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Simon Schama: ‘A Grã-Bretanha é um lugar muito mais tolerante agora. Eu sou o Sr. Sunshine nisso’ | Simão Schama

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Rachel Cooke

Simon Schama, 79 anos, é escritor, apresentador de televisão e professor de história e história da arte na Universidade de Columbia, em Nova York. Seus livros mais vendidos e premiados incluem O constrangimento das riquezassobre a Idade de Ouro Holandesa, e Cidadãosum estudo da Revolução Francesa. Suas séries de televisão para a BBC incluem Uma História da Grã-Bretanha, Simon Schama Poder da Artee A história dos judeus. Sua nova série, A história de nós, de Simon Schamatraça a história da Grã-Bretanha do pós-guerra, num esforço para localizar as origens das actuais guerras culturais e para celebrar a arte que nos uniu no passado.

Como você começou a pensar nesta série?
Bem, moro a maior parte do tempo na América, mas volto aqui com frequência e isso sempre me incomoda. Estou sincero sobre isso. Eu queria captar o pulso social da Grã-Bretanha e olhar para a nossa cultura, a nossa criatividade infinita. Desde que eu era um nipper e meus pais me levaram três vezes ao Festival da Grã-Bretanha de 1951, na margem sul – o primeiro objeto inanimado pelo qual me apaixonei foi o Skylon (uma estrutura futurista de aço que parecia não ter meios visíveis de suporte) – isso tem sido uma grande fonte de alegria para mim.

Você entrevista muitas figuras famosas da série: Bono, Jarvis Cocker, Hanif Kureishi. Você se sentiu como um menino em uma loja de doces, pedindo para eles entrarem?
Sim! É claro que às vezes o computador dizia não. Mas foi incrível quantos disseram sim. Uma das maiores surpresas foi Cliff Richard. Queríamos explorar a reação contra a sociedade permissiva (o primeiro episódio apresenta um clipe famoso de Richard cantando em um comício de Billy Graham em 1966), e eu o sugeri sem esperança, realmente, de conquistá-lo. Mas ele era incrivelmente gentil e generoso. Conversar com as pessoas torna a televisão mais convidativa do que – como me disse uma vez um realizador com quem trabalho – “fazer discursos à nação”. Desisti de fazer discursos à nação com muita alegria.

Cocker gentilmente apontou para você que quando ele percebeu O romance de 1958 de Alan Sillitoe sobre a vida da classe trabalhadora, Sábado à noite e domingo de manhã, na década de 1980, o mundo que descrevia já havia desaparecido.
Sim. Lemos esse livro na escola e adoramos. Foi muito mais divertido do que DH Lawrence, que veio da mesma cidade que Sillitoe (Nottingham). Quando menino, tive um romance nos subúrbios de Londres com o Norte. Fui com meu pai, um comprador de têxteis, à fábrica Courtaulds em Bolton. Lembro-me de entrar nos galpões ensurdecedores, o tecido estalando nos teares e se transformando nessas cores brilhantes. Mas sim, para Jarvis, tudo isso (indústria britânica, emprego abundante) tinha desaparecido.

A série faz algumas grandes afirmações, uma das quais é que o político conservador anti-imigração Enoch Powell “injectou um agente patogénico” no discurso britânico que não desapareceu. Você mantém isso?
Talvez eu dê a ele muito poder lá. Os tumultos raciais de Notting Hill aconteceram antes de seu discurso dos “rios de sangue” (em 1968). Mas penso que ele deu a essas opiniões uma espécie de autoridade; ele era um homem culto, um poeta e um estudioso. Seus discursos tinham força retórica e somos uma nação de viciados em palavras. No entanto, também quero dizer que, em todos os sentidos, estamos numa situação muito mais tolerante agora do que estávamos naquela época. Nesse ponto, sou o Sr. Sunshine.

Com Jerry Dammers, fundador dos Specials, em Story of Us, de Simon Schama. Fotografia: BBC/Oxford Films and Television Ltd

A sua visão da imigração é diametralmente oposta à de Powell e dos seus sucessores, não é? Você chama isso de “outro sopro de vida”.
Agora é tarde demais para mudar meu otimismo arraigado em relação a isso. Faz parte da minha herança judaica. Eu não diria que minha mãe era uma cidadã do mundo. Ela poderia estar bastante irritada. Mas ela dirigia um centro para idosos em Stepney, no East End, e era incrivelmente extrovertida com a nova comunidade de Bangladesh, mesmo quando uma sinagoga provavelmente se transformaria em uma mesquita. Não estou escondendo o fato de que há dor e medo envolvidos em tudo isso, mas você tem que fazer a sua parte. No meu caso, é um prazer que haja um café persa na esquina do meu apartamento em Londres.

Como você está se sentindo o novo presidente dos EUA? Você está tentado a voltar para a Grã-Bretanha?
Não. Minha esposa é americana, embora eu só tenha passaporte britânico. Meu green card data de 1980. Eu aponto para Trump, embora agora a agulha esteja se movendo para o vermelho. Durante sua primeira administração, os fatores atenuantes foram as pessoas que tinha ao seu redor e o fato de ser muito preguiçoso. Ele não lê – nada, nunca. Ele só quer fazer pronunciamentos absurdos. Mas desta vez, é preciso olhar para os facilitadores: Elon Musk, Vivek Ramaswamy (o empresário tecnológico e cruzado anti-despertar). Eles são meio preocupantes. Desta vez, ele não tem secretários de defesa civicamente responsáveis, e assim por diante. Acho que ele está intoxicado pelo exemplo de Putin, e é por isso que agora temos esta estranha visão imperialista de Theodore Roosevelt (da parte dele), como invadindo a Groenlândia. Do lado da política externa, a perspectiva mais obviamente terrível é a suspensão efectiva da ajuda à Ucrânia.

A história de nós culpa explicitamente a Internet pela polarização da guerra cultural. O que você achou do anúncio de Mark Zuckerberg de que Facebook é para abandonar seus verificadores de fatos?
É orwelliano. George Orwell está lá em cima revirando os olhos. É uma venda catastrófica. A verdade não é governada pelo voto popular da maioria. Como minha amiga Mary Beard costuma dizer, a história exige o voto do dever de casa.

Em que cultura você tem se injetado enquanto está aqui?
É principalmente sobre arte. eu adorei o Exposição de Van Gogh na Galeria Nacional; tantas coisas de coleções particulares. não sei se vou bater Ricardo II (no teatro da Ponte). Quando menino, para mim era sinagoga no sábado e Shakespeare no domingo. Parece tão pretensioso, mas quando eu tinha 10 ou 11 anos, meu pai costumava me fazer recitar os discursos de Shakespeare que eu havia aprendido de cor. Quando consegui um emprego em Harvard, em 1980, sabia que isso significaria a perda de Shakespeare. Quero dizer, lá é Shakespeare na América, mas não é a mesma coisa. Então, estou sempre com fome de Shakespeare…



Leia Mais: The Guardian

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MUNDO

Mulher alimenta pássaros livres na janela do apartamento e tem o melhor bom dia, diariamente; vídeo

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O projeto com os cavalos, no Kentucky (EUA), ajuda dependentes químicos a recomeçarem a vida. - Foto: AP News

Todos os dias de manhã, essa mulher começa a rotina com uma cena emocionante: alimenta vários pássaros livres que chegam à janela do apartamento dela, bem na hora do café. Ela gravou as imagens e o vídeo é tão incrível que já acumula mais de 1 milhão de visualizações.

Cecilia Monteiro, de São Paulo, tem o mesmo ritual. Entre alpiste e frutas coloridas, ela conversa com as aves e dá até nomes para elas.

Nas imagens, ela aparece espalhando delicadamente comida para os pássaros, que chegam aos poucos e transformam a janela num pedacinho de floresta urbana. “Bom dia. Chegaram cedinho hoje, hein?”, brinca Cecilia, enquanto as aves fazem a festa com o banquete.

Amor e semente

Todos os dias Cecilia acorda e vai direto preparar a comida das aves livres.

Ela oferece porções de alpiste e frutas frescas e arruma tudo na borda da janela para os pequenos visitantes.

E faz isso com tanto amor e carinho que a gratidão da natureza é visível.

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Cantos de agradecimento

E a recompensa vem em forma de asas e cantos.

Maritacas, sabiás, rolinha e até uma pomba muito ousada resolveu participar da festa.

O ambiente se transforma com todas as aves cantando e se deliciando.

Vai dizer que essa não é a melhor forma de começar o dia?

Liberdade e confiança

O que mais chama a atenção é a relação de respeito entre a mulher e as aves.

Nada de gaiolas ou cercados. Os pássaros vêm porque querem. E voltam porque confiam nela.

“Podem vir, podem vir”, diz ela na legenda do vídeo.

Internautas apaixonados

O vídeo se tornou viral e emocionou milhares de pessoas nas redes sociais.

Os comentários vão de elogios carinhosos a relatos de seguidores que se sentiram inspirados a fazer o mesmo.

“O nome disso é riqueza! De alma, de vida, de generosidade!”, disse um.

“Pra mim quem conquista os animais assim é gente de coração puro, que benção, moça”, compartilhou um segundo.

Olha que fofura essa janela movimentada, cheia de aves:

Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Que gracinha! - Foto: @cecidasaves/TikTok Cecila tem a mesma rotina todos os dias. Põe comida para os pássaros livres na janela do apartamento dela em SP. – Foto: @cecidasaves/TikTok



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Cavalos ajudam dependentes químicos a se reconectar com a vida, emprego e família

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Cecília, uma mulher de São Paulo, põe alimentos todos os dias os para pássaros livres na janela do apartamento dela. - Foto: @cecidasaves/TikTok

O poder sensorial dos cavalos e de conexão com seres humanos é incrível. Tanto que estão ajudando dependentes químicos a se reconectar com a família, a vida e trabalho nos Estados Unidos. Até agora, mais de 110 homens passaram com sucesso pelo programa.

No Stable Recovery, em Kentucky, os cavalos imensos parecem intimidantes, mas eles estão ali para ajudar. O projeto ousado, criado por Frank Taylor, coloca os homens em contato direto com os equinos para desenvolverem um senso de responsabilidade e cuidado.

“Eu estava simplesmente destruído. Eu só queria algo diferente, e no dia em que entrei neste estábulo e comecei a trabalhar com os cavalos, senti que eles estavam curando minha alma”, contou Jaron Kohari, um dos pacientes.

Ideia improvável

Os pacientes chegam ali perdidos, mas saem com emprego, dignidade e, muitas vezes, de volta ao convívio com aqueles que amam.

“Você é meio egoísta e esses cavalos exigem sua atenção 24 horas por dia, 7 dias por semana, então isso te ensina a amar algo e cuidar dele novamente”, disse Jaron Kohari, ex-mineiro de 36 anos, em entrevista à AP News.

O programa nasceu da cabeça de Frank, criador de cavalos puro-sangue e dono de uma fazenda tradicional na indústria de corridas. Ele, que já foi dependente em álcool, sabe muito bem como é preciso dar uma chance para aqueles que estão em situação de vulnerabilidade.

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A ideia

Mas antes de colocar a iniciativa em prática, precisou convencer os irmãos a deixar ex-viciados lidarem com animais avaliados em milhões de dólares.“Frank, achamos que você é louco”, disse a família dele.

Mesmo assim, ele não desistiu e conseguiu a autorização para tentar por 90 dias. Se algo desse errado, o programa seria encerrado imediatamente.

E o melhor aconteceu.

A recuperação

Na Stable Recovery, os participantes acordam às 4h30, participam de reuniões dos Alcoólicos Anônimos e trabalham o dia inteiro cuidando dos cavalos.

Eles escovam, alimentam, limpam baias, levam aos pastos e acompanham as visitas de veterinários aos animais.

À noite, cozinham em esquema revezamento e vão dormir às 21h.

Todo o programa dura um ano, e isso permite que os participantes se tornem amigos, criem laços e fortaleçam a autoestima.

“Em poucos dias, estando em um estábulo perto de um cavalo, ele está sorrindo, rindo e interagindo com seus colegas. Um cara que literalmente não conseguia levantar a cabeça e olhar nos olhos já está se saindo melhor”, disse Frank.

Cavalos que curam

Os cavalos funcionam como espelhos dos tratadores. Se o homem está tenso, o cavalo sente. Se está calmo, ele vai retribuir.

Frank, o dono, chegou a investir mais de US$ 800 mil para dar suporte aos pacientes.

Ao olhar tantas vidas que ele já ajudou a transformar, ele diz que não se arrepende de nada.

“Perdemos cerca de metade do nosso dinheiro, mas apesar disso, todos aqueles caras permaneceram sóbrios.”

A gente aqui ama cavalos. E você?

A rotina com os animais é puxada, mas a recompensa é enorme. – Foto: AP News



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Resgatado brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia após seguir sugestão do GPS

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O brasileiro Hugo Calderano, de 28 anos, conquista a inédita medalha de prata no Mundial de Tênis de Mesa no Catar.- Foto: @hugocalderano

Cuidado com as sugestões do GPS do seu carro. Este brasileiro, que ficou preso na neve na Patagônia, foi resgatado após horas no frio. Ele seguiu as orientações do navegador por satélite e o carro acabou atolado em uma duna de neve. Sem sinal de internet para pedir socorro, teve que caminhar durante horas no frio de -10º C, até que foi salvo pela polícia.

O progframador Thiago Araújo Crevelloni, de 38 anos, estava sozinho a caminho de El Calafate, no dia 17 de maio, quando tudo aconteceu. Ele chegou a pensar que não sairia vivo.

O resgate só ocorreu porque a anfitriã da pousada onde ele estava avisou aos policiais sobre o desaparecimento do Thiago. Aí começaram as buscas da polícia.

Da tranquilidade ao pesadelo

Thiago seguia viagem rumo a El Calafate, após passar por Mendoza, El Bolsón e Perito Moreno.

Cruzar a Patagônia de carro sempre foi um sonho para ele. Na manhã do ocorrido, nevava levemente, mas as estradas ainda estavam transitáveis.

A antiga Rota 40, por onde ele dirigia, é famosa pelas paisagens e pela solidão.

Segundo o programador, alguns caminhões passavam e havia máquinas limpando a neve.

Tudo parecia seguro, até que o GPS sugeriu o desvio que mudou tudo.

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Caminho errado

Thiago seguiu pela rota alternativa e, após 20 km, a neve ficou mais intensa e o vento dificultava a visibilidade.

“Até que, numa curva, o carro subiu em uma espécie de duna de neve que não dava para distinguir bem por causa do vento branco. Tudo era branco, não dava para ver o que era estrada e o que era acúmulo de neve. Fiquei completamente preso”, contou em entrevista ao G1.

Ele tentou desatolar o veículo com pedras e ferramentas, mas nada funcionava.

Caiu na neve

Sem ajuda por perto, exausto, encharcado e com muito frio, Thiago decidiu caminhar até a estrada principal.

Mesmo fraco, com fome e mal-estar, colocou uma mochila nas costas e saiu por volta das 17h.

Após mais de cinco horas de caminhada no escuro e com o corpo congelando, ele caiu na neve.

“Fiquei deitado alguns minutos, sozinho, tentando recuperar energia. Consegui me levantar e segui, mesmo sem saber quanta distância faltava.”

Luz no fim do túnel

Sem saber quanto tempo faltava para a estrada principal, Thiago se levantou e continuou a caminhada.

De repente, viu uma luz. No início, o programador achou que estava alucinando.

“Um pouco depois, ao olhar para trás em uma reta infinita, vi uma luz. Primeiro achei que estava vendo coisas, mas ela se aproximava. Era uma viatura da polícia com as luzes acesas. Naquele momento senti um alívio que não consigo descrever. Agitei os braços, liguei a lanterna do celular e eles me viram”, disse.

A gentileza dos policiais

Os policiais ofereceram água, comida e agasalhos.

“Falaram comigo com uma ternura que me emocionou profundamente. Me levaram ao hospital, depois para um hotel. Na manhã seguinte, com a ajuda de um guincho, consegui recuperar o carro”, agradeceu o brasileiro.

Apesar do susto, ele se recuperou e decidiu manter a viagem. Afinal, era o sonho dele!

Veja como foi resgatado o brasileiro que ficou preso na neve na Patagônia:

Thiago caminhou por 5 horas no frio até ser encontrado. – Foto: Thiago Araújo Crevelloni

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