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Uma cigarra: ‘O que as cigarras deixam é uma espécie de memória cristalizada’ | Helen Sullivan

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6 meses atrásem
Helen Sullivan
ÓDe todas as palavras em línguas para cigarra, a do croata pode ser a melhor: cvrčak, pronunciado: tvr-chak. O som que faz é tvr-chi tvr-chi. Tenho um amigo croata que me ensinou parte a poem – Cigarra – quando estávamos no ensino médio. É de Vladimir Nazor, que foi o primeiro chefe de estado da Croácia. A primeira estrofe inclui a frase satisfatoriamente baixa em vogais e onomatopeica: “cvrči, cvrči cvrčak” (pronuncia-se “tvrchi, tvrchi tvrchak”) – que se traduz como “chirp, chirp cigarra”.
E o grilo canta, canta no nó do abeto negro
Seu troqueu ensurdecedor, seu iâmbico sonoro e pesado…
É meio-dia. – Como a água, ela jorra em silêncio.
A solar dithyramb.
Meu amigo e eu fomos juntos para a ilha croata de Hvar quando éramos adolescentes; tomamos café com leite pela manhã, fumamos cigarros, jogamos cartas sedmice e andamos de bicicleta por entre abetos que vibravam com o som até praias rochosas abaixo de penhascos arborizados e cheios de cigarras. Quanto mais você ouve o som deles, mais eles parecem sincronizados.
As cigarras vivas são grandes, com olhos arregalados, às vezes de um vermelho brilhante. Seus rostos são estranhos, assustadores e desajeitados. Mas suas asas são lindas: grandes, finas e transparentes, com veios como o veio – o metal entre pedaços de vitral. Suas asas parecem ter sido presas de cabeça para baixo.
As cigarras fazem seu som afivelando e desafivelando um conjunto de membranas chamadas tímbalos: uma pequena mancha branca atrás das asas. Parte do corpo é oca, o que amplifica o som. Eles usam suas asas para direcioná-lo.
(Eles bebem seiva e mijar mais rápido do que qualquer animal que conhecemos: ele viaja 3 metros por segundo e sim, é a coisa molhada que atinge você das árvores acima.)
UM trilhão de cigarras surgiu na América este ano, de duas ninhadas diferentes: eles sairão juntos em 221 anos. São do tipo que surge a cada 13 ou 17 anos. (A turma de 17 anos é chamada, magicamente, de “magicicada”). A maioria das espécies, entretanto, emerge todos os anos, acasala, põe seus ovos na casca das árvores e morre. Os ovos eclodem, as larvas caem no chão e se enterram e, um ano depois, emergem, mudam, acasalam e assim por diante.
Eles deixam suas peles, ou exoesqueletos, agarrados à árvore, sem asas. Fico assustado com o contorno de suas pernas espinhosas em forma de garras e impressionado com o corte perfeito na parte superior, como se tivesse sido feito por um entomologista. A parte que se divide deve ser incorporada ao seu design.
No poema de Martin Walls Cigarras no final do verãoele descreve sua pele vazia:
O que as cigarras deixam é uma espécie de memória cristalizada;
O detalhe teimoso da forma em torno de uma vida transformadaA cor das coisas esquecidas: um caldo frio de chá e leite
no fundo de uma caneca.
Ou pele em uma lata velha de verniz que você tem que levantar
alicate de atacante.
Um papel mosca que ficou pendurado por trinta anos na despensa de Bird Cooper
em Brighton.
Minha amiga e eu nos conhecemos na segunda semana do ensino médio, quando ambas nos sentamos na cadeira mais próxima de um conjunto limitado, e ela comentou que devíamos ser as meninas mais preguiçosas da classe. (Foi amor à primeira vista.) Mais tarde, tivemos que escolher um clube depois da escola – você poderia aprender uma habilidade como fazer arranjos de flores, assar ou cozinhar. Todas habilidades domésticas e de esposa que esperávamos nunca ter muito uso. Então escolhemos aquele que tinha mais probabilidade de nos deixar sentar e conversar por uma hora. A primeira tarefa foi bastante simples: tricotar um quadrado.
Recentemente ela me enviou uma fotografia: “encontrei o que só podem ser nossos quadrados da hora do artesanato”. São uma espécie de memória cristalizada, mas a cor está mais viva do que nunca: verde horrível, rosa e roxo. Eles não são de forma alguma quadrados ou qualquer outra forma identificável: estávamos muito ocupados conversando para nos concentrarmos nos pontos, eles são a casca daquelas conversas brilhantes, idiotas e gloriosas, rastejadas de algum lugar em nossas memórias. Agora posso nos ver lá de cima: um grupo de meninas sentadas em um gramado, fazendo um barulho tão alto quanto cigarras.
Helen Sullivan é jornalista do Guardian. Ela está escrevendo um livro para a Scribner Australia
Você tem algum animal, inseto ou outro assunto que gostaria de ver retratado por este colunista? E-mail helen.sullivan@theguardian.com
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MUNDO
Mulher alimenta pássaros livres na janela do apartamento e tem o melhor bom dia, diariamente; vídeo

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4 semanas atrásem
26 de maio de 2025
Todos os dias de manhã, essa mulher começa a rotina com uma cena emocionante: alimenta vários pássaros livres que chegam à janela do apartamento dela, bem na hora do café. Ela gravou as imagens e o vídeo é tão incrível que já acumula mais de 1 milhão de visualizações.
Cecilia Monteiro, de São Paulo, tem o mesmo ritual. Entre alpiste e frutas coloridas, ela conversa com as aves e dá até nomes para elas.
Nas imagens, ela aparece espalhando delicadamente comida para os pássaros, que chegam aos poucos e transformam a janela num pedacinho de floresta urbana. “Bom dia. Chegaram cedinho hoje, hein?”, brinca Cecilia, enquanto as aves fazem a festa com o banquete.
Amor e semente
Todos os dias Cecilia acorda e vai direto preparar a comida das aves livres.
Ela oferece porções de alpiste e frutas frescas e arruma tudo na borda da janela para os pequenos visitantes.
E faz isso com tanto amor e carinho que a gratidão da natureza é visível.
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Cantos de agradecimento
E a recompensa vem em forma de asas e cantos.
Maritacas, sabiás, rolinha e até uma pomba muito ousada resolveu participar da festa.
O ambiente se transforma com todas as aves cantando e se deliciando.
Vai dizer que essa não é a melhor forma de começar o dia?
Liberdade e confiança
O que mais chama a atenção é a relação de respeito entre a mulher e as aves.
Nada de gaiolas ou cercados. Os pássaros vêm porque querem. E voltam porque confiam nela.
“Podem vir, podem vir”, diz ela na legenda do vídeo.
Internautas apaixonados
O vídeo se tornou viral e emocionou milhares de pessoas nas redes sociais.
Os comentários vão de elogios carinhosos a relatos de seguidores que se sentiram inspirados a fazer o mesmo.
“O nome disso é riqueza! De alma, de vida, de generosidade!”, disse um.
“Pra mim quem conquista os animais assim é gente de coração puro, que benção, moça”, compartilhou um segundo.
Olha que fofura essa janela movimentada, cheia de aves:
Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Põe comida para os pássaros livres na janela do apartamento dela em SP. – Foto: @cecidasaves/TikTok
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Cavalos ajudam dependentes químicos a se reconectar com a vida, emprego e família

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4 semanas atrásem
26 de maio de 2025
O poder sensorial dos cavalos e de conexão com seres humanos é incrível. Tanto que estão ajudando dependentes químicos a se reconectar com a família, a vida e trabalho nos Estados Unidos. Até agora, mais de 110 homens passaram com sucesso pelo programa.
No Stable Recovery, em Kentucky, os cavalos imensos parecem intimidantes, mas eles estão ali para ajudar. O projeto ousado, criado por Frank Taylor, coloca os homens em contato direto com os equinos para desenvolverem um senso de responsabilidade e cuidado.
“Eu estava simplesmente destruído. Eu só queria algo diferente, e no dia em que entrei neste estábulo e comecei a trabalhar com os cavalos, senti que eles estavam curando minha alma”, contou Jaron Kohari, um dos pacientes.
Ideia improvável
Os pacientes chegam ali perdidos, mas saem com emprego, dignidade e, muitas vezes, de volta ao convívio com aqueles que amam.
“Você é meio egoísta e esses cavalos exigem sua atenção 24 horas por dia, 7 dias por semana, então isso te ensina a amar algo e cuidar dele novamente”, disse Jaron Kohari, ex-mineiro de 36 anos, em entrevista à AP News.
O programa nasceu da cabeça de Frank, criador de cavalos puro-sangue e dono de uma fazenda tradicional na indústria de corridas. Ele, que já foi dependente em álcool, sabe muito bem como é preciso dar uma chance para aqueles que estão em situação de vulnerabilidade.
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A ideia
Mas antes de colocar a iniciativa em prática, precisou convencer os irmãos a deixar ex-viciados lidarem com animais avaliados em milhões de dólares.“Frank, achamos que você é louco”, disse a família dele.
Mesmo assim, ele não desistiu e conseguiu a autorização para tentar por 90 dias. Se algo desse errado, o programa seria encerrado imediatamente.
E o melhor aconteceu.
A recuperação
Na Stable Recovery, os participantes acordam às 4h30, participam de reuniões dos Alcoólicos Anônimos e trabalham o dia inteiro cuidando dos cavalos.
Eles escovam, alimentam, limpam baias, levam aos pastos e acompanham as visitas de veterinários aos animais.
À noite, cozinham em esquema revezamento e vão dormir às 21h.
Todo o programa dura um ano, e isso permite que os participantes se tornem amigos, criem laços e fortaleçam a autoestima.
“Em poucos dias, estando em um estábulo perto de um cavalo, ele está sorrindo, rindo e interagindo com seus colegas. Um cara que literalmente não conseguia levantar a cabeça e olhar nos olhos já está se saindo melhor”, disse Frank.
Cavalos que curam
Os cavalos funcionam como espelhos dos tratadores. Se o homem está tenso, o cavalo sente. Se está calmo, ele vai retribuir.
Frank, o dono, chegou a investir mais de US$ 800 mil para dar suporte aos pacientes.
Ao olhar tantas vidas que ele já ajudou a transformar, ele diz que não se arrepende de nada.
“Perdemos cerca de metade do nosso dinheiro, mas apesar disso, todos aqueles caras permaneceram sóbrios.”
A gente aqui ama cavalos. E você?
A rotina com os animais é puxada, mas a recompensa é enorme. – Foto: AP News
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Resgatado brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia após seguir sugestão do GPS

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4 semanas atrásem
26 de maio de 2025
Cuidado com as sugestões do GPS do seu carro. Este brasileiro, que ficou preso na neve na Patagônia, foi resgatado após horas no frio. Ele seguiu as orientações do navegador por satélite e o carro acabou atolado em uma duna de neve. Sem sinal de internet para pedir socorro, teve que caminhar durante horas no frio de -10º C, até que foi salvo pela polícia.
O progframador Thiago Araújo Crevelloni, de 38 anos, estava sozinho a caminho de El Calafate, no dia 17 de maio, quando tudo aconteceu. Ele chegou a pensar que não sairia vivo.
O resgate só ocorreu porque a anfitriã da pousada onde ele estava avisou aos policiais sobre o desaparecimento do Thiago. Aí começaram as buscas da polícia.
Da tranquilidade ao pesadelo
Thiago seguia viagem rumo a El Calafate, após passar por Mendoza, El Bolsón e Perito Moreno.
Cruzar a Patagônia de carro sempre foi um sonho para ele. Na manhã do ocorrido, nevava levemente, mas as estradas ainda estavam transitáveis.
A antiga Rota 40, por onde ele dirigia, é famosa pelas paisagens e pela solidão.
Segundo o programador, alguns caminhões passavam e havia máquinas limpando a neve.
Tudo parecia seguro, até que o GPS sugeriu o desvio que mudou tudo.
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Caminho errado
Thiago seguiu pela rota alternativa e, após 20 km, a neve ficou mais intensa e o vento dificultava a visibilidade.
“Até que, numa curva, o carro subiu em uma espécie de duna de neve que não dava para distinguir bem por causa do vento branco. Tudo era branco, não dava para ver o que era estrada e o que era acúmulo de neve. Fiquei completamente preso”, contou em entrevista ao G1.
Ele tentou desatolar o veículo com pedras e ferramentas, mas nada funcionava.
Caiu na neve
Sem ajuda por perto, exausto, encharcado e com muito frio, Thiago decidiu caminhar até a estrada principal.
Mesmo fraco, com fome e mal-estar, colocou uma mochila nas costas e saiu por volta das 17h.
Após mais de cinco horas de caminhada no escuro e com o corpo congelando, ele caiu na neve.
“Fiquei deitado alguns minutos, sozinho, tentando recuperar energia. Consegui me levantar e segui, mesmo sem saber quanta distância faltava.”
Luz no fim do túnel
Sem saber quanto tempo faltava para a estrada principal, Thiago se levantou e continuou a caminhada.
De repente, viu uma luz. No início, o programador achou que estava alucinando.
“Um pouco depois, ao olhar para trás em uma reta infinita, vi uma luz. Primeiro achei que estava vendo coisas, mas ela se aproximava. Era uma viatura da polícia com as luzes acesas. Naquele momento senti um alívio que não consigo descrever. Agitei os braços, liguei a lanterna do celular e eles me viram”, disse.
A gentileza dos policiais
Os policiais ofereceram água, comida e agasalhos.
“Falaram comigo com uma ternura que me emocionou profundamente. Me levaram ao hospital, depois para um hotel. Na manhã seguinte, com a ajuda de um guincho, consegui recuperar o carro”, agradeceu o brasileiro.
Apesar do susto, ele se recuperou e decidiu manter a viagem. Afinal, era o sonho dele!
Veja como foi resgatado o brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia:
Thiago caminhou por 5 horas no frio até ser encontrado. – Foto: Thiago Araújo Crevelloni
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