POLÍTICA
Por que a isenção de imposto de renda é má ideia

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rprangel2004@gmail.com (Ricardo Rangel)
O governo anunciou um projeto para dar isenção de imposto de renda para quem recebe até 5 mil reais (e pretende reduzir o imposto de quem ganha entre 5 e 7 mil).
É uma medida equivocada de várias maneiras. Vejamos.
1. Por que, em um país em que pobres são a maioria da população e pagam desproporcionalmente mais impostos, a classe média, relativamente privilegiada, deveria estar isenta do imposto de renda?
2. Renunciar a arrecadação, num momento de crise fiscal, é uma ideia contraintuitiva, que diminui a confiança no governo e alimenta a má vontade do mercado, e o governo diz que vai compensar aumentando o imposto de quem ganha muito (mais de 50 mil por mês). No Brasil, rico paga mesmo pouco imposto e está certo cobrar mais, mas… por que não aumentar o imposto dos ricos e só? Por que isentar a classe média?
3. Quando se anuncia projeto que reduz arrecadação de um lado e aumenta do outro, a redução é certa e o aumento é duvidoso. É virtualmente impossível que o projeto passe no Congresso como está, e é certo que os prejudicados se defenderão na Justiça. Pode haver perda líquida de arrecadação.
4. É impossível falar em tributar dividendos (como o governo quer) sem falar do imposto de renda das empresas, já que as duas coisas estão misturadas: dividendo é isento hoje porque a tributação das empresas no lucro real é enorme: se vai aumentar um, deveria reduzir oi outro.
5. A proposta foi criada de maneira apressada sem estudar eventuais consequências imprevistas e indesejáveis (as “externalidades negativas”). Criar imposto sobre dividendo sem reduzir o imposto das empresas é um desincentivo à atividade produtiva. E dar mais dinheiro para a classe média tende a ser inflacionário.
6. O maior problema da arrecadação é a miríade de vantagens e molezas dadas para ricos e para empresas — grande parte das quais, como a desoneração, foi concedida por governos do PT. O governo quer reduzi-la (o que seria obrigação de qualquer governo minimamente decente), mas é curioso fazer isso para dar de presente para a classe média.
7. O Sistema Tributário Nacional é um caos porque a cada momento um governo cria um artificialismo, um caso especial, um puxadinho. O governo tem o mérito de ter reduzido o caos com a recente reforma da tributação do consumo. Era hora de fazer uma reforma ampla da tributação da renda, mas a proposta queima essa oportunidade e ainda deixa o IRPF mais complicado.
O mais grave, entretanto, é a incompreensão por parte do governo sobre o que representa a tributação. O Estado é de todos, serve a todos e deve ser sustentado por todos — com alíquotas que reflitam a capacidade de pagamento de cada um, naturalmente. Se a tributação sem representação é inadmissível (motivo da Guerra de Independência Americana), a representação sem tributação deixa a cidadania capenga.
São menos de 30 milhões os brasileiros que contribuem para sustentar o Estado brasileiro. Já é muito pouco, e o governo quer reduzir esse número em 10 milhões. A noção de cidadania vai se perdendo.
Mas Lula não parece preocupado com nada disso. Parece interessado apenas em aumentar sua popularidade em uma faixa do eleitorado que, notoriamente, não vota nele.
Afinal, 2026 está aí.
De toda forma, vale lembrar que a medida, se aprovada, só beneficiará quem tem emprego formal. Mais da metade dos trabalhadores está na informalidade e não ganhará nada com ela.
(Por Ricardo Rangel em 20/03/2025)
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STF forma maioria para manter prisão de Fernando C…

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25 de abril de 2025
Meire Kusumoto
O Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria na noite desta sexta-feira, 25, para manter a decisão do ministro Alexandre de Moraes que determinou a prisão do ex-presidente Fernando Collor de Mello.
Até o momento acompanharam o relator os ministros Flávio Dino, Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, Cármen Lúcia e Dias Toffoli. O julgamento ocorre no plenário virtual e deveria se encerrar às 23h59 de hoje, mas foi suspenso mais cedo pelo ministro Gilmar Mendes, que pediu destaque e levou o caso para ser julgado em plenário físico. No entanto, os ministros podem antecipar os seus votos, o que ocorreu.
Faltam os votos dos ministros Luiz Fux, Nunes Marques e André Mendonça, que ainda podem registrá-los no plenário virtual ou esperar o julgamento em plenário físico. O ministro Cristiano Zanin, que atuou na defesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Lava-Jato, se declarou impedido e não participará do julgamento.
Collor foi preso na manhã desta sexta-feira e passou por audiência de custódia horas mais tarde. Ele foi transferido da sede da Polícia Federal em Alagoas para um presídio na capital, Maceió.
Collor foi condenado em 2023 pela Corte a oito anos e dez meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Os ministros ficaram convencidos de que o ex-presidente recebeu 20 milhões de reais de propina entre 2010 e 2014 para usar sua influência política como senador para facilitar obras da UTC Engenharia de construção de bases de distribuição de combustíveis da antiga BR Distribuidora. Segundo a denúncia, a propina foi paga em troca de apoio político para indicação e manutenção de diretores da estatal.
O caso, que foi um dos vários revelados pelas investigações da Operação Lava-Jato, veio à tona com a delação do empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC, e foi revelado com exclusividade por reportagens de VEJA em 2015.
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A reiteração do crime contra a democracia na cassa…

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25 de abril de 2025
Matheus Leitão
A demora da Câmara dos Deputados em dar uma resposta às acusações contra o ex-deputado federal Chiquinho Brazão – um dos supostos mandantes do assassinato de Marielle Franco – significou, na verdade, a reiteração do crime: ao mesmo tempo em que resguardou os direitos políticos do ex-parlamentar, poupou seus colegas da incumbência de limpar a Casa com as próprias mãos (isto é, com os próprios votos).
Em vez de submeter Brazão ao julgamento político que se impunha diante da gravidade das denúncias, a Mesa Diretora preferiu destituí-lo por faltas. Não houve tribuna aberta à crítica, nem deliberação em plenário, mas uma manifestação de gabinete, silenciosa e formal, planejada para encerrar o assunto com o menor custo político possível (para todos, menos para a memória e o legado de Marielle, claro, e de Anderson Gomes).
Ao não julgar o mérito do caso, os deputados permitiram que Brazão mantivesse seus direitos políticos. Isso quer dizer que um acusado de mandar matar uma parlamentar poderá candidatar-se novamente. A nossa democracia fingiu que puniu, porém, o que fez foi fragilizar-se.
Mais do que uma brecha regimental explorada com habilidade, a solução revela a escolha deliberada por uma punição esvaziada de sentido: um atalho jurídico que desvia do real problema. E a própria demora no encaminhamento do processo, finalizado no Conselho de Ética, já representava um indicativo claro do destino pretendido.
Sete anos se passaram entre o assassinato de Marielle e a decisão da Mesa Diretora. O parlamento levou 12 meses para colocar um ponto final na história depois da prisão de Brazão, determinada em março do ano passado.
Essa paralisia total, como um silêncio cúmplice, visava uma saída discreta para um caso que necessitava de condenação contudente. Em outras palavras: a história exigia grandeza, a Câmara entregou, como na maioria das vezes, conveniência.
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Matheus Leitão
Enquanto a Lava Jato continua a ser desmontada tijolo por tijolo por excessos judiciais dos mais variados segundo o Supremo, o ex-presidente Fernando Collor de Mello acabou preso justamente em um desdobramento da operação.
O político alagoano que fez a campanha meteórica em 1989 prometendo caçar marajás brasileiros como ele – ganhando a presidência justamente contra Lula – foi condenado pelo STF por corrupção na BR Distribuidora.
Por isso, há uma explicação jurídica muito clara. Collor não foi condenado com base em provas da Odebrecht, por exemplo, anuladas por Dias Toffoli. Não foi condenado em Curitiba, onde Sergio Moro foi considerado parcial, mas em Brasília.
O ex-presidente foi preso porque manteve sua trajetória política e era senador com foro privilegiado. Investigadores da procuradoria-geral da República conseguiram as provas em um braço distante da operação que levou Lula à cadeia e, depois, de volta à presidência.
Em Brasília, os ministros do Supremo entenderam, ainda em 2023, que o ex-presidente recebeu 20 milhões de reais para viabilizar irregularmente contratos da estatal. Bingo! Condenado.
O caso dele envolve a empreiteira UTC e foi revelado em reportagem de VEJA chamada À sombra do delator. O texto conta em detalhes como eram feitos os pagamentos, e como as autoridades chegaram a provas como uma tabela encontrada com o nome do ex-presidente e de seus grupo político.
Collor, aliás, foi denunciado pela PGR em 2015 por esses crimes. Ou seja, foram 10 anos para conclusão do processo. Da condenação em 2023 para cá, inúmeros recursos foram apresentados por seus advogados. Acabaram entendidos pelo onipresente ministro Alexandre de Moraes como “manobras protelatórias”.
Sem mais delongas, o magistrado finalmente mandou prender Fernando Collor. A Polícia Federal fez isso nesta madrugada enquanto o ex-presidente ia para o aeroporto em Alagoas embarcar num voo para Brasília. A prisão foi noturna o que não é nem um pouco usual.
Começou então a votação no plenário virtual para ver se os colegas de toga aprovam a decisão de Moraes. Foi quando o decano Gilmar Mendes, que já havia votado pela absolvição dos réus, suspendeu o processo defendendo que ele seja discutido no plenário físico mesmo.
A maioria dos ministros, contudo, decidiu pela manutenção da prisão, o que deve acontecer provavelmente até a meia-noite.
Da presidência da República ao “Pedro Collor conta tudo” (também em capa de VEJA) o político alagoano com tentáculos nas distribuidoras da Petrobrás viu sua trajetória política terminar em uma cela. Agora, os advogados pedem que ele cumpra a pena em Maceió, berço político e agora também terra do seu provável último capitulo na história do Brasil.
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