre

A Ufac sediou a cerimônia de abertura do Encontro Regional para Apresentação dos Projetos de Intervenção, promovido pelo Hospital Sírio-Libanês em parceria com o Ministério da Saúde, no âmbito do Programa de Desenvolvimento da Gestão do Sistema Único de Saúde (DGPSUS). O evento ocorreu na quinta-feira, 2, no anfiteatro Garibaldi Brasil, campus-sede.

O encontro reuniu especialistas dos cursos de preceptoria do SUS e de gestores de programas de residência, oferecidos pelo Hospital Sírio-Libanês em todo o país. Em Rio Branco, participam 40 profissionais que atuam diretamente no fortalecimento dos programas de residência médica e multiprofissional no Acre.

Para a reitora Guida Aquino, a atuação com o Hospital Sírio-Libanês representa um avanço significativo na formação e gestão dos programas de residência. “É uma parceria muito importante entre universidade, Estado e o Sírio-Libanês, que certamente trará uma melhor gestão e qualificação para nossos profissionais de saúde e docentes”, afirmou.

Para Kássia Veras Lima, facilitadora de aprendizagem, e Célia Márcia Birchler, facilitadora do curso de especialização em Preceptoria do SUS e representantes do Hospital Sírio-Libanês, o diferencial do DGPSUS está em unir a formação individual dos especialistas com a entrega social dos projetos de intervenção. Esses projetos são concebidos e implementados pelos participantes a partir das necessidades vividas e sentidas no território.

Também participaram da mesa de abertura o professor Osvaldo Leal; o presidente do Conselho de Secretários Municipais de Saúde, George Eduardo Carneiro Macedo; e a presidente da Fundação Hospital Estadual do Acre (Fundhacre), Sóron Angélica Steiner.

(Fhagner Soares, estagiário Ascom/Ufac)



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