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A necessidade de soluções multilaterais – DW – 18/10/2024

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O aumento dos custos das importações de energia e de alimentos, a queda dos preços globais das matérias-primas, as guerras, mudanças climáticas e a má governação são alguns dos factores que agravaram o problema da dívida em muitas partes de África nos últimos anos.
Zâmbiaum país rico em recursos da África Austral, declarou insolvência durante a crise da COVID-19. Os elevados custos das importações de energia e alimentos, juntamente com as secasgrandes empréstimos estrangeiros, principalmente da China, e investimentos públicos sobrevalorizados levaram a uma enorme dívida nacional de 129% do produto interno bruto (PIB) em 2020.
A queda temporária dos preços globais do cobre, o principal produto de exportação da Zâmbia, e os custos da pandemia adicionaram ainda mais pressão às suas finanças em 2020.
Em Novembro de 2020, o país não cumpriu o pagamento dos juros. No início de 2021, a Zâmbia solicitou a reestruturação da dívida e desde então tem participado em vários programas de austeridade e ajuda iniciados pelos seus maiores países credores, incluindo algumas nações ocidentais e especialmente a China.
De forma similar, Gana enfrentou seus próprios desafios financeiros nos últimos anos.
A nação da África Ocidental suspendeu o pagamento da dívida em Dezembro de 2022 para evitar a falência e desde então tem estado a negociar com vários credores.
A dívida nacional do Gana situa-se atualmente em cerca de 45 mil milhões de dólares (41 mil milhões de euros). O acordo de alívio da dívida de 13 mil milhões de dólares que o governo do Gana negociou com os seus credores internacionais em Outubro de 2024 é o maior da história de África.
Países como o Chade, a Etiópia, o Malawi, o Quénia, Angola e Moçambique também estão em conversações com o Banco Mundialo Fundo Monetário Internacional (FMI) e outras instituições financeiras internacionais.
O FMI, largamente dominado pelos países ocidentais – especialmente a Europa Ocidental – fornece apoio financeiro aos países em crises económicas. No entanto, esta ajuda está normalmente associada a programas de ajustamento estrutural, que muitas vezes acarretam custos sociais elevados e enfrentam resistência por parte das populações locais. No passado, as reformas apoiadas pelo FMI levaram à agitação social e convulsões políticas em países como Quénia, Sudão e outros.
Procurando soluções envolvendo a China
“O problema da dívida em África necessita urgentemente de soluções multilaterais, apoiadas por Chinao maior credor do continente”, disse Eckhardt Bode, autor de um estudar publicado pelo Instituto Kiel para a Economia Mundial (IfW Kiel) em maio.
“Os países devedores africanos também devem ser integrados nas instituições financeiras internacionais e desempenhar um papel mais activo na procura de soluções.”
O estudo IfW Kiel compara sistematicamente as práticas de crédito da China com as de seis grandes países ocidentais – França, Alemanha, Itália, Espanha, Japão e EUA.
“Não há dúvida de que grandes medidas de alívio da dívida são necessárias agora, mas são complicadas pelas lutas de poder entre o Ocidente e a China”, disse Bode.
As posições da China e do Ocidente na arquitectura financeira internacional estão cada vez mais endurecidas. A chefe do FMI, Kristalina Georgieva, instou repetidamente Pequim a aderir às regras existentes. Estas regras foram criadas pelo FMI e pelo Banco Mundial – as principais instituições financeiras pós-Segunda Guerra Mundial – ambos fortemente influenciados pelo Ocidente.
O Banco Mundial tem sido liderado pelos EUA desde a sua fundação, e o FMI pela Europa. Os países do G7 e da UE detêm mais de metade dos direitos de voto, com base na sua participação no capital.
A China, por outro lado, quer reformar fundamentalmente os bancos multilaterais de desenvolvimento. Exige que o poder de tomada de decisão nestas instituições seja ajustado para reflectir a verdadeira força económica dos países.
Bode destacou que as motivações por trás dos empréstimos dos países ocidentais e da China são muito diferentes.
A sua investigação mostra que os países ocidentais tendem a emprestar a países africanos com poucos recursos e altamente endividados – enquanto os empréstimos da China a África são motivados mais pelos seus interesses económicos e políticos.
A China prefere emprestar a países ricos em recursos com menor risco de incumprimento e maior disponibilidade para reembolsar, especialmente para países que não reconhecem Taiwan.
Estes interesses contraditórios põem em perigo o tão necessário alívio da dívida dos países africanos, de acordo com o estudo do IfW. “Uma das principais conclusões é que os actuais empréstimos da China e a dívida resultante nos países africanos podem agravar a iminente crise da dívida”, disse Bode.
Os estereótipos dificultam a obtenção de empréstimos pelos africanos
Outro estudo recente sugere que os países africanos enfrentam taxas de juro desproporcionalmente elevadas devido à cobertura estereotipada e negativa dos meios de comunicação social.
A ONG Africa No Filter e a consultoria Africa Practice publicaram um estudar alegando que o continente africano paga milhares de milhões num “prémio de parcialidade” nos mercados financeiros internacionais. Os mutuários africanos perdem até 4,2 mil milhões de dólares anualmente devido a esta tendência.
O estudo conclui que as reportagens dos meios de comunicação social sobre os países africanos centram-se desproporcionalmente em temas negativos como a violência e a fraude eleitoral. Por exemplo, 88% dos artigos dos meios de comunicação social sobre o Quénia durante os períodos eleitorais foram negativos, em comparação com apenas 48% para a Malásia durante as suas eleições. Como resultado, os investidores internacionais consideram os países africanos mais arriscados do que realmente são, levando a custos de financiamento mais elevados em comparação com países com condições políticas e socioeconómicas semelhantes.
Pode uma imagem negativa nos meios de comunicação social afectar a classificação de crédito dos mutuários africanos? “Para os investidores internacionais, a imagem de um país desempenha definitivamente um papel na sua classificação de crédito”, disse Eckhardt Bode do IfW Kiel, que defende uma abordagem menos tendenciosa em relação aos mutuários africanos.
Bode concluiu que é urgentemente necessária uma mudança nas políticas internacionais de alívio da dívida, mas observou que não existe actualmente um plano claro em vigor.
“Temo que ainda serão necessários vários anos até que os credores chineses e ocidentais cheguem perto o suficiente para alcançar uma solução que ofereça aos países africanos oportunidades de desenvolvimento a um custo menor”, disse Bode.
Banco Mundial e FMI: agravamento da crise da dívida
O Banco Mundial divulgou um novo estudo no fim de semana passado, destacando 26 países que estão “mais profundamente endividados do que em qualquer momento desde 2006”. A maioria destes países está na África Subsaariana.
A chefe do FMI, Kristalina Georgieva, também expressou preocupação com a crescente dívida nacional em alguns países da África Subsaariana, culpando em grande parte a pandemia da COVID-19.
Numa recente entrevista exclusiva à DW na Conferência de Sustentabilidade de Hamburgo, ela também enfatizou os aspectos positivos de África.
África, disse ela, tem “um enorme potencial, com uma população jovem repleta de homens e mulheres talentosos, nos quais o mundo envelhecido da Europa e da Ásia dependerá”.
Georgieva também apelou a uma maior representação e influência para África dentro do FMI. Ela anunciou que “em 1º de novembro deste ano, outro membro da África Subsaariana será adicionado ao conselho do FMI”.
Bode partilha a opinião de Georgieva de que África tem um grande potencial económico, mas apela à cautela à luz do agravamento da crise da dívida.
“Acredito que os países africanos deveriam ter muito cuidado com os empréstimos neste momento para evitar o sobre-endividamento”, disse Bode.
Josephine Mahachi contribuiu com reportagem
Este artigo foi publicado originalmente em alemão
Chefe do FMI: ‘África merece ser representada de forma mais justa’
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Ufac inicia 34º Seminário de Iniciação Científica no campus-sede — Universidade Federal do Acre

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2 dias atrásem
24 de setembro de 2025
A Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (Propeg) da Ufac iniciou, nessa segunda-feira, 22, no Teatro Universitário, campus-sede, o 34º Seminário de Iniciação Científica, com o tema “Pesquisa Científica e Inovação na Promoção da Sustentabilidade Socioambiental da Amazônia”. O evento continua até quarta-feira, 24, reunindo acadêmicos, pesquisadores e a comunidade externa.
“Estamos muito felizes em anunciar o aumento de 130 bolsas de pesquisa. É importante destacar que esse avanço não vem da renda do orçamento da universidade, mas sim de emendas parlamentares”, disse a reitora Guida Aquino. “Os trabalhos apresentados pelos nossos acadêmicos estão magníficos e refletem o potencial científico da Ufac.”
A pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação, Margarida Lima de Carvalho, ressaltou a importância da iniciação científica na formação acadêmica. “Quando o aluno participa da pesquisa desde a graduação, ele terá mais facilidade em chegar ao mestrado, ao doutorado e em compreender os processos que levam ao desenvolvimento de uma região.”
O pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, comentou a integração entre ensino, pesquisa, extensão e o compromisso da universidade com a sociedade. “A universidade faz ensino e pesquisa de qualidade e não é de graça; ela custa muito, custa os impostos daqueles que talvez nunca entrem dentro de uma universidade. Por isso, o nosso compromisso é devolver a essa sociedade nossa contribuição.”
Os participantes assistiram à palestra do professor Leandro Dênis Battirola, que abordou o tema “Ciência e Tecnologia na Amazônia: O Papel Estratégico da Iniciação Científica”, e logo após participaram de uma oficina técnica com o professor Danilo Scramin Alves, proporcionando aos acadêmicos um momento de aprendizado prático e aprofundamento nas discussões propostas pelo evento.
(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)
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Representantes da UNE apresentam agenda à reitora da Ufac — Universidade Federal do Acre

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2 dias atrásem
24 de setembro de 2025
A reitora da Ufac, Guida Aquino, recebeu, nessa segunda-feira, 22, no gabinete da Reitoria, integrantes da União Nacional dos Estudantes (UNE). Representando a liderança da entidade, esteve presente Letícia Holanda, responsável pelas relações institucionais. O encontro teve como foco a apresentação da agenda da UNE, que reúne propostas para o Congresso Nacional com a meta de ampliar os recursos destinados à educação na Lei Orçamentária Anual de 2026.
Entre as prioridades estão a recomposição orçamentária, o fortalecimento de políticas de permanência estudantil e o incentivo a novos investimentos. A iniciativa também busca articular essas demandas a pautas nacionais, como a efetivação do Plano Nacional de Educação, a destinação de 10% do PIB para a área e o uso de royalties do petróleo em medidas de justiça social.
“Estamos vivenciando um momento árduo, que pede coragem e compatibilidade. Viemos mostrar o que a UNE propõe para este novo ciclo, com foco em avançar cada vez mais nas políticas de permanência e assistência estudantil”, disse Letícia Holanda. Ela também destacou a importância da regulamentação da Política Nacional de Assistência Estudantil, entre outras medidas, que, segundo a dirigente, precisam sair do papel e se traduzir em melhorias concretas no cotidiano das universidades.
Para o vice-presidente da UNE-AC, Rubisclei Júnior, a prioridade local é garantir a recomposição orçamentária das universidades. “Aqui no Acre, a universidade hoje só sobrevive graças às emendas. Isso é uma realidade”, afirmou, defendendo que o Ministério da Educação e o governo federal retomem o financiamento direto para assegurar mais bolsas e melhor infraestrutura.
Também participaram da reunião a pró-reitora de Graduação, Ednaceli Damasceno; o pró-reitor de Assuntos Estudantis, Isaac Dayan Bastos da Silva; a pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação, Margarina Lima de Carvalho; o pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes; representantes dos centros acadêmicos: Adsson Fernando da Silva Sousa (CA de Geografia); Raissa Brasil Tojal (CA de História); e Thais Gabriela Lebre de Souza (CA de Letras/Português).
(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)
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Multa para ciclistas? Entenda o que diz a lei e o que vale na prática

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2 dias atrásem
24 de setembro de 2025
CT
Tomaz Silva / Agência Brasil
Pode não parecer, mas as infrações previstas no Código de Trânsito Brasileiro não se limitam só aos motoristas de carros e motos — na verdade, as normas incluem também a conduta dos ciclistas. Mesmo assim, a aplicação das penalidades ainda gera dúvidas.
Nem todos sabem, mas o Código de Trânsito Brasileiro (CBT) descreve situações específicas em que ciclistas podem ser autuados, como pedalar em locais proibidos — o artigo 255 do CTB, por exemplo, diz que conduzir bicicleta em passeios sem permissão ou de forma agressiva configura infração média, com multa de R$ 130,16 e possibilidade de remoção da bicicleta.
Já o artigo 244 amplia as situações de infração para “ciclos”, nome dado à categoria que inclui bicicletas. Entre os exemplos estão transportar crianças sem segurança adequada, circular em vias de trânsito rápido e carregar passageiros fora do assento correto. Em casos mais graves, como manobras arriscadas ou malabarismos, a penalidade prevista é multa de R$ 293,47.
De fato, o CTB prevê punições para estas condutas, mas o mais curioso é que a aplicação dessas regras não está em vigor. Isso porque a Resolução 706/17, que estabelecia os procedimentos de autuação de ciclistas e pedestres, foi revogada pela norma 772/19.
Em outras palavras, estas infrações existem e, mesmo que um ciclista cometa alguma delas, não há hoje um mecanismo legal que permita a cobrança da multa.
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