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Sim, o sistema de honras tem os seus problemas. Mas, como escritor gay, é por isso que estou aceitando um MBE | Matt Caim

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Matt Cain

EU estou emocionado porque, na lista de honras do ano novo, estou sendo nomeado MBE. Sei que algumas pessoas desaprovam o sistema de honras e outras ficarão indignadas por eu estar a aceitar um prémio em nome do Império Britânico. Mas saúdo as oportunidades que espero que o prêmio traga.

Estou sendo homenageado como escritor e locutor pelos serviços prestados à cultura LGBTQ+, mas quando eu era criança, na década de 1980, quase não havia cultura queer, e o que tínhamos era praticamente underground e indiscutível. Quando os gays apareciam na mídia, éramos demonizados como predadores sexuais perigosos e portadores de Aids, em quem não se podia confiar perto de crianças. Na escola sofri um terrível bullying homofóbico, e quando o governo Conservador introduziu seção 28quaisquer professores que quisessem me defender não eram legalmente permitidos. Então, quando chegou uma carta do Gabinete do Governo, informando que eu estava sendo recomendado pelo primeiro-ministro ao rei para um MBE, fiquei tão orgulhoso que comecei a chorar.

Isso acontece depois de décadas de trabalho duro e luta. Sim, tive reações positivas ao jornalismo que escrevi sobre questões gays, como o Medicamento para prevenção do HIV PrEPou minha missão secreta de relatar homofobia na Rússia. Mas quando apareci pela primeira vez como editor de cultura do Channel 4 News em 2010, algumas das respostas que experimentei foram selvagens. Os usuários do X comentaram que eu era “ridiculamente exagerado” ou “duplamente gay, até… ele mata meus ouvidos”, e no Sunday Times, o crítico AA Gill me comparou a outro homem notoriamente afeminado, declarando que eu era “para reportagens artísticas o que Wayne O sono era para dardos”.

Quando comecei a escrever romances, levei mais de 10 anos para publicá-los. Alguns editores destacaram o conteúdo gay do meu primeiro romance como problemático, um deles achando-o “um pouco explícito demais para ser confortável”. Outro teve problemas com a história sendo contada do ponto de vista de um personagem gay, pois isso “empurra o romance para esse nicho de mercado para mim”. Outro editor comentou que “este tipo de livro realmente precisa cair na arena da ficção literária, pense em Edmund White, em Alan Hollighurst (sic)” – a implicação é que leitores heterossexuais que fossem inteligentes e educados poderiam simpatizar com personagens gays, mas os leitores de ficção mais acessível não poderiam. Acabei tendo que recorrer à editora de crowdfunding Unbound para aumentar os custos básicos do lançamento de The Madonna of Bolton. Nós quebrou o recorde para financiar um romance em apenas sete dias.

Desde então, publiquei vários livros, mas ainda tive que lutar contra a homofobia. Até o meu romance mais vendido, A Vida Secreta de Albert Entwistle, foi rejeitado por vários editores, um dos quais sugeriu que eu apenas revelasse a sexualidade do meu personagem central “no final” – algo bastante considerando que a história é sobre um homem gay enrustido em busca de o amor há muito perdido de sua vida. A mesma editora também comentou que não queria que eu fosse “tão explícito nas questões mais amplas de LGTB (sic)”.

On-line, recentemente recebi comentários me chamando de “aberração certificada”, “abominação ao Senhor seu Deus” e “tratador de crianças”. Mas a homofobia nem sempre é tão explícita. Dentro da indústria editorial, ainda tenho que lutar contra a ideia de que os temas gays precisam de higienização para as leitoras heterossexuais, que elas querem uma versão “saudável” e castrada da experiência queer. Mas acredito que eles querem uma experiência autêntica, por mais ousada que seja. Vejo minhas leitoras heterossexuais como as meninas que me defenderam no recreio da escola, as mulheres fortes que sentem uma afinidade com os homens gays porque também eles foram desrespeitados pela sua sexualidade.

É por isso que penso que esta homenagem envia uma mensagem poderosa e é importante que a aceite. Espero que isso signifique que meu trabalho e o de outros autores gays obtenham mais reconhecimento nos principais festivais literários, ou que eu veja mais livros desse tipo estocados em quantidades decentes pelos varejistas de luxo. Também espero que isso signifique que os escritores queer mais jovens não terão tanta dificuldade em avançar. Um MBE carrega um peso sério, um peso que só pode ser útil para escritores gays como eu, desrespeitados como camp e leves.

Mas nada disto acontecerá se o sistema de honras continuar a ser questionado por políticos como Boris Johnson, que tem sido criticado por entrega de prêmios para assessores e irmãos. Isto deixa-me irritado, pois mina o poder das honras, a maior plataforma que podem dar a pessoas como eu para continuarem a pressionar pela mudança.

E sim, estou ciente de que o império britânico exportou muitas das leis homofóbicas que ainda existem na maioria dos países da Commonwealth. Mas acredito que aceitar honras abre uma oportunidade – e uma responsabilidade – para educar mais pessoas sobre os erros e ultrajes do passado. E é uma plataforma para apelar ao governo do Reino Unido para que faça mais para combater a legislação homofóbica, trabalhando com grupos de activistas locais no terreno e oferecendo-lhes financiamento e conhecimentos para que possam fazer campanha por mudanças legislativas.

Mas tudo isso está no futuro. Por enquanto, enxuguei minhas lágrimas e me sinto feliz, validado e apreciado. E esta noite estarei comemorando com a bebida mais campestre que puder encontrar.

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Ufac recepciona estudantes de licenciaturas que farão o Enade — Universidade Federal do Acre

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Ufac recepciona estudantes de licenciaturas que farão o Enade — Universidade Federal do Acre

A Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) da Ufac realizou, nesta sexta-feira, 24, no Teatro Universitário, a recepção aos alunos concluintes dos cursos de licenciatura que participarão do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), neste domingo, 26.
O evento teve como objetivo acolher e motivar os estudantes para a realização da prova, que tem grande importância para a formação docente e para a avaliação dos cursos de graduação. Ao todo, 530 alunos participarão do Enade Licenciaturas este ano, sendo 397 em Rio Branco e 133 em Cruzeiro do Sul.
Participam do Enade Licenciaturas os concluintes dos cursos de Física, Física EaD, Letras/Português, Letras/Inglês, História, Geografia, Ciências Biológicas, Química, Matemática, Matemática EaD, Pedagogia, Ciências Sociais, Filosofia e Educação Física.

O pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, que representou a reitora Guida Aquino, destacou o papel da universidade pública na formação docente e o compromisso social que acompanha o exercício do magistério. “A missão de quem se forma nesta instituição vai além do diploma. É defender a educação pública, a democracia e os direitos humanos. Vocês representam o que há de melhor na educação acreana e brasileira. Cada um de vocês é parte da história e da luta da Ufac.”

A pró-reitora de Graduação, Ednaceli Damasceno, ressaltou o caráter formativo do exame e o compromisso da universidade com a qualidade da educação. “O Enade é mais do que uma prova. Ele representa uma etapa importante da trajetória de cada estudante que trilhou sua formação nesta universidade. É um momento de reflexão sobre o aprendizado, o esforço e o legado que cada um deixa para os próximos alunos.”
Ela reforçou que o desempenho dos estudantes é determinante para o conceito de cada curso e destacou a importância da participação responsável. “É fundamental que todos façam a prova com dedicação, levando o nome da Ufac com orgulho. Nós preparamos esse encontro para motivar, orientar, e entregar um kit com lanche, água, fruta e caneta, ajudando os alunos a se organizarem para o domingo.”
A pró-reitora lembrou ainda que a mesma ação está sendo realizada no campus Floresta, em Cruzeiro do Sul, com o apoio da equipe da Prograd e dos coordenadores locais. “Lá, os alunos estão distribuídos em três escolas, e nossa equipe vai acompanhá-los no dia da prova, garantindo o mesmo acolhimento e suporte.”

O evento contou com apresentação cultural da cantora Luzienne Lucena e do Grupo Vibe, do projeto Pró-Cultura Estudantil, formado pelos acadêmicos Gabriel Daniel (Sistemas de Informação), Geovanna Maria (Teatro) e Lucas Santos (Música).
Também participaram da solenidade a diretora de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Grace Gotelip; e os coordenadores de cursos de licenciatura: Francisca do Nascimento Pereira Filha (Pedagogia), Lucilene Almeida (Geografia) e Alcides Loureiro Santos (Química).

 



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Ufac promove ação de autocuidado para servidoras e terceirizadas — Universidade Federal do Acre

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Ufac promove ação de autocuidado para servidoras e terceirizadas — Universidade Federal do Acre

A Coordenadoria de Vigilância à Saúde do Servidor (CVSS) da Ufac realizou, nesta quinta-feira, 23, o evento “Cuidar de Si É um Ato de Amor”, em alusão à Campanha Outubro Rosa. A atividade ocorreu no Setor Médico Pericial e teve como público-alvo servidoras técnico-administrativas, docentes e trabalhadoras terceirizadas.

A ação buscou reforçar a importância do autocuidado e da atenção integral à saúde da mulher, indo além da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama e do colo do útero. O objetivo foi promover um momento de acolhimento e bem-estar, integrando ações de valorização e promoção da saúde no ambiente de trabalho.

“O mês de outubro não deve ser apenas um momento de lembrar dos exames preventivos, mas também de refletir sobre o cuidado com a saúde como um todo”, disse a coordenadora da CVSS, Priscila Oliveira de Miranda. Ela ressaltou que muitas mulheres acabam se sobrecarregando com as demandas da casa, da família e do trabalho e acabam deixando o autocuidado em segundo plano.

Priscila também explicou que a iniciativa buscou proporcionar um espaço de pausa e acolhimento no ambiente de trabalho. “Nem sempre é fácil parar para se cuidar ou ter acesso a ações de relaxamento e promoção da saúde. Por isso, organizamos esse momento para que as servidoras possam respirar e se dedicar a si mesmas.” 

O setor mantém atividades contínuas, como consultas com clínico-geral, nutricionista e fonoaudióloga, além de grupos de caminhada e ações voltadas à saúde mental. “Essas iniciativas estão sempre disponíveis. É importante que as mulheres participem e mantenham o compromisso com o próprio bem-estar”, completou.

A programação contou com acolhimento, roda de conversa mediada pela assistente social Kayla Monique, lanche compartilhado e o momento “Cuidando de Si”, com acupuntura, auriculoterapia, reflexologia podal, ventosaterapia e orientações de cuidados com a pele. A ação teve parceria da Liga Acadêmica de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde e da especialista em bem-estar Marciane Villeme.

 



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Ufac realiza abertura do Fórum Permanente da Graduação — Universidade Federal do Acre

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Ufac realiza abertura do Fórum Permanente da Graduação — Universidade Federal do Acre

A Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) da Ufac realizou, nesta terça-feira, 21, no anfiteatro Garibaldi Brasil, campus-sede, a abertura do Fórum Permanente da Graduação. O evento visa promover a reflexão e o diálogo sobre políticas e diretrizes que fortalecem o ensino de graduação na instituição.

Com o tema “O Compromisso Social da Universidade Pública: Desafios, Práticas e Perspectivas Transformadoras”, a programação reúne conferências, mesas temáticas e fóruns de discussão. A abertura contou com apresentação cultural do Trio Caribe, formado pelos músicos James, Nilton e Eullis, em parceria com a Fundação de Cultura Elias Mansour.
O pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, representou a reitora Guida Aquino. Ele destacou o papel da universidade pública diante dos desafios orçamentários e institucionais. “Em 2025, conseguimos destinar R$ 10 milhões de emendas parlamentares para custeio, algo inédito em 61 anos de história.”

Para ele, a curricularização da extensão representa uma oportunidade de aproximar a formação acadêmica das demandas sociais. “A universidade pública tem potencial para ser uma plataforma de políticas públicas”, disse. “Precisamos formar jovens críticos, conscientes do território e dos problemas que enfrentamos.”
A pró-reitora de Graduação, Ednaceli Damasceno, ressaltou que o fórum reúne coordenadores e docentes dos cursos de bacharelado e licenciatura, incluindo representantes do campus de Cruzeiro do Sul. “O encontro trata de temáticas comuns aos cursos, como estágio supervisionado e curricularização da extensão. Queremos sair daqui com propostas de reformulação dos projetos de curso, alinhando a formação às expectativas e realidades dos nossos alunos.”
A conferência de abertura foi ministrada pelo professor Diêgo Madureira de Oliveira, da Universidade de Brasília, que abordou os desafios e as transformações da formação universitária diante das novas demandas sociais. Ao final do fórum, será elaborada uma carta de encaminhamentos à Prograd, que servirá de base para o planejamento acadêmico de 2026.
Também participaram da solenidade de abertura a diretora de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Grace Gotelip; o diretor do CCSD, Carlos Frank Viga Ramos; e o vice-diretor do CMulti, do campus Floresta, Tiago Jorge.



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