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Flip: Big techs causam merdificação da vida, dizem autores – 10/10/2024 – Ilustrada

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Fernanda Mena

As empresas de tecnologia vendem soluções para problemas que elas mesmas criaram e tendem a promover uma espécie de “merdificação” da vida contemporânea. Essa foi a tônica da mesa “Dormindo com o Inimigo”, que reuniu o americano Danny Caine e o belga Mark Coeckelbergh no início da noite desta quinta-feira na Flip. De acordo com os autores, as big techs se beneficiam do cansaço e da ansiedade que o uso excessivo de suas tecnologias gera nas pessoas.

“Isso vale para Amazon, Google, Facebook, Apple e tantas outras”, afirmou Caine, poeta e dono de uma livraria no interior dos EUA que inspirou o seu livro “Como Resistir à Amazon e Por Quê”, lançado no Brasil pela editora Elefante.

“Minha ansiedade resulta muitas vezes de rolar o meu feed eternamente, sem nunca chegar ao fim das notícias, posts e comentários”, disse ele, para quem essa dinâmica faz com que a realidade objetiva não importe tanto quanto a economia da atenção direcionada pelas pessoas para os meios digitais.

O belga Coeckelbergh, autor de “A Ética na Inteligência Artificial”, lançado no Brasil pela editora Ubu, argumentou que muitas tecnologias desenvolvidas pelas big tech geram ansiedade ao mesmo tempo em que prometem tornar nossas vidas mais simples, o que diz não ser necessariamente verdade.

“O e-mail é um exemplo simples. Ele é mais fácil e rápido do que mandar uma carta, mas favoreceu a circulação de uma quantidade enorme de mensagens, o que criou novas demandas e fez com que o tempo passasse mais rápido”, afirma ele, que é professor de filosofia da mídia e tecnologia da Universidade de Viena, na Áustria.

“Há outras tecnologias que exploram as nossas inseguranças e vulnerabilidades ao mesmo tempo em que existe uma indústria de livros, cursos e workshops que oferecem versões comercializáveis de autoaperfeiçoamento.”

A mesa foi mediada pela jornalista Fabiana Moraes, professora da Universidade Federal do Pernambuco (UFPE) e autora do livro “Ter Medo de Quê?” (Arquipélago), a ser lançado durante a Flip.

Caine e Coeckelbergh exploraram a questão do uso de dados para sugestões de produtos em sites do conglomerado de empresas do bilionário Jeff Bezos e dos danos do comércio digital ao mercado de livros.

“Bezos não está interessado em vender livros, comercializados na Amazon a preço tão baixo que impossibilita a concorrência. Ele quer usar a venda de livros para coletar dados que permitirão a suas empresas colocarem iscas para você pela internet e oferecerem outros produtos mais lucrativos”, apontou Caine.

Para ele, o dano maior desse processo ao mercado editorial é o da própria desvalorização do livro. “Se um livro é vendido pela metade do preço na Amazon, porque Bezos não precisa ganhar dinheiro eles, as pessoas começam a achar que esses livros valem a metade de seus preços, quando se trata de um trabalho de anos, que envolve o escritor, claro, mas uma série de outros profissionais, dentro e fora das editoras, que precisam ser remunerados”, argumentou.

Esses outros produtos sugeridos pelo site por meio de algoritmos é o que Coeckelbergh chamou de paternalismo libertário. “Esse tipo de incentivo que a Amazon por meio de recomendações, de certa forma, acaba minando a sua autonomia porque você fica com a impressão de que tem liberdade e autonomia de escolha, mas está sendo influenciado e manipulado nesta direção.”

No campo da autoria, Coeckelbergh evoca a inteligência artificial (IA) para citar outro dano colateral de novas tecnologias ao mercado de livros. “Há modelos de linguagem ampliados que são capazes de escrever resenhas de livros baseadas no trabalho de autoras e autores que não estão sendo remunerados por isso”, explicou.

“Não existe transparência do sistema sobre suas fontes. Não se pode rastrear quais textos foram usados e quem são os autores originais. Com isso, ficamos num circuito fechado em que todo material se torna igual e, quando utilizado repetidamente, fica cada vez mais difícil surgirem novas ideias. Como manter a criatividade viva neste contexto?”, questionou o belga.

Este é um dos aspectos do que Caine chamou de “merdificação” da vida, parafraseando o escritor canadense Cory Doctorow, que cunhou o termo em inglês, “inshittification”.

“Trata-se de um grande modelo linguístico que não pode produzir uma ideia nova porque se alimenta de tudo o que já existe. As big tech estão diminuindo a qualidade das coisas.”

“Podemos influenciar o desenvolvimento de novas tecnologias que possam apoiar a democracia e as mudanças sociais. As inteligências artificiais não têm um destino pré-determinado, como as big tech querem que a gente acredite e simplesmente aceite. Um mercado de tecnologia mais democrático seria muito melhor do que o apoio às iniciativas de meia dúzia de bilionários.”



Leia Mais: Folha

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Ufac inicia 34º Seminário de Iniciação Científica no campus-sede — Universidade Federal do Acre

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Ufac inicia 34º Seminário de Iniciação Científica no campus-sede — Universidade Federal do Acre

A Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (Propeg) da Ufac iniciou, nessa segunda-feira, 22, no Teatro Universitário, campus-sede, o 34º Seminário de Iniciação Científica, com o tema “Pesquisa Científica e Inovação na Promoção da Sustentabilidade Socioambiental da Amazônia”. O evento continua até quarta-feira, 24, reunindo acadêmicos, pesquisadores e a comunidade externa.

“Estamos muito felizes em anunciar o aumento de 130 bolsas de pesquisa. É importante destacar que esse avanço não vem da renda do orçamento da universidade, mas sim de emendas parlamentares”, disse a reitora Guida Aquino. “Os trabalhos apresentados pelos nossos acadêmicos estão magníficos e refletem o potencial científico da Ufac.”

A pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação, Margarida Lima de Carvalho, ressaltou a importância da iniciação científica na formação acadêmica. “Quando o aluno participa da pesquisa desde a graduação, ele terá mais facilidade em chegar ao mestrado, ao doutorado e em compreender os processos que levam ao desenvolvimento de uma região.”

O pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, comentou a integração entre ensino, pesquisa, extensão e o compromisso da universidade com a sociedade. “A universidade faz ensino e pesquisa de qualidade e não é de graça; ela custa muito, custa os impostos daqueles que talvez nunca entrem dentro de uma universidade. Por isso, o nosso compromisso é devolver a essa sociedade nossa contribuição.”

Os participantes assistiram à palestra do professor Leandro Dênis Battirola, que abordou o tema “Ciência e Tecnologia na Amazônia: O Papel Estratégico da Iniciação Científica”, e logo após participaram de uma oficina técnica com o professor Danilo Scramin Alves, proporcionando aos acadêmicos um momento de aprendizado prático e aprofundamento nas discussões propostas pelo evento.

(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)

 



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Representantes da UNE apresentam agenda à reitora da Ufac — Universidade Federal do Acre

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Representantes da UNE apresentam agenda à reitora da Ufac — Universidade Federal do Acre

A reitora da Ufac, Guida Aquino, recebeu, nessa segunda-feira, 22, no gabinete da Reitoria, integrantes da União Nacional dos Estudantes (UNE). Representando a liderança da entidade, esteve presente Letícia Holanda, responsável pelas relações institucionais. O encontro teve como foco a apresentação da agenda da UNE, que reúne propostas para o Congresso Nacional com a meta de ampliar os recursos destinados à educação na Lei Orçamentária Anual de 2026.

Entre as prioridades estão a recomposição orçamentária, o fortalecimento de políticas de permanência estudantil e o incentivo a novos investimentos. A iniciativa também busca articular essas demandas a pautas nacionais, como a efetivação do Plano Nacional de Educação, a destinação de 10% do PIB para a área e o uso de royalties do petróleo em medidas de justiça social.

“Estamos vivenciando um momento árduo, que pede coragem e compatibilidade. Viemos mostrar o que a UNE propõe para este novo ciclo, com foco em avançar cada vez mais nas políticas de permanência e assistência estudantil”, disse Letícia Holanda. Ela também destacou a importância da regulamentação da Política Nacional de Assistência Estudantil, entre outras medidas, que, segundo a dirigente, precisam sair do papel e se traduzir em melhorias concretas no cotidiano das universidades.

Para o vice-presidente da UNE-AC, Rubisclei Júnior, a prioridade local é garantir a recomposição orçamentária das universidades. “Aqui no Acre, a universidade hoje só sobrevive graças às emendas. Isso é uma realidade”, afirmou, defendendo que o Ministério da Educação e o governo federal retomem o financiamento direto para assegurar mais bolsas e melhor infraestrutura.

Também participaram da reunião a pró-reitora de Graduação, Ednaceli Damasceno; o pró-reitor de Assuntos Estudantis, Isaac Dayan Bastos da Silva; a pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação, Margarina Lima de Carvalho; o pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes; representantes dos centros acadêmicos: Adsson Fernando da Silva Sousa (CA de Geografia); Raissa Brasil Tojal (CA de História); e Thais Gabriela Lebre de Souza (CA de Letras/Português).

 

(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)

 



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Multa para ciclistas? Entenda o que diz a lei e o que vale na prática

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Multa para ciclistas? Entenda o que diz a lei e o que vale na prática

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Tomaz Silva / Agência Brasil

Pode não parecer, mas as infrações previstas no Código de Trânsito Brasileiro não se limitam só aos motoristas de carros e motos — na verdade, as normas incluem também a conduta dos ciclistas. Mesmo assim, a aplicação das penalidades ainda gera dúvidas.

Nem todos sabem, mas o Código de Trânsito Brasileiro (CBT) descreve situações específicas em que ciclistas podem ser autuados, como pedalar em locais proibidos — o artigo 255 do CTB, por exemplo, diz que conduzir bicicleta em passeios sem permissão ou de forma agressiva configura infração média, com multa de R$ 130,16 e possibilidade de remoção da bicicleta.

Já o artigo 244 amplia as situações de infração para “ciclos”, nome dado à categoria que inclui bicicletas. Entre os exemplos estão transportar crianças sem segurança adequada, circular em vias de trânsito rápido e carregar passageiros fora do assento correto. Em casos mais graves, como manobras arriscadas ou malabarismos, a penalidade prevista é multa de R$ 293,47.

De fato, o CTB prevê punições para estas condutas, mas o mais curioso é que a aplicação dessas regras não está em vigor. Isso porque a Resolução 706/17, que estabelecia os procedimentos de autuação de ciclistas e pedestres, foi revogada pela norma 772/19.

Em outras palavras, estas infrações existem e, mesmo que um ciclista cometa alguma delas, não há hoje um mecanismo legal que permita a cobrança da multa.




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