Ficará a cargo das redes de ensino e das escolas privadas a implantação já em 2025 para o novo formato do ensino médio aprovado neste ano após iniciativa do governo Lula (PT). Só para 2026 é que o novo modelo da etapa, com mais disciplinas tradicionais, passa a ser obrigatório em todo país.
A transição foi definida em resolução com as novas diretrizes do ensino médio, aprovada nesta quinta-feira (7) pelo CNE (Conselho Nacional de Educação).
A lei que alterou o ensino médio —ampliando a carga horária da chamada Formação Geral Básica de 1.800 horas para 2.400 horas— passa a valer no ano que vem. O CNE, no entanto, franqueou às redes de ensino e escolas um período de transição, inclusive para quem ingressar no 1º ano do ensino médio em 2025.
A flexibilidade para a implementação busca atender a diversidade de realidades de cada rede de ensino, segundo o documento e conselheiros ouvidos pela Folha.
Com isso, a adaptação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) em consonância com a nova grade do ensino médio é estendida agora até 2028.
“Atendendo às preocupações das secretarias estaduais de educação, a resolução permite que as mudanças na oferta curricular do ensino médio possam acontecer já em 2025 ou no início do ano letivo de 2026, de acordo com as condições de cada rede”, diz nota do MEC (Ministério da Educação).
“[A pasta] está formando mais de 200 técnicos de todas as secretarias de educação, que farão o desenho dos planos de ação de cada território”.
Também fica a cargo das redes e escolas a complementação de horas para quem já está matriculado no ensino médio e, no que vem, estará no 2º ou 3º anos. A depender das redes, os estudantes terminarão os estudos no modelo anterior —criticado por reduzir as aulas de disciplinas tradicionais.
O documento final das Diretrizes Nacionais para o Ensino médio é diferente daquilo que o MEC havia encaminhado, no mês passado, para o CNE. Na proposta, havia a previsão de que os estudantes já matriculados teriam de ter um número maior de aulas na Formação Geral Básica.
Entenda a reforma do ensino médio
As novas diretrizes impactarão todos os alunos do ensino médio, das redes públicas e de escolas privadas. São quase 8 milhões de estudantes, sendo mais de 80% em escolas estaduais.
Após iniciativa do governo Lula, o Congresso aprovou, no meio do ano, alterações na reforma do ensino médio que havia sido estabelecida em 2017, sob o governo Michel Temer (MDB).
A reforma de Temer flexibilizou o currículo, com a divisão em dois blocos: uma parte comum, em que todos alunos estudam os mesmos conteúdos (e disciplinas tradicionais), e outra dedicada a áreas de aprofundamento —os chamados itinerários formativos.
São cinco áreas de aprofundamento previstas no ensino médio: linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e a formação técnica e profissional.
Com a implementação da reforma nas escolas, a partir de 2022, apareceram os problemas. Estudantes, professores e especialistas denunciaram perdas de conteúdos tradicionais na parte comum e oferta deficiente dos itinerários.
A nova mudança, já sob o governo Lula, manteve o princípio da flexibilização, mas ampliou de 1.800 horas para 2.400 horas a carga de aulas dessa parte comum, considerando os três anos.
A Coordenação-Geral de Ensino Médio do MEC havia mapeado as matrizes curriculares do ensino médio em curso no ano de 2024, nas 27 unidades federativas.
“O cenário de adaptação à ampliação da carga horária de FGB [Formação Geral Básica] foi iniciado em 15 unidades, desde o ano letivo corrente. Esse panorama denota que o processo para implementação pode ser favorável desde 2025”, diz o documento inicial levado ao CNE.
As diretrizes reforçam entendimento de que não se faça o ensino médio a partir de uma divisão entre formação geral básica e itinerários formativos.
Haverá um novo documento com as diretrizes relacionadas aos conteúdos dos itinerários. A previsão era de que isso ocorresse ainda neste ano, mas também o CNE estendeu esse prazo: os parâmetros que orientarão as redes de ensino na criação dos itinerários formativos poderá ser finalizado até março de 2025.
O presidente da Comissão das Nações Unidas (ONU) que investiga a guerra da Síria há 13 anos, o brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, avalia que não há, neste momento, condições de fazer previsões sobre o futuro da Síria após a queda do regime de Bashar al-Assad.
“Não é possível fazermos exercícios de astrologia política. Nada pode ser previsto com segurança sobre o que vai acontecer na Síria nas próximas semanas”, afirma o presidente da Comissão Independente Internacional de Investigação da ONU.
Paulo Sérgio Pinheiro pondera, entretanto, que a situação do país do Oriente Médio não deve repetir o que aconteceu na Líbia, que se tornou ingovernável e dividida em pequenos territórios dominados por milícias armadas após a queda do regime de Muammar Gaddafi, em 2011.
Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, Pinheiro também avalia como improvável que a Síria venha a se tornar uma espécie de Afeganistão governado pelo Talibã, um tipo de administração fundamentalista islâmica mais extrema, ainda que parte dos grupos insurgentes da Síria seja oriundo de grupos como a Al Qaeda.
Na entrevista, ele também alerta que a situação humanitária na Síria é a pior possível e descreve as violações de direitos humanos dos últimos 13 anos, incluindo a situação das minorias étnicas e religiosas.
Vivendo na capital paulista, Pinheiro lidera cerca de 25 investigadores da ONU, em Genebra, na Suíça, onde ele passa longos períodos. Em 13 anos de guerra na Síria, a comissão produziu 45 relatórios sobre a situação do país, realizando viagens a capitais de países do Oriente Médio envolvidos no conflito.
Pinheiro também foi ministro da Secretaria de Direitos Humanos durante o governo de Fernando Henrique Cardoso e membro da Comissão Nacional da Verdade (CNV) durante o governo de Dilma Rousseff.
Confira a íntegra da entrevista:
Agência Brasil: Há certo otimismo com o fim do regime de Bashad al-Assad, e os insurgentes que tomaram o poder afirmam que agora a Síria será livre. O senhor acredita que esse otimismo tem razão de ser? Paulo Sérgio Pinheiro: Não é questão de otimismo. A realidade para a população síria é que seus interesses, durante os últimos 13 anos de guerra, jamais foram levados em conta por nenhuma das partes envolvidas no conflito. Lembrando que são 7 milhões de refugiados deslocados internamente, dentro do país, isso em uma população de 25 milhões, sendo 90% vivendo abaixo da linha da pobreza.
É uma reação extremamente compreensível a sensação de alívio de uma população que sofreu prisões arbitrárias, desaparecimentos e falta de informação sobre os seus parentes durante esses 13 anos de guerra.
Nós nunca tomamos posição a favor ou contra porque a nossa única preocupação é a defesa dos direitos humanos e das vítimas. De qualquer maneira, nós temos que tomar nota dessa natural reação da população síria, ainda que nós não engrossemos o coro da celebração da vitória por parte da antiga organização não estatal ligada à Al Qaeda que tomou o poder. Ainda bem que, desde 2017, o HTS na Síria rompeu com a Al Qaeda. [HTS é o Hay’at Tahrir al-Sham, ex-braço da Al Qaeda e principal grupo insurgente que derrubou Assad].
Agência Brasil: Como você e sua equipe receberam a notícia de queda do regime de Assad? Pinheiro: A queda de Assad não foi uma total surpresa porque, desde o começo de novembro, nós notamos uma intensificação das lutas do HTS. Ele havia intensificado os combates com as forças armadas sírias, mais do que o habitual na região de Idlib, onde é a província até então governada pelo HTS.
Ao mesmo tempo, começamos a notar no interior da Síria a intensificação dos apelos da Turquia e de alguns comandos militares das forças armadas da Síria para que o presidente Assad entrasse em um acordo com esses grupos. Ou seja, estava no horizonte alguma mudança brusca, alguma rebelião, que de fato aconteceu.
Agência Brasil: Enxerga o risco de a Síria virar uma nova Líbia? Pinheiro: Não dá para comparar a situação da Síria com a Líbia, que era um estado totalmente falido. Apesar de todas as dificuldades do governo da Síria, era um estado que funcionava, ainda que com enormes limitações.
Além disso, a inserção na geopolítica da Síria é muito diferente da Líbia. A Líbia era muito marginal. A Síria, não. Ela era o ponto forte da resistência à pretensão de domínio do Estado de Israel. Era um dos exércitos em armas convencionais mais bem dotados da região e era considerado um bastião contra a agressividade de Israel.
Então, não dá para achar que vai acontecer algo como na Líbia. Vai ser diferente. Nem vai acontecer como no Afeganistão. Os talibãs estão numa outra galáxia do conservadorismo, da leitura literal da religião muçulmana, do desprezo pelas mulheres. Tudo isso é muito diferente da Síria.
Agência Brasil: Como está a situação humanitária da sociedade síria após 13 anos de guerra? Pinheiro: A situação humanitária é a pior possível porque o orçamento da ajuda humanitária previsto para 2024 foi apenas 23% que havia sido prometido pelos doadores. O acirramento da repressão no governo Bashar al-Assad, depois de uma tentativa de abertura da Primavera Árabe, foi terrível, tanto que 90% da população, como eu disse, estão abaixo da linha da pobreza, não só pela responsabilidade do governo passado, mas também pelo pouco caso das partes do conflito e dos Estados-Membros da ONU envolvidos de atenderem de alguma maneira as necessidades fundamentais da população síria.
Ao invés disso, algumas potências ocidentais resolveram insistir em agravar as sanções econômicas que se abatem basicamente sobre a maioria pobre da população e não sobre as elites que sempre conseguem se safar.
Agência Brasil: Os relatórios da Comissão de Inquérito sobre a Síria relatam uma série de violações de direitos humanos, tanto por parte das forças pró-Assad, como por parte dos ditos rebeldes. A que tipo ou padrões de abusos a sociedade síria foi submetida nesse período? Pinheiro: A população síria foi submetida às violações mais graves dos direitos humanos, que são as execuções sumárias, as prisões arbitrárias, a tortura nas suas mais diferentes formas que nós conhecemos nas ditaduras brasileiras e em outros países da América Latina. Celas superlotadas, sem acesso à alimentação, à água, enfim, tudo que nós conhecemos que uma ditadura pode fazer em relação à sua população. Além disso, calculam-se por volta de 100 mil os desaparecidos, dos quais o governo deu pouquíssima informação às famílias.
O dia a dia da população síria estava submetido a ondas de repressão autoritárias com a total garantia da impunidade porque a Justiça síria jamais exigiu contas das autoridades que cometiam essas graves violações de direitos humanos que ocorreram de forma sistemática nesse período.
Agência Brasil: A Síria é um país com uma população majoritariamente sunita. Como você avalia que vai ficar a segurança das minorias xiita, alauita, curda e cristã no novo cenário em que grupos originalmente de ideologia jihadista assumem o poder? Nos anos da guerra, como essas minorias foram tratadas pelos grupos insurgentes? Pinheiro: A ditadura que antecedeu a do presidente Bashar al-Assad foi capaz de manter um equilíbrio com as diversas correntes religiosas, desde os cristãos até os sunitas. O presidente Assad no começo da sua administração teve algum êxito nisso, depois esse equilíbrio se tornou mais precário.
Mas, depois do genocídio do Estado Islâmico contra as populações cristãs, essa minoria se sentia protegida pelo governo Assad. Isso era um fato concreto. Não quer dizer que havia liberdade de culto, que não havia nenhuma repressão à pregação religiosa, mas era uma situação extremamente diferente, por exemplo, do genocídio praticado pelos jihadistas pelo califado do Estado Islâmico.
A nova administração, sob a liderança do HTS, tem repetido que não vai haver retaliações contra os alauitas, que é o grupo que mais participava do governo, e que as outras crenças também não vão ser perseguidas. Agora, resta saber se isso vai ultrapassar essa primeira semana de comemorações.
Por enquanto, nós não temos visto o que ocorria no genocídio do Estado Islâmico. Mesmo na administração de Idlib, apesar da prática de graves violações aos direitos humanos, não houve uma perseguição sistemática a grupos de outras religiões. Mas as manifestações de oposição e de crítica foram reprimidas, mas nada tão sistemático como o Estado Islâmico fez.
Agência Brasil: É possível fazer alguma previsão do como ficará a Síria após esses mais de 50 anos do regime liderado pela família Assad? Pinheiro: Não é possível fazermos exercícios de astrologia política. Nada pode ser previsto com segurança sobre o que vai acontecer na Síria nas próximas semanas. Não há nem garantia de instabilidade, apesar de toda a cooperação que o Estado de Israel está dando [para um cenário instável], primeiro se apropriando uma faixa de 400 quilômetros quadrados do território da população síria-árabe. Israel invadiu essa faixa que separava as Colinas do Golã, ocupadas ilegalmente por Israel por mais de 50 anos.
Então, ninguém tem condições de fazer previsões. A lição é acompanhar com o maior realismo possível, com o maior número possível de informações, e aí entendermos o que está passando.
A pegada anual de carbono do TikTok é provavelmente maior do que a de Gréciade acordo com uma nova análise do impacto ambiental da plataforma de mídia social, com o usuário médio gerando gases de efeito estufa equivalentes a dirigir 200 quilômetros extras em um carro movido a gasolina a cada ano.
Estimativas de Verdeuma consultoria de contabilidade de carbono com sede em Paris, estima as emissões do TikTok em 2023 nos EUA, Reino Unido e França em cerca de 7,6 milhões de toneladas métricas de equivalente de dióxido de carbono (CO2e) – superiores às associadas ao Twitter/X e Snapchat na mesma região.
O TikTok tem 1 bilhão de usuários em todo o mundo e as descobertas de Greenly colocaram sua pegada de carbono logo acima da do Instagram – embora o Instagram tenha quase o dobro Base de usuários do TikTok.
A razão por trás disso reside na dependência única da plataforma TikTok. O usuário médio do Instagram gasta 30,6 minutos no aplicativo por dia. Enquanto isso, a média TikTok o usuário gasta 45,5 minutos rolando.
“Todo o algoritmo é construído em torno da massificação de vídeos”, explicou Alexis Normand, presidente-executivo da Greenly. “A dependência também tem consequências em termos de incentivar as pessoas a gerarem cada vez mais pegada (de carbono) numa base individual.”
Dado que os EUA, o Reino Unido e França representam pouco menos de 15% da base global de usuários do TikTok, a pegada geral de carbono da plataforma é provavelmente de cerca de 50 milhões de toneladas métricas de CO2e. E uma vez que estes cálculos do centro de dados não incluem outras fontes menores de emissões do TikTok, tais como as emissões associadas aos espaços de escritório e às deslocações dos funcionários, isto é provavelmente uma subestimação.
Para contextualizar, as emissões anuais de carbono da Grécia em 2023 foram de 51,67 milhões de toneladas métricas de CO2e.
Os usuários do TikTok também têm o segundo maior nível de emissões por minuto de uso nas redes sociais, de acordo com a análise de Greenly, logo depois do YouTube. Um minuto no TikTok queima 2.921 gramas de CO2e, em média, enquanto um minuto no YouTube queima 2.923 gramas. Um minuto no Instagram queima 2.912 gramas.
As pequenas diferenças se somam. Devido à grande quantidade de conteúdo na plataforma, bem como aos tempos médios de rolagem mais longos, os usuários do TikTok têm as maiores emissões anuais. O usuário médio do TikTok queimará 48,49 kg de CO2e no aplicativo em um ano, de acordo com a análise de Greenly. Em segundo lugar vem o YouTube, com um usuário médio queimando 40,17kg de CO2e. Os usuários do Instagram queimarão apenas 32,52 kg de CO2e.
De acordo com o Agência de Proteção Ambiental, essa é a diferença entre dirigir um carro a gasolina dirigindo 123 milhas (TikTok), 102 milhas (YouTube) e 82,8 milhas (Instagram).
O estudo examinou a pegada de carbono associada a cada utilizador por minuto, incorporando as emissões associadas aos data centers, que representavam cerca de 99% da pegada, e as emissões associadas aos dispositivos de carregamento após a utilização das plataformas.
As emissões do TikTok são as mais opacas das plataformas de mídia social. Gigantes da tecnologia como Meta e Google divulgam relatórios detalhados para o Carbon Disclosure Project todos os anos, publicando até mesmo as suas descobertas nos seus respectivos websites. O TikTok não possui dados de emissões disponíveis publicamente.
Outras empresas de redes sociais, embora também reportem emissões altíssimas, assumiram compromissos de alimentar os seus centros de dados com energia limpa. A qualidade desses compromissos varia muito. Uma investigação pelo Guardiãomostrou que quatro das cinco principais empresas de tecnologia estavam usando créditos de energia renovável (Recs) semelhantes à compensação para subnotificar seus dados de emissões em aproximadamente 662%.
TikTok assumiu um compromisso ser neutro em carbono até 2030. A empresa tem um plano chamado “Projeto Trevo”, implementado em 2023, que tem a tarefa de cumprir esse objetivo e, ao mesmo tempo, melhorar a segurança geral dos dados. No entanto, até à data, apenas foi construído um data center renovável: um centro de dados de 12 mil milhões de euros. instalação na Noruega que funciona com energia 100% renovável.
Não está claro se essas práticas e compromissos de relatórios persistirão ou não sob nova propriedade – um tribunal de apelações dos EUA manteve uma lei isso exigirá que a empresa chinesa ByteDance venda a plataforma para uma entidade não chinesa até 19 de janeiro de 2025, embora a empresa esteja tentando atrasar isso até que um recentemente mais amigável A administração Trump é inaugurada.
Se a plataforma for comprada por uma empresa norte-americana, regras passou este ano exigiria que a empresa divulgasse publicamente as suas emissões se estas fossem “relevantes” para os investidores, embora Trump provavelmente reverterá isso.
Mohammad Chaeeb falou suavemente ao telefone, contando a um parente a triste notícia: ele encontrou seu irmão no necrotério do Hospital Al-Mujtahid.
“Eu o vi e me despedi”, disse ele. Seu olhar permaneceu no corpo enegrecido de Sami Chaeeb, cujos dentes estavam à mostra e as órbitas oculares vazias. Parecia que ele havia morrido gritando. “Ele não parece normal. Ele nem tem olhos.”
O homem morto foi preso há cinco meses, desaparecendo num sistema prisional obscuro sob o governo do presidente Bashar al-Assad. O seu corpo é apenas um dos muitos encontrados em centros de detenção e prisões sírias desde a queda do governo de Assad, no fim de semana passado.
Perto dali, especialistas forenses trabalharam rapidamente para identificar os corpos e entregá-los aos familiares.
Yasser Qasser, assistente forense do necrotério, disse que receberam 40 corpos naquela manhã do hospital, que estavam sendo coletadas de impressões digitais e amostras de DNA.
A equipe já havia identificado cerca de oito corpos, disse ele. “Mas dezenas de famílias estão chegando e os números não coincidem.”
Alguns corpos vieram da notória prisão de Sednaya, ainda vestidos com uniformes de prisioneiros, disse Qasser.
Seu colega, Dr. Abdallah Youssef, disse que identificar todos eles levaria tempo.
“Entendemos o sofrimento das famílias, mas trabalhamos sob imensa pressão. Os corpos foram encontrados em salas de sal, expostos ao frio extremo”, disse ele.
Os funcionários do necrotério que examinaram os cadáveres viram ferimentos de bala e marcas que pareciam ser resultado de tortura, acrescentou.
Estima-se que 150 mil pessoas tenham sido presas ou dadas como desaparecidas na Síria desde 2011, quando protestos pacíficos antigovernamentais se transformaram em guerra. Sob o governo de al-Assad, qualquer sinal de dissidência poderia mandar alguém para a prisão imediatamente. Durante anos, foi uma sentença semelhante à morte, já que poucos saíram do sistema.
Citando testemunhos de prisioneiros libertados e de funcionários penitenciários, a Amnistia Internacional informou que milhares de sírios foram mortos em frequentes execuções em massa.
Os prisioneiros foram submetidos a constantes torturas, espancamentos intensos e estupros. Os presos freqüentemente morriam devido a ferimentos, doenças ou fome. Alguns entraram em psicose e passaram fome, disse o grupo de direitos humanos.
Entre os corpos na morgue na quarta-feira estava Mazen al-Hamada, um ativista sírio que fugiu para a Europa, mas regressou à Síria em 2020 e foi preso à chegada. Seu cadáver mutilado foi encontrado envolto em um lençol ensanguentado em Sednaya.
Hilala Meryeh, uma palestina de 64 anos e mãe de quatro filhos, estava na sombria sala de identificação, com sacos de corpos ao seu redor. Ela tinha acabado de encontrar um de seus filhos.
Os seus quatro filhos foram presos pelo antigo regime sírio em 2013, durante uma repressão no campo de refugiados palestinianos de Yarmouk. Ela ainda precisava encontrar três.
“Não sei onde eles estão”, disse ela. “Dê-me meus filhos, procure meus filhos!”
Outros sírios, como Imad Habbal, permaneceram imóveis na morgue, enfrentando a realidade e a injustiça da sua perda.
Habbal olhou para o corpo de seu irmão, Diaa Habbal.
“Viemos ontem e o encontramos morto”, disse ele. “Eles o mataram. Por que? Qual foi o crime dele? O que ele fez com eles? Só porque ele voltou para seu país?”
Diaa Habbal, um sírio que vivia na Arábia Saudita desde 2003, regressou a Damasco em meados de 2024 para visitar a sua família, disse o seu irmão. Ele foi preso pela polícia militar síria há seis meses sob a acusação de evasão ao serviço militar.
Com as mãos trêmulas, Imad Habbal levantou a cobertura, com a voz embargada enquanto chorava e falava com o irmão.
“Eu disse para você não vir”, disse ele. “Eu gostaria que você não viesse.”
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