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Os frutos das raízes do Brasil – 15/12/2024 – Opinião

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José Luiz Portella

Colhendo o que plantamos. Um dos objetivos de estudar a história é poder compreender o presente. Fruto das relações políticas, econômicas e sociais efetuadas no passado.

A polarização reducionista, pobre de insumos; a violência no trato das interações sociais; a forma superficial e infértil na implementação das políticas públicas; o procedimento imediatista e “espetaculoso” no anúncio das soluções; a ansiedade por estar na “foto de largada” e o descompromisso com a linha de chegada estão todos contemplados em linhas mestras, na exegese do povo brasileiro (“Raízes do Brasil”, clássico de Sérgio Buarque de Holanda).

Às considerações do criador de “O Homem Cordial” junta-se o patrimonialismo (Raymundo Faoro) da nossa elite, e temos as fundações do estado da arte dos dias atuais. Não era para causar surpresa, mas sim vergonha.

Charles Darwin passou pelo Brasil. Indignou-se com a postura de uma elite que esmagava os dedos dos escravos e, depois, caminhava candidamente para a missa, em busca da graça divina.

A culpa não é só da elite. Ela responde pela parte maior. Mas não conseguiria o prodígio de tanta desigualdade, agressividade, bestialidade mesmo, e tanta hipocrisia, se não houvesse a participação de quase toda a sociedade.

A culpa é do Bolsonaro, do Lula, das torcidas do Flamengo, do Corinthians, das outras e dos sem clube. De todos nós.

A exceção seria a extrema pobreza, que na luta pela sobrevivência não logra participação. Retirando os miseráveis que fabricamos, ninguém escapa.

Não haveria Pablo Marçal se o sistema não fosse tão injusto e pungente. Ele lacra porque contesta o sistema. Ocorre que os que o repelem alimentam o status quo. Ele é o meio, não a mensagem.

O Brasil é o país que mais renega o imperativo categórico de Immanuel Kant: “As pessoas deveriam agir conforme aquilo que gostariam de ver como lei universal”. Agir de maneira que gostariam que todos agissem. Pilhéria.

Sérgio Buarque alertou.

Por trás do nosso informalismo, da aversão aos ritos e às liturgias, do carinho com o “inho”, que transforma santos e santas em nossos íntimos, há uma violência pavimentada pela incapacidade de realizar as mediações. O brasileiro não confia na justiça. No prazo e no mérito. Sem mediação, restam as “vias de fato”.

Mentira que a sociedade deseja a discussão de propostas nos debates eleitorais. Nem sequer ela as lê, mesmo no seu estamento mais politizado. Programas de governo, via “jeitinho” brasileiro aplicado ao marketing, são peças de ilusão.

Tanto quanto os portugueses não enxergaram o Brasil como uma terra edênica, uma visão do paraíso, nós, brasileiros oriundos dos “mazombos”, filhos de portugueses nascidos no país, também não. Demos seguimento à exploração predatória e irresponsável da nossa riqueza natural e à aplicação dos benefícios em projetos de interesse personalistas imediatos.

A “procissão dos milagres” continua nos orçamentos secretos, no perdão aos ilícitos dos partidos políticos, nos dribles dados no arcabouço fiscal por quem o instituiu. Com a aversão de todos —todos que, podendo, cometem o que repelem.

O tráfico de escravos foi estancado pela Inglaterra; por nós, continuaria a forma de burlar as autoridades, desbragadamente, com a anuência geral.

A leniência da Justiça com os criminosos, que deploramos, vem de longe. Vem da lei aplicada apenas aos inimigos, da “lei, ora a lei” há tanto em curso. Não é produto de um ministro, de um juiz, é uma herança atávica, bem urdida e cultivada pela grande maioria quando ela se beneficia. Terra dos “coitadinhos”, da “culpa é do outro”, somos “seres injustiçados que merecemos privilégios compensatórios”.

Isso está exposto em políticas como aceitar o regime do Simples para empresários que faturam até R$ 400 mil por mês. Nos R$ 543 bilhões de desonerações sem contrapartidas e para grupos ou pessoas que não necessitam. A culpa não é só do Estado, é dos empresários que entram na fila dos “milagres” dos benefícios, sem pensar nos outros. Como nossos empreendedores dos tempos de colônia que escondiam ouro com os índios e nas igrejas.

Os frutos das raízes do Brasil proporcionam a indigestão que estamos regurgitando, a êmese que nos amofina.

As raízes deram frutos.

TENDÊNCIAS / DEBATES

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.



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Nota da Andifes sobre os cortes no orçamento aprovado pelo Congresso Nacional para as Universidades Federais — Universidade Federal do Acre

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publicado:
23/12/2025 07h31,


última modificação:
23/12/2025 07h32

Confira a nota na integra no link: Nota Andifes



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Ufac entrega equipamentos ao Centro de Referência Paralímpico — Universidade Federal do Acre

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Ufac entrega equipamentos ao Centro de Referência Paralímpico — Universidade Federal do Acre

A Ufac, a Associação Paradesportiva Acreana (APA) e a Secretaria Extraordinária de Esporte e Lazer realizaram, nessa quarta-feira, 17, a entrega dos equipamentos de halterofilismo e musculação no Centro de Referência Paralímpico, localizado no bloco de Educação Física, campus-sede. A iniciativa fortalece as ações voltadas ao esporte paraolímpico e amplia as condições de treinamento e preparação dos atletas atendidos pelo centro, contribuindo para o desenvolvimento esportivo e a inclusão de pessoas com deficiência.

Os equipamentos foram adquiridos por meio de emenda parlamentar do deputado estadual Eduardo Ribeiro (PSD), em parceria com o Comitê Paralímpico Brasileiro, com o objetivo de fortalecer a preparação esportiva e garantir melhores condições de treino aos atletas do Centro de Referência Paralímpico da Ufac.

Durante a solenidade, a reitora da Ufac, Guida Aquino, destacou a importância da atuação conjunta entre as instituições. “Sozinho não fazemos nada, mas juntos somos mais fortes. É por isso que esse centro está dando certo.”

A presidente da APA, Rakel Thompson Abud, relembrou a trajetória de construção do projeto. “Estamos dentro da Ufac realizando esse trabalho há muitos anos e hoje vemos esse resultado, que é o Centro de Referência Paralímpico.”

O coordenador do centro e do curso de Educação Física, Jader Bezerra, ressaltou o compromisso das instituições envolvidas. “Este momento é de agradecimento. Tudo o que fizemos é em prol dessa comunidade. Agradeço a todas as instituições envolvidas e reforço que estaremos sempre aqui para receber os atletas com a melhor estrutura possível.”

O atleta paralímpico Mazinho Silva, representando os demais atletas, agradeceu o apoio recebido. “Hoje é um momento de gratidão a todos os envolvidos. Precisamos avançar cada vez mais e somos muito gratos por tudo o que está sendo feito.”

A vice-governadora do Estado do Acre, Mailza Assis da Silva, também destacou o trabalho desenvolvido no centro e o talento dos atletas. “Estou reconhecendo o excelente trabalho de toda a equipe, mas, acima de tudo, o talento de cada um de nossos atletas.”

Já o assessor do deputado estadual Eduardo Ribeiro, Jeferson Barroso, enfatizou a finalidade social da emenda. “O deputado Eduardo fica muito feliz em ver que o recurso está sendo bem gerenciado, garantindo direitos, igualdade e representatividade.”

Também compuseram o dispositivo de honra a pró-reitora de Inovação, Almecina Balbino, e um dos coordenadores do Centro de Referência Paralímpico, Antônio Clodoaldo Melo de Castro.

(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)



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Orquestra de Câmara da Ufac apresenta-se no campus-sede — Universidade Federal do Acre

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Orquestra de Câmara da Ufac apresenta-se no campus-sede — Universidade Federal do Acre

A Orquestra de Câmara da Ufac realizou, nesta quarta-feira, 17, uma apresentação musical no auditório do E-Amazônia, no campus-sede. Sob a coordenação e regência do professor Romualdo Medeiros, o concerto integrou a programação cultural da instituição e evidenciou a importância da música instrumental na formação artística, cultural e acadêmica da comunidade universitária.

 

A reitora Guida Aquino ressaltou a relevância da iniciativa. “Fico encantada. A cultura e a arte são fundamentais para a nossa universidade.” Durante o evento, o pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, destacou o papel social da arte. “Sem arte, sem cultura e sem música, a sociedade sofre mais. A arte, a cultura e a música são direitos humanos.” 

Também compôs o dispositivo de honra a professora Lya Januária Vasconcelos.

(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)

 



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