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Morre Léo Batista, 92, símbolo do esporte na TV brasileira – 19/01/2025 – Esporte

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Márvio dos Anjos

Léo Batista um dia se chamou João Baptista Bellinaso Neto. Filho do casal de imigrantes italianos formado pelo pedreiro Antonio e pela dona de casa Maria, ele entendeu desde cedo que era preciso trabalhar para ajudar um lar sem qualquer luxo em Cordeirópolis, perto de Limeira, no interior de São Paulo. Quando dona Maria ganhou do marido um barzinho para completar a renda da família, coube a ele e à irmã Leonilda entregar, de casa em casa, o pão que vinha de trem nas frias madrugadas, antes da escola.

“Certa vez eu perguntei à minha irmã pouco antes de ela morrer: ‘Nilda, naquelas manhãs frias de quatro graus, que a gente atravessava descalços, você com cinco anos, eu com sete, levando pão para as pessoas, você se lembra de alguém ter oferecido um café quente para nós?’ Nunca” – contava Léo, guardando um rancor que, aos 92 anos, ainda soava fresco. “Não tive infância. Não sei o que é brincar.”

Enquanto os meninos da rua jogavam bola, João Baptista, dos 11 aos 13 anos, ajudava o pai como servente de pedreiro. A adolescência se revelaria muito mais auspiciosa, mesmo depois de o jovem ter abandonado o seminário em Campinas para ajudar a pensão da família, aos 15 anos, como garçom. Com essa idade, ele também começaria uma das carreiras mais longevas do jornalismo esportivo brasileiro, que durou 76 anos, dividindo-se entre o rádio e a TV, onde sua “voz marcante” –epíteto dado pelo colega e narrador Luís Roberto de Múcio– viria a se tornar íntima de gerações e gerações de torcedores e espectadores.

Tudo começou em 1947, quando, por indicação de um primo, o jovem de queixo pontudo tentou a sorte no concurso de locutor para uma rádio que se espalhava por 12 alto-falantes de Cordeirópolis. Aprovado, apresentou-se como Bellinaso Neto, nome com que foi contratado seis meses depois pela Rádio Birigui, já com o sonho de um dia narrar um jogo de futebol. Em 1950, esteve diante de uma final da Copa do Mundo, no Maracanã, representando a Rádio Difusora de Piracicaba, mas não conseguiu narrar o gol de Ghiggia, que sepultou o sonho do primeiro título brasileiro.

“Enrolaram na hora de distribuir os fios telefônicos de transmissão, e eu não consegui narrar o jogo porque não achava minha linha”, contou, em 2019. “Aí, terminou o jogo, e eu chorei.”

Dois anos depois, Bellinaso Neto se viu um dia criticado pelos jogadores do XV de Piracicaba, seu time do coração, após um jogo em que o time, em suas palavras, “venceu, mas não convenceu”. Para sua surpresa, o dono da rádio se aproximou e deu razão aos jogadores. O amparo veio do veterano atacante carioca Santo Cristo, que o convidou para ir ao Rio e tentar a carreira na cidade.

Bateu às portas da Rádio Mayrink Veiga e da Rádio Clube do Brasil e terminou contratado na Rádio Globo, que contava com Luiz Mendes, os irmãos Wolner Doalcei Camargo e o paulista Raul Brunini, que já tinha ouvido um jogo narrado pelo rapaz de Cordeirópolis. Era a época do Café Nice na avenida Rio Branco, que frequentava entre nomes como Noel Rosa, Lamartine Babo e Ataulfo Alves.

Só que Mendes se enrolou ao tentar pronunciar “Bellinaso” e, por isso, mandou o jovem trocar de nome urgentemente. Ele pensou rápido: pegou “Léo” emprestado de Leonilda –que detestava esse nome– e simplificou o Baptista que já carregava.

“O engraçado é que, lá em casa, eu também virei Léo. Nunca mais me chamaram de João.”

Foi com o nome de Léo Batista que o locutor virou uma marca do jornalismo esportivo e ainda protagonizou momentos importantes: foi o primeiro jornalista a anunciar o suicídio de Getúlio Vargas, em 24 de agosto de 1954. No ano seguinte, teve sua primeira experiência na televisão, apresentando o jornal Pirelli diariamente e narrando futebol na TV Rio, onde permaneceu até 1968, quando foi sucedido por Cid Moreira. No meio do caminho, adotou o Botafogo como seu time do peito.

Seus primeiros passos na TV Globo foram dados em 1970, como narrador substituto na Copa do México. Num dia em que Cid Moreira pediu dispensa da edição do Jornal Nacional, Léo agradou e terminou contratado. Depois, participou da estreia do Jornal Hoje, em 1971, e do primeiro programa esportivo diário da Globo, o Copa Brasil. Em agosto de 1978, assumiu a apresentação do Globo Esporte, do qual se tornou praticamente um sinônimo, integrando os quadros até 2014. Aos domingos, foi a voz dos Gols do Fantástico até 2007, quando deu a vaga a Tadeu Schmidt.

“Doutor Roberto Marinho foi um ótimo patrão, um grande patrão. É uma vergonha, porque eu já devia ter mandado rezar uma missa por ele”, contou à reportagem, angustiado, esse católico fervoroso, em novembro passado.

O locutor sofreu duros baques nos últimos três anos. Em janeiro de 2022, o apresentador estava em casa, no bairro de Jacarepaguá (zona oeste do Rio) quando sentiu falta de sua mulher, Leyla. Encontrou-a boiando na piscina, depois de um infarto aos 84 anos. Foi o trágico fim de um casamento iniciado de maneira cômica: os noivos tiveram que esperar a chegada esbaforida de dom Helder Câmara, que se atrasou consideravelmente para a cerimônia na igreja de Santa Margarida Maria, na Lagoa.

No ano passado, Léo também perdeu o amigo Cid Moreira, com quem se cruzava profissionalmente desde 1968, e sua perplexidade no velório gerou uma das imagens mais agridoces de 2024. Léo ainda frequentava de forma esparsa a redação do esporte da Globo até o ano passado, sem jamais se considerar um aposentado. Tinha certo temor de perder o emprego, como se ignorasse o símbolo que era para a emissora –em 2024, foi tema de uma série em quatro episódios no Globoplay, dirigida por Kizzy Magalhães.

Léo Batista morreu aos 92 anos, depois de ter sido internado no hospital Rios d’Or, na Freguesia, zona oeste do Rio de Janeiro, com complicações causadas por um tumor no pâncreas. Ele deixa uma filha.



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Aperfeiçoamento em cuidado pré-natal é encerrado na Ufac — Universidade Federal do Acre

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Aperfeiçoamento em cuidado pré-natal é encerrado na Ufac — Universidade Federal do Acre

A Ufac realizou o encerramento do curso de aperfeiçoamento em cuidado pré-natal na atenção primária à saúde, promovido pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proex), Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre) e Secretaria Municipal de Saúde de Rio Branco (Semsa). O evento, que ocorreu nessa terça-feira, 11, no auditório do E-Amazônia, campus-sede, marcou também a primeira mostra de planos de intervenção que se transformaram em ações no território, intitulada “O Cuidar que Floresce”.

Com carga horária de 180 horas, o curso qualificou 70 enfermeiros da rede municipal de saúde de Rio Branco, com foco na atualização das práticas de cuidado pré-natal e na ampliação da atenção às gestantes de risco habitual. A formação teve início em março e foi conduzida em formato modular, utilizando metodologias ativas de aprendizagem.

Representando a reitora da Ufac, Guida Aquino, o diretor de Ações de Extensão da Proex, Gilvan Martins, destacou o papel social da universidade na formação continuada dos profissionais de saúde. “Cada cursista leva consigo o conhecimento científico que foi compartilhado aqui. Esse é o compromisso da Ufac: transformar o saber em ação, alcançando as comunidades e contribuindo para a melhoria da assistência às mulheres atendidas nas unidades.” 

A coordenadora do curso, professora Clisângela Lago Santos, explicou que a iniciativa nasceu de uma demanda da Sesacre e foi planejada de forma inovadora. “Percebemos que o modelo tradicional já não surtia o efeito esperado. Por isso, pensamos em um formato diferente, com módulos e metodologias ativas. Foi a nossa primeira experiência nesse formato e o resultado foi muito positivo.”

Para ela, a formação representa um esforço conjunto. “Esse curso só foi possível com o envolvimento de professores, residentes e estudantes da graduação, além do apoio da Rede Alyne e da Sesacre”, disse. “Hoje é um dia de celebração, porque quem vai sentir os resultados desse trabalho são as gestantes atendidas nos territórios.” 

Representando o secretário municipal de Saúde, Rennan Biths, a diretora de Políticas de Saúde da Semsa, Jocelene Soares, destacou o impacto da qualificação na rotina dos profissionais. “Esse curso veio para aprimorar os conhecimentos de quem está na ponta, nas unidades de saúde da família. Sei da dedicação de cada enfermeiro e fico feliz em ver que a qualidade do curso está se refletindo no atendimento às nossas gestantes.”

A programação do encerramento contou com uma mostra cultural intitulada “O Impacto da Formação na Prática dos Enfermeiros”, que reuniu relatos e produções dos participantes sobre as transformações promovidas pelo curso em suas rotinas de trabalho. Em seguida, foi realizada uma exposição de banners com os planos de intervenção desenvolvidos pelos cursistas, apresentando as ações implementadas nos territórios de saúde. 

Também participaram do evento o coordenador da Rede Alyne, Walber Carvalho, representando a Sesacre; a enfermeira cursista Narjara Campos; além de docentes e residentes da área de saúde da mulher da Ufac.

 



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CAp promove minimaratona com alunos, professores e comunidade — Universidade Federal do Acre

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CAp promove minimaratona com alunos, professores e comunidade — Universidade Federal do Acre

O Colégio de Aplicação (CAp) da Ufac realizou uma minimaratona com participação de estudantes, professores, técnico-administrativos, familiares e ex-alunos. A atividade é um projeto de extensão pedagógico interdisciplinar, chamado Maracap, que está em sua 11ª edição. Reunindo mais de 800 pessoas, o evento ocorreu em 25 de outubro, no campus-sede da Ufac.

Idealizado e coordenado pela professora de Educação Física e vice-diretora do CAp, Alessandra Lima Peres de Oliveira, o projeto promove a saúde física e social no ambiente estudantil, com caráter competitivo e formativo, integrando diferentes áreas do conhecimento e estimulando o espírito esportivo e o convívio entre gerações. A minimaratona envolve alunos dos ensinos fundamental e médio, do 6º ano à 3ª série, com classificação para o 1º, 2º e 3º lugar em cada categoria. 

“O Maracap é muito mais do que uma corrida. Ele representa a união da nossa comunidade em torno de valores como disciplina, cooperação e respeito”, disse Alessandra. “É também uma proposta de pedagogia de inclusão do esporte no currículo escolar, que desperta nos estudantes o prazer pela prática esportiva e pela vida saudável.”

O pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, ressaltou a importância do projeto como uma ação de extensão universitária que conecta a Ufac à sociedade. “Projetos como o Maracap mostram como a extensão universitária cumpre seu papel de integrar a universidade à comunidade. O Colégio de Aplicação é um espaço de formação integral e o esporte é uma poderosa ferramenta para o desenvolvimento humano, social e educacional.”

 



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Semana de Letras/Português da Ufac tematiza ‘língua pretuguesa’ — Universidade Federal do Acre

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Semana de Letras/Português da Ufac tematiza ‘língua pretuguesa’ — Universidade Federal do Acre

O curso e o Centro Acadêmico de Letras/Português da Ufac iniciaram, nessa segunda-feira, 10, no anfiteatro Garibaldi Brasil, sua 24ª Semana Acadêmica, com o tema “Minha Pátria é a Língua Pretuguesa”. O evento é dedicado à reflexão sobre memória, decolonialidade e as relações históricas entre o Brasil e as demais nações de língua portuguesa. A programação segue até sexta-feira, 14, com mesas-redondas, intervenções artísticas, conferências, minicursos, oficinas e comunicações orais.

Na abertura, o coordenador da semana acadêmica, Henrique Silvestre Soares, destacou a necessidade de ligar a celebração da língua às lutas históricas por soberania e justiça social. Segundo ele, é importante que, ao celebrar a Semana de Letras e a independência dos países africanos, se lembre também que esses países continuam, assim como o Brasil, subjugados à força de imperialismos que conduzem à pobreza, à violência e aos preconceitos que ainda persistem.

O pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, salientou o compromisso ético da educação e reforçou que a universidade deve assumir uma postura crítica diante da realidade. “A educação não é imparcial. É preciso, sim, refletir sobre essas questões, é preciso, sim, assumir o lado da história.”

A pró-reitora de Graduação, Ednaceli Damasceno, ressaltou a força do tema proposto. Para ela, o assunto é precioso por levar uma mensagem forte sobre o papel da universidade na sociedade. “Na própria abertura dos eventos na faculdade, percebemos o que ocorre ao nosso redor e que não podemos mais tratar como aula generalizada ou naturalizada”, observou.

O diretor do Centro de Educação, Letras e Artes (Cela), Selmo Azevedo Pontes, reafirmou a urgência do debate proposto pela semana. Ele lembrou que, no Brasil, as universidades estiveram, durante muitos anos, atreladas a um projeto hegemônico. “Diziam que não era mais urgente nem necessário, mas é urgente e necessário.”

Também estiveram presentes na cerimônia de abertura o vice-reitor, Josimar Batista Ferreira; o coordenador de Letras/Português, Sérgio da Silva Santos; a presidente do Cela, Thaís de Souza; e a professora do Laboratório de Letras, Jeissyane Furtado da Silva.

(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)

 

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