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Os dez dias que abalaram o mundo de Lula

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Os dez dias que abalaram o mundo de Lula

Thomas Traumann

A demissão de Carlos Lupi do Ministério da Previdência depois de dez longos dias da divulgação da Polícia Federal e da Controladoria Geral da União de uma fraude que desviou dinheiro de mais de 4 milhões de aposentados revela uma perigosa falta de sintonia do governo Lula com a realidade.

Dono do PDT, Lupi é parceiro eleitoral de Lula há décadas. Ao ser demitido, ele indicou como novo ministro o ex-deputado Wolney Queiroz, que era o secretário-executivo do ministério. A indicação do número 2 do ministério não irá estancar a crise.

Por dias, o presidente Lula da Silva considerou que um partido pequeno como o PDT era mais importante do que responder aos milhões de lesados, achou que poderia resolver o escândalo sem mexer no ministro Lupi e mostrou mais uma vez a sua dificuldade em tomar decisões rápidas. A demissão de Lupi no final da sexta-feira (2) veio tarde e incompleta: o governo ainda não apresentou um plano de como ressarcir os aposentados e pensionistas lesados.

Ao titubear sobre a saída de Lupi, o presidente protegeu um ministro suspeito de um dos mais graves escândalos dos últimos anos. Este é um caso de corrupção mais tóxico do que os usuais, pois as vítimas são pessoas pobres, com nome e endereço, algumas delas deficientes e analfabetas, não o etéreo caixa do governo atacado por políticos e empresários. O potencial de estrago desse escândalo é suficiente para acabar com a recuperação do governo nas pesquisas.

A conexão entre vítimas e corruptos é direta. É chocante o contraste entre as histórias de pessoas que recebiam R$ 1.412 mensais e eram tungadas em R$ 79, com imagens de Ferraris, Porsches e até de um Rolls Royce comprados por espertalhões com dinheiro roubado. É um roteiro pronto para vídeos destruidores em campanha eleitoral.

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Outra característica do caso é que empresários tiveram a ajuda de gente do governo para roubar pobres. Um dos envolvidos na fraude é o procurador do INSS Virgilio Antônio Ribeiro de Oliveira, colocado no cargo por Lupi. Segundo a polícia, ele recebeu cerca de R$ 11 milhões do esquema. Virgílio e o empresário Danilo Bernt Trento tinham até a ajuda de um policial federal, Philipe Roters, para circular pelo aeroporto de Congonhas em viaturas oficiais. Roters foi pego com US$ 200 mil em dinheiro vivo.

O maior dos operadores do esquema, Antônio Carlos Camilo Antunes, o ‘Careca do INSS’, movimentou R$ 53 milhões. Em Brasília ninguém movimenta tanto dinheiro assim sem deixar parte do lucro com outros envolvidos.

O extenso material da investigação tem conteúdo para dias de cobertura jornalística. A CGU descobriu que, além da facilidade em obter licença do INSS, as entidades conseguiam cadastrar até 1.500 pessoas por hora em suas bases e ter acesso aos seus salários.

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A colunista de O Globo Malu Gaspar mostrou que entidades que buscavam o caminho para entrar no esquema foram instruídas a procurar um advogado indicado por Marcelo Panella, chefe de gabinete do ministro Lupi, e contratar uma consultoria indicada por ele. Todo mundo em Brasília sabe que Lupi e Panella são gêmeos siameses. Assessor do ministro há anos, Panella causou a queda do chefe do Ministério do Trabalho em 2011, ao ser acusado de cobrar propina de ONGs que mantinham convênios com o governo.

A oposição conseguiu assinaturas necessárias para abrir uma CPI e Lula está nas mãos do presidente Hugo Motta para adiar a investigação. Motta pode segurar, mas não necessariamente tem força para impedir a instalação se a CPI se tornar mista, incluindo deputados e senadores.

Quando a PF e a CGU apresentaram as suas investigações no dia 23, o discurso oficial era que a fraude havia começado no governo Bolsonaro e desmantelada no atual governo. Só que essa verdade se perdeu, primeiro, com os esforços de Lupi em defender a diretoria suspeita de corrupção que ele nomeou para o INSS e, depois, pela operação do Palácio do Planalto de proteção ao ministro.

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Por que Lula demorou tanto? Porque a fragilidade do governo no Congresso é tamanha que até perder o apoio dos 17 deputados do PDT seria um desastre. Mas os 17 deputados valem chafurdar a imagem do governo num roubo de velhinhas e velhinhas? É óbvio que não, e o presidente Lula nos dois primeiros mandatos nunca teria dúvidas sobre a urgência na substituição. O Lula 3, no entanto, decide lentamente. Assim como demorou meses para tirar o deputado Juscelino Filho do Ministério das Comunicações, Lula tenta abafar cada crise adiando a sua opinião, até o momento em que a falta de decisão seja a posição oficial do governo.

Em novembro, por exemplo, depois da derrota da esquerda nas eleições municipais, vários assessores levaram ao presidente a necessidade de uma reforma ministerial para recompor a base no Congresso. Passados seis meses, Lula só mexeu com ministros do PT e a reforma perdeu sentido.

O caso de Lupi sugere que essa lentidão é o novo normal de Lula. É óbvio que a cautela é uma qualidade preciosa em tempos de líderes peripatéticos como Donald Trump, mas é um risco quando indica desconexão com as obrigações do cargo.



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CPMI do INSS deve causar estrago ainda maior ao go…

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CPMI do INSS deve causar estrago ainda maior ao go...

Marcela Rahal

Como se não bastasse a ideia de uma CPI na Câmara, ainda a depender do aval do presidente Hugo Motta (o que parece que não deve acontecer), o governo pode enfrentar uma investigação para apurar os desvios bilionários do INSS nas duas Casas.

Já são 211 assinaturas de parlamentares a favor da CPMI, 182 deputados e 29 senadores, o suficiente para o início dos trabalhos. A deputada Coronel Fernanda, autora do pedido na Câmara, vai protocolar o requerimento nesta terça-feira, 6. Caberá ao presidente do Congresso, Davi Alcolumbre, convocar o plenário para a leitura da proposta e, consequentemente, a criação da Comissão.

Segundo a parlamentar, que convocou uma entrevista coletiva para amanhã às 14h30, agora o processo deve andar. O governo ficará muito mais exposto com um escândalo que tem tudo para ficar cada vez maior, segundo as investigações ainda em andamento.

O desgaste será inevitável. O apelo do caso é forte e de fácil entendimento para a população. O assalto bilionário aos aposentados e pensionistas do INSS.



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Com fortes dores, Antonio Rueda passará por cirurg…

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Com fortes dores, Antonio Rueda passará por cirurg...

Ludmilla de Lima

Presidente da Federação União Progressista, Antonio Rueda passará por uma cirurgia nesta segunda-feira, 05, devido a um cálculo renal. Por causa de fortes dores, o procedimento, que estava marcado para amanhã, terá que ser antecipado. Antes do anúncio da federação, na terça da semana passada, ele já havia sido operado por causa do problema, colocando um cateter.

Do União Brasil, Rueda divide a presidência da federação com Ciro Nogueira, do PP. Os dois partidos juntos agora têm a maior bancada do Congresso, com 109 deputados e 14 senadores. O PP defendia que o ex-presidente da Câmara Arthur Lira ficasse no comando do bloco, mas o União insistia no nome de Rueda. A solução foi estabelecer um sistema de copresidentes, que funcionará ao menos até o fim deste ano. 

A “superfederação” ultrapassa o PL na Câmara – o partido de Jair Bolsonaro tem 92 deputados – e se iguala ao PSD e ao PL no Senado. O poder do grupo, que seguirá unido nos próximos quatro anos, também é medido pelo fundo partidário, de R$ 954 milhões.

A intensificação das agendas políticas nos últimos dias agravou o quadro de saúde de Rueda, que precisou também cancelar uma viagem ao Rio.



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Os dois bolsonaristas unidos contra Moraes para pu…

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Os dois bolsonaristas unidos contra Moraes para pu...

Matheus Leitão

A mais nova dobradinha contra Alexandre de Moraes tem gerado frisson nas redes bolsonaristas, mas parece mesmo uma novela de mau gosto. Protagonizada por Eduardo Bolsonaro, o filho Zero Três licenciado da Câmara, e Paulo Figueiredo, neto do último general ditador do Brasil, os dois se uniram para tentar punir o ministro do Supremo Tribunal Federal nos EUA.

Em uma insistente tentativa de se portarem com alguma relevância perante o governo Donald Trump, os dois agora somam posts misteriosos de Eduardo com promessas vazias de Figueiredo após uma viagem por alguns dias a Washington.

Um aparece mostrando, por exemplo, a lateral da Casa Branca em um ângulo no qual parece, pelo menos nas redes sociais, a parte interna da residência oficial do presidente dos Estados Unidos. O outro promete que as sanções ao ministro do STF estão 70% construídas e pede mais “72 horas” aos seus seguidores.

“Aliás, hoje aqui de manhã, eu tive um [inaudível] com eles, no caso o Departamento de Estado especificamente, e o termo que usaram para mim foi: olha, nós não queremos criar excesso de expectativa, mas nós estamos muito otimistas que algo vai acontecer e a gente vai poder fazer num curto prazo”, disse Paulo Figueiredo.

A ideia dos dois é que, primeiro, Alexandre de Moraes, tenha seu visto cancelado e não possa mais entrar nos Estados Unidos. Depois, que ele tenha algumas sanções econômicas, caso tenha bens nos Estados Unidos, como o bloqueio financeiro a instituições do país, como empresas de cartão de crédito.

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“O que eu posso dizer para você é que a gente nunca esteve tão perto. Eu não posso dizer quando e nem garantir que vão acontecer”, prometeu ainda Paulo Figueiredo. A novela ainda vai ganhar novos ares nesta semana com a chegada de David Gamble, coordenador para Sanções do governo de Trump, ao Brasil nesta semana. 

A seguir as cenas dos próximos capítulos…



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