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Exposição no Louvre explora onipresença da loucura na arte – 02/11/2024 – Ilustríssima

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Exposição no Louvre explora onipresença da loucura na arte - 02/11/2024 - Ilustríssima

Luiz Armando Bagolin

[RESUMO] Com mais de 300 obras, exposição no Museu do Louvre apresenta um inventário das representações artísticas do louco, figura que diverte, se perde em desvarios de amor e contesta a ordem social estabelecida, e interroga os significados da loucura desde o fim da Idade Média e sua importância na transição para a modernidade.

“De médico e louco todo o mundo tem um pouco” é uma frase muito conhecida e ecoa o enredo de “O Alienista“, de Machado de Assis. Na obra, o personagem Simão Bacamarte, o médico da pacata cidade de Itaguaí, decide internar quase toda a população no seu manicômio recém-inaugurado, a Casa Verde, até entender que seu método terapêutico estava completamente errado.

Na verdade, Bacamarte consideraria pouco tempo depois, os verdadeiros loucos seriam aqueles que não demonstravam nenhum sinal ou grau de perturbação, que posavam de pessoas normais e impassíveis diante dos problemas da vida. Decide, portanto, soltá-los todos.

Ao fim e ao cabo, o alienista percebe que o único a reunir todas as qualidades de uma pessoa normal e bem equilibrada, sem paixões de arroubo, ou seja, um indivíduo completamente normal e, assim, um louco de verdade, era ele próprio. Então, depois de soltar o seu último paciente, o médico se recolhe, sozinho, ao seu hospício.

“Simão Bacamarte achou em si os característicos do perfeito equilíbrio mental e moral; pareceu-lhe que possuía a sagacidade, a paciência, a perseverança, a tolerância, a veracidade, o vigor moral, a lealdade, todas as qualidades enfim que podem formar um acabado mentecapto. Duvidou logo, é certo, e chegou mesmo a concluir que era ilusão; mas, sendo homem prudente, resolveu convocar um conselho de amigos, a quem interrogou com franqueza. A opinião foi afirmativa […]. Ato contínuo, recolheu-se à Casa Verde. Em vão a mulher e os amigos lhe disseram que ficasse, que estava perfeitamente são e equilibrado: nem rogos nem sugestões nem lágrimas o detiveram um só instante. — A questão é científica, dizia ele; trata-se de uma doutrina nova, cujo primeiro exemplo sou eu. Reúno em mim mesmo a teoria e a prática.”

Ao longo da narrativa, Machado de Assis constrói um inventário de tipos e caracteres humanos, indo do mais comum ao mais grotesco, demonstrando, com uma dose cavalar de ironia, o limite tênue que separa a sanidade da loucura, a mesquinhez da caridade, e ajudando a desnudar risivelmente a ganância do homem, a política, em particular, travestida sempre de interesse pelo bem do povo.

Um inventário estranho, mas em muitos pontos semelhante ao apresentado no conto machadiano é trazido agora em “Figures du Fou: du Moyen-âge aux Romantiques” (figuras da loucura: da Idade Média aos românticos). A exposição, aberta em outubro no Museu do Louvre, em Paris, reúne mais de 300 obras, entre pinturas, gravuras, esculturas, manuscritos iluminados, tapeçarias, objetos preciosos e de uso cotidiano pertencentes a 90 acervos franceses, europeus e americanos.

A ideia que perpassa toda a exposição, segundo a curadoria de Élisabeth Antoine-König e Pierre-Yves Le Pogam, “não é traçar uma história da loucura como doença mental”, mas “questionar a onipresença dos loucos na arte e na cultura ocidental ao final da Idade Média: o que significam esses loucos, que parecem desempenhar um papel-chave na transição para os tempos modernos?”.

O termo “fou” (louco, em francês), lembram os curadores, compreende muitos sentidos: “Simplório, doente, bufão”. Aparentemente, o sentido mais antigo está relacionado à figura do agnóstico ou do “insensato que rejeita Deus”, mas toda sorte de desafortunados, pobres e devassos acabou sendo incorporada a essa categoria, a insensatez.

Segundo Michel Foucault em sua “História da Loucura”, até o período final das Cruzadas, se multiplicou enormemente pela Europa o número de leprosários que, gradualmente, perderam a sua função originária para se tornar abrigos povoados de toda sorte de “incuráveis e loucos”.

Um relatório de 1589 de um magistrado de Stuttgart registrou que “há 50 anos já não há mais leprosos na casa que lhes é destinada”. A lepra foi substituída por doenças venéreas, depois excluídas de seu contexto médico para se isolarem em um “espaço moral de exclusão”. Escreve Foucault: “De fato, a verdadeira herança da lepra não é aí que deve ser buscada, mas sim em um fenômeno bastante complexo, do qual a medicina demorará para se apropriar. Esse fenômeno é a loucura”.

O tom principal da exposição, contudo, é dado pela grande quantidade de obras, nas mais diversas técnicas, que mostram a figura do louco como um comediante ou um bufão, um personagem criado para entreter a corte e o povo, mas também alguém que se desvia ou se perde em desvarios graças a uma paixão de amor.

“Mas isso não é tudo”, lembra Antoine-König no catálogo da mostra. “Seja erótico, trágico, violento, paródico ou escatológico, o louco também usa a sua arte para alertar, zombar, denunciar ou derrubar a ordem estabelecida. O louco rompe com os códigos de propriedade da sociedade ao representar os seus excessos.”

Em tempos de “Coringa“, interpretado magistralmente por Joaquin Phoenix, o público não terá dificuldade de entender obras como “Retrato do Louco Olhando Através de seus Dedos”, de Frans Verbeeck (c. 1550). Trata-se de uma pintura de pequenas dimensões, na qual a figura, vestida com um traje em duas cores e trazendo capuz com orelhas de burro, segura na mão direita seus óculos enquanto tenta cobrir o rosto com a mão esquerda, rindo de si mesmo, já que sua ação é inútil.

O louco travestido de palhaço se repete em muitos exemplos na exposição, inclusive com um traje verdadeiro, exposto em uma vitrine, em suas cores verde e vermelho recortadas sobre a túnica com guizos nas pontas. A mesma figura também aparece em uma peça impressionante, um elmo em aço, com as feições do palhaço usando seus óculos de armação em arco, dentes cerrados e longos chifres de carneiro, comissionado a Konrad Seusenhofer em 1511 e dado por Maximiliano 1º como presente para o rei Henrique 8º.

O louco como figura marginal ganhou as páginas dos manuscritos na segunda metade do século 13 —há alguns exemplos expostos. Isso porque ocupam as laterais (marginália) dessas páginas e se multiplicam como formas estranhas, híbridas e grotescas (André Chastel as classificou e estudou na segunda metade do século 20).

Esses monstrinhos são figuras “originárias do mundo das fábulas, dos provérbios ou do imaginário […] que dançam nas margens laterais ou inferiores e parecem brincar com o espaço da página e do texto, se pendurando em arabescos vegetais ou se aninhando nas letras iniciais. Geralmente cômicas, paródicas, às vezes escatológicas ou eróticas, elas parecem estar ali para divertir o leitor e contrastar com um texto (muito) sério”.

Um dos mais sérios é o salmo “o insensato diz em seu coração: não há Deus”, com a figura do louco nu ou com roupas esfarrapadas, gradualmente substituída pela figura do bufão que veste roupas muito coloridas e cheias de acessórios extravagantes. Nessa chave, se encontram imagens como a história lendária do rei Salomão e seu bobo Marcolf e “tradições particulares, como o chapéu de penas do louco, especialmente usado na Itália”.

Não faz parte da exposição (mas bem poderia) a descrição feita por Jean de Léry de um índio tupinambá com as suas imagens correspondentes, associadas ao exógeno e ao bizarro: “Se quiserdes agora figurar um índio, bastará imaginardes um homem nu, bem conformado e proporcionado de membros, inteiramente depilado, de cabelos tosquiados como já expliquei, com lábios e faces fendidos e enfeitados de ossos e pedras verdes, com orelhas perfuradas e igualmente adornadas, de corpo pintado, coxas e pernas riscadas de preto com o suco de jenipapo, e com colares de fragmentos de conchas pendurados ao pescoço […]. Finalmente sob um novo’aspecto ainda podemos dizer que, deixando-o seminu, calçado e vestido com as nossas frisas de cores, com uma das mangas verdes e outra amarela, apenas lhe falta o cetro de palhaço”.

Também na chave religiosa de interpretação da loucura, se encontra na mostra a famosa pintura de Hieronymus Bosch “A Extração da Pedra da Loucura” (1475-1480), pertencente ao acervo do Museu do Prado, em Madri.

Acreditava-se, então, que a razão da loucura humana seria uma pedra incrustada na cabeça e a sua cura, a sua remoção. Mas o quadro de Bosch é uma sátira a tal tradição, mostrando um falso médico que se apresenta com um funil na cabeça em vez de um barrete (o funil representa a estupidez) extraindo não uma pedra de um homem humilde, mas uma pequena flor (símbolo da inocência ou pureza). De seu cinturão, pende um cântaro vazio (que representa a estultice, esvaziada do verdadeiro conhecimento) e seu alforje está atravessado por um punhal, representando a cupidez por dinheiro. São espectadores da ação um padre segurando um frasco de vinho e uma freira em pose melancólica sustentando um livro fechado sobre a sua cabeça (alegorizando a ignorância).

A legenda no quadro diz: “Mestre, extrai-me a pedra, meu nome é Lubber Das”. Lubber Das é um personagem satírico da literatura holandesa que representa a estupidez. Quem, no entanto, é mais estúpido? O idiota que finge ser algo que de fato não é ou aquele que acredita piamente nele?

Outra pintura de Bosch interpreta a sátira “A Nau dos Insensatos” (1494), de Sebastian Brant. Este autor, é claro, criou uma alegoria baseada no Livro VI da “República” de Platão, ironizando os governos que se fundamentam na hipocrisia e na demagogia, pois aqueles que se arrogam como os mais aptos a se tornar o capitão do navio não sabem verdadeiramente pilotá-lo nem se interessam em saber.

A sátira de Brant inspirou Erasmo de Roterdã a escrever o seu “O Elogio da Loucura” (1511), muito lido na Idade Moderna, que alimentou ainda mais o imaginário dos artistas, em especial, do período renascentista, a começar por Hans Holbein, que produziu inúmeras xilogravuras para a sua primeira edição.

No livro de Erasmo, a própria loucura fala sobre si e sua relação com os homens de todas as ocupações —escritores, gramáticos, os homens da lei, os da ciência e os da arte. É nessa obra em que, pela primeira vez, ocorre a inversão de papéis que aparece no conto de Machado de Assis, pois aqueles que realmente se apresentam como sãos (os que detêm bom senso e razão) são, de fato, mais loucos que aqueles que aparentam ser malucos.

Diz Erasmo, personificando a voz da Loucura: “Todas as coisas são de tal natureza que, quanto mais abundante é a dose de loucura que encerram, tanto maior é o bem que proporcionam aos mortais”.

A loucura por amor, tema muito popular na Idade Média, também está presente na exposição. Figura, por exemplo, em um excepcional aquamanil —recipiente usado para derramar água no ritual de lavagem das mãos— datado do final do século 14 representando Aristóteles e Fílis, que monta sobre ele como se fosse um jumento.

Essa peça, cuja finalidade era divertir os convidados reunidos à mesa em um ambiente doméstico, retrata a lenda popular moralizadora, segundo a qual o filósofo grego e tutor de Alexandre, o Grande, se deixou humilhar pela sedutora Fílis para ensinar uma lição ao jovem rei: o poder das mulheres é maior do que possa sonhar a vã filosofia dos homens. Para a curadoria, “um personagem se interpõe entre o amante e sua dama, o louco, que ridiculariza os valores da corte e destaca o caráter lascivo, até obsceno, do amor humano”.

No final do século 18, com a Revolução Francesa, o confinamento de doentes mentais foi posto sob questionamento moral. “O Manicômio” (c. 1812), de Goya, denuncia uma violência transformada em espetáculo, em oposição ao mito do doutor Philippe Pinel libertando os alienados.

Em 1831, Victor Hugo coloca na figura do Quasímodo, o corcunda de Notre Dame, o epíteto de “papa dos loucos”. Por aqui, a figura do louco disforme será construída em torno do Aleijadinho durante o reinado de Dom Pedro 2º, que amava a obra de Hugo.

A exposição termina com exemplos da arte que estava sendo produzida pouco antes do surgimento da psicanálise freudiana. Por exemplo, a pintura “O Homem Louco de Medo” (c. 1844), de Gustave Courbet, elogiado por Émile Zola como um dos fundadores do naturalismo na arte.

A loucura vai passando, pouco a pouco, do campo da alegoria para o terreno da compreensão científica das pulsões, demências e patologias humanas. Sempre somos, no entanto, falados de alguma forma pela presença daquela dama inteligente, bufona e sarcástica ao extremo, da idade em que alimentou o imaginário humano graças às representações artísticas e literárias feitas dela.

Em tempos atuais, em que os principais influenciadores sociais deixaram infelizmente de ser os artistas, é preciso, contudo, adaptá-la a esses agentes mais novos.

Quando, por exemplo, diz a velha senhora, a Loucura (a partir de Erasmo de Roterdã): “Os cômicos, os músicos, os oradores, os poetas — eis aí, eis os melhores amigos do amor próprio! Quanto mais ignorantes, tanto mais perfeitos se julgam em sua arte, e, assim prevenidos em benefício próprio, aproveitam todas as ocasiões para celebrar os próprios louvores. Mas, não penseis que não encontrem quem os aplauda, pois toda tolice, por mais grosseira que seja, sempre encontra seguidores”.





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Uma a cada cinco pessoas no Brasil mora de aluguel

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Uma a cada cinco pessoas no Brasil mora de aluguel

Mariana Tokarnia – Repórter da Agência Brasil

Uma a cada cinco pessoas no Brasil mora de aluguel. Essa porcentagem, que era 12,3% em 2000, vem crescendo desde então e, em 2022, alcançou a marca de 20,9%. Os dados são da pesquisa preliminar do Censo Demográfico 2022: Características dos Domicílios, divulgada nesta quinta-feira (12), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A maior parte dos domicílios alugados é ocupada por pessoas que vivem sozinhas (27,8%) ou famílias monoparentais (35,8%), ou seja, em que apenas um dos pais é responsável pelos filhos – na maioria dos casos, a responsável é a mãe.

Em apenas um município, Lucas do Rio Verde (MT), mais da metade da população residia em domicílios alugados (52%). Entre os municípios com mais de 100 mil habitantes, a maior proporção da população residindo em domicílios alugados foi registrada em Balneário Camboriú (SC), 45,2%, e a menor, em Cametá (PA), 3,1%.

“É difícil apenas pelo Censo a gente ter uma interpretação da causalidade que motivou essa transformação, mas o que a gente pode dizer é que é um fenômeno nacional”, diz o analista da divulgação do Censo, Bruno Mandelli.

“Tradicionalmente, no Brasil, o aluguel é mais comum em áreas de alto rendimento. Então, Distrito Federal, São Paulo, Santa Catarina são regiões que tradicionalmente apresentam uma proporção maior da população residindo em domicílios alugados. Mas a gente aponta um aumento [dos aluguéis] em relação a 2010, em todas as regiões do país”, explica.

Em 1980, 19,9% da população morava de aluguel. Essa porcentagem caiu para 14,1% em 1991 e 12,3% em 2000. Em 2010, houve um aumento, para 16,4% e, em 2022, a tendência se manteve, alcançando 20,9%.

Segundo o estudo, os aluguéis são também a opção da população mais jovem. A participação dos domicílios alugados demonstra crescimento expressivo na passagem da faixa de 15 a 19 anos para a faixa de 20 a 24 anos, atingindo a maior participação, para as pessoas de 25 a 29 anos – 30,3% dessa faixa etária estão em moradias alugadas.

“Essas faixas etárias coincidem com idades típicas de processos muitas vezes associados à saída do jovem da casa de seus pais, como ingresso no mercado de trabalho ou no ensino superior. Nas faixas etárias seguintes, a proporção decai gradualmente, até atingir o menor valor, 9,2%, no grupo de idade mais elevada (70 anos ou mais)”, analisa a publicação. 

Domicílios no Brasil

A pesquisa é relativa aos chamados domicílios particulares permanentes ocupados. Não inclui moradores de domicílios improvisados e coletivos, tampouco domicílios de uso ocasional ou vagos.

Segundo os dados do Censo, no Brasil, dos 72,5 milhões de domicílios particulares permanentes ocupados no Brasil em 2022, 51,6 milhões eram domicílios próprios de um dos moradores, o que corresponde a 71,3% dos domicílios particulares permanentes ocupados, ou seja, a maior parte é de domicílios próprios.

Em relação à população brasileira, dos 202,1 milhões de moradores de domicílios particulares permanentes em 2022, 146,9 milhões moravam em domicílios próprios, representando 72,7%.

Dentre as pessoas que vivem em domicílios próprios, em 2022, 63,6% da população residia em domicílios próprios de algum morador já pago, herdado ou ganho e 9,1% em domicílios próprios que ainda estão sendo pagos.

Em números, os domicílios alugados são 16,1 milhões, o que representa 22,2% do total de domicílios particulares permanentes. Nesses domicílios, moravam 42,2 milhões de pessoas, representando 20,9% do total de moradores de domicílios particulares permanentes.

Foram identificados ainda os domicílios cedidos ou emprestados, que não são próprios de nenhum dos moradores, mas eles estão autorizados pelo proprietário a ocuparem o domicílio sem pagamento de aluguel. Essa condição de ocupação reuniu 5,6% da população brasileira em 2022. Dentro dessa categoria estão as pessoas que vivem em domicílio cedido ou emprestado por familiar (3,8%), cedido ou emprestado por empregador (1,2%) e cedido ou emprestado de outra forma (0,5%).

O restante da população (0,8%) está em domicílios que não se enquadram em nenhuma das categorias analisadas.

Resultados preliminares

Esta é a primeira divulgação do questionário amostral do Censo Demográfico 2022. O questionário foi aplicado a 10% da população e, de acordo com o próprio IBGE, os dados precisam de uma ponderação para que se tornem representativos da população nacional. Essa ponderação ainda não foi totalmente definida, por isso, a divulgação desta quinta-feira é ainda preliminar.

A delimitação das áreas de ponderação passará ainda por consulta às prefeituras, para que as áreas estejam aderentes ao planejamento da política pública. Após essa definição, serão divulgados os dados definitivos.


arte situação dos domicílios
arte situação dos domicílios

 



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Banco Central Europeu reduz taxas pela quarta vez este ano | Banco Central Europeu

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Banco Central Europeu reduz taxas pela quarta vez este ano | Banco Central Europeu

Reuters

O Banco Central Europeu reduziu as taxas de juro pela quarta vez este ano e manteve a porta aberta a uma maior flexibilização em 2025, à medida que o crescimento sofre o impacto da instabilidade política interna e do risco de uma nova guerra comercial com os EUA.

O BCE tem vindo a flexibilizar rapidamente a política monetária este ano, à medida que as preocupações com a inflação se evaporaram em grande parte e o debate passou a centrar-se na questão de saber se está a reduzir as taxas com rapidez suficiente para apoiar uma economia estagnada que está a ficar para trás em relação aos seus pares globais.

Prevendo que a inflação voltará ao seu objetivo de 2% no início de 2025 e que o crescimento permanecerá lento, o BCE baixou a sua taxa de depósito de 3,25% para 3%, em linha com as expectativas, e alterou a sua orientação, que provavelmente será tomada como uma sugestão de novos cortes nas taxas.

“A maioria das medidas de inflação subjacente sugerem que a inflação se estabilizará em torno da meta de médio prazo de 2% do Conselho do BCE numa base sustentada”, disse o BCE, eliminando uma promessa anterior de manter a política “suficientemente restritiva”.

Ao eliminar esta referência à política restritiva, o BCE sinaliza um regresso a um cenário de política pelo menos neutro, onde não estimula nem retarda o crescimento.

Contudo, este sinal foi mais fraco do que muitos economistas esperavam, especialmente tendo em conta o aviso de que a inflação interna continua elevada.

Embora “neutro” seja um termo impreciso, a maioria dos decisores políticos coloca-o entre 2% e 2,5%, sugerindo que novos cortes nas taxas estão a ocorrer antes de o BCE chegar lá.

No entanto, o banco insistiu que não estava se comprometendo com nenhuma política específica e disse que manteria a opcionalidade.

“O conselho do BCE não está pré-comprometido com uma trajetória de taxa específica”, disse o BCE.

Embora os economistas tenham sido quase unânimes na previsão da medida de quinta-feira, muitos reconheceram que um corte maior também seria justificado, dada a deterioração das perspectivas de crescimento e a rápida retração da inflação.

Estas foram precisamente as razões pelas quais o Banco Nacional Suíço cortou a sua própria taxa básica em 50 pontos base, mais do que o previsto no início do dia, levando a taxa de referência para apenas 0,5%.

O SNB disse que as tensões geopolíticas, incluindo a política comercial dos EUA, podem resultar num crescimento mais fraco e Europa também enfrentava incerteza política.

Embora nenhum decisor político do BCE tenha defendido explicitamente um corte de 50 bases antes da reunião, vários salientaram que os riscos de menor crescimento e inflação estavam a aumentar.

Estes receios foram confirmados nas próprias projecções económicas do BCE, que mostraram que o crescimento será inferior às expectativas já moderadas e que uma recuperação seria superficial e atrasada.

Com a Alemanha a enfrentar eleições antecipadas, a França a lutar para encontrar um governo estável e o novo presidente dos EUA, Donald Trump, a ameaçar com tarifas punitivas, as perspectivas são dominadas por riscos descendentes.



Leia Mais: The Guardian



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O que aconteceu com a pequena Sara Sharif e a Grã-Bretanha a decepcionou? | Notícias sobre direitos da criança

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O que aconteceu com a pequena Sara Sharif e a Grã-Bretanha a decepcionou? | Notícias sobre direitos da criança

Sara Sharif tinha apenas 10 anos quando foi tragicamente encontrada morta em sua casa no Reino Unido no ano passado.

Na quarta-feira, seu pai e sua madrasta foram considerados culpados por um júri em Old Bailey, em Londres, por seu assassinato, após um julgamento que ouviu sobre os anos de repetidas torturas e abusos que a criança sofreu.

Então, o que aconteceu com Sara e o que acontecerá a seguir?

Aviso: este explicador contém detalhes que podem ser angustiantes.

O que aconteceu com Sara Sharif?

O pai de Sara, Urfan Sharif, 43, motorista de táxi, e a madrasta, Beinash Batool, 30, foram condenados esta semana pelo assassinato dela em 8 de agosto de 2023, depois de abusar dela e torturá-la por pelo menos dois anos.

A decisão do tribunal ocorreu no final de um julgamento com júri que durou 10 semanas no Tribunal Criminal Central da Inglaterra e País de Gales, também conhecido como Old Bailey, em Londres.

Estes são alguns dos principais momentos de antes e durante o julgamento:

10 de agosto de 2023: Sara Sharif é encontrada morta

Sara foi encontrada morta pela polícia debaixo de um cobertor em um beliche na casa de sua família em Woking, uma cidade em Surrey, cerca de 36 quilômetros a sudoeste de Londres.

Ela morava lá com o pai, a madrasta e o tio, o irmão de Sharif, Faisal Malik, de 29 anos, que segundo a mídia britânica era um estudante da Universidade de Portsmouth que trabalhava meio período no McDonald’s. Malik foi considerado culpado da acusação menor de “causar ou permitir” a morte de Sara.

Um dia antes do corpo de Sara ser descoberto, Malik, Sharif e Batool, juntamente com cinco irmãos de Sara com idades entre um e 13 anos na altura, voaram num voo da British Airways para a capital do Paquistão, Islamabad.

(Da esquerda para a direita) Urfan Sharif, Beinash Batool e Faisal Malik, respectivamente pai, madrasta e tio da menina britânico-paquistanesa Sara Sharif, sob custódia (Folheto/Polícia de Surrey via AFP)

Uma hora depois do voo pousar no Paquistão, Sharif telefonou para a Polícia de Surrey. A ligação durou oito minutos e 34 segundos, foi informada em audiência anterior. Durante a ligação, Sharif disse à polícia que havia “punido legalmente” sua filha. “Não era minha intenção matá-la, mas bati nela demais”, disse ele.

Ao lado do corpo dela, a polícia encontrou um bilhete manuscrito que dizia: “Fui eu, Urfan Sharif, que matei minha filha espancando” e “Não era minha intenção matá-la, mas perdi”. A carta, endereçada a quem a encontrou, concluía: “Talvez eu volte antes de você terminar a autópsia”.

15 de agosto de 2023: a autópsia de Sara é realizada

O relatório post-mortem disse que não foi possível concluir a causa precisa da morte de Sara, mas encontrou sinais de “ferimentos múltiplos e extensos, sofridos durante um longo período de tempo”, disse a Polícia de Surrey.

Em Outubro, o Dr. Nathaniel Cary, patologista forense consultor, prestou depoimento ao tribunal durante o julgamento, apresentando as suas conclusões do relatório post-mortem. Cary disse que Sara sofreu pelo menos 71 ferimentos externos antes de ser morta. Segundo a polícia, ela sofreu pelo menos 100 ferimentos internos e externos.

Isso incluía feridas e hematomas, um resultado provável de “trauma contuso repetitivo” e “impacto contundente ou pressão sólida, ou ambos”, disse Cary.

Sinais de ulceração também foram encontrados no corpo de Sara, que Cary especulou ter sido causada por queimadura. A polícia também disse ter encontrado queimaduras de água fervente nos pés de Sara, além de marcas de mordidas.

O relatório post-mortem também descobriu que Sara sofreu pelo menos 25 fraturas e um traumatismo cranioencefálico.

O tribunal ouviu que Sara sofreu abusos físicos durante mais de dois anos.

Sara foi retirada da Escola Primária St Mary em Woking duas vezes, uma em junho de 2022 e outra em abril de 2023, para estudar em casa. Os promotores disseram que Sara foi obrigada a usar o hijab a partir de janeiro de 2023, provavelmente para cobrir seus ferimentos.

Esta fotografia sem data divulgada pela Polícia de Surrey em 17 de outubro de 2024 mostra a garota britânico-paquistanesa Sara Sharif posando para um retrato
Sara Sharif tinha apenas 10 anos quando foi encontrada morta (Folheto/Polícia de Surrey via AFP)

A amiga de Sara, referida apenas como “Ava”, disse à Sky News num vídeo transmitido na quarta-feira que, em abril de 2023, Sara chegou à escola coberta de hematomas. “Ela me disse que caiu da bicicleta, mas eu simplesmente sabia”, disse Ava.

Ao revistar a casa da família Sharif em agosto de 2023, a polícia encontrou um taco de críquete com o sangue de Sara e capuzes de sacos plásticos do tamanho certo para colocar sobre sua cabeça. O promotor Bill Emlyn Jones KC disse que um poste de metal, um cinto e uma corda também foram encontrados perto do banheiro externo da família.

Mensagens de texto que Batool enviou para sua irmã em maio de 2021 também foram mostradas no tribunal. “Urfan deu uma surra em Sara. Ela está coberta de hematomas, literalmente espancada”, dizia uma das mensagens.

“Tenho muita pena da Sara, a pobre menina não consegue andar. Eu realmente quero denunciá-lo. No entanto, Batool nunca denunciou o abuso às autoridades.

13 de setembro de 2023: Sharif, Batool e Malik são presos

Os três adultos da casa de Sara esconderam-se no Paquistão, em casas de parentes nas cidades de Sialkot e Jhelum, no norte do país, informou a BBC.

A polícia paquistanesa, alertada pela Interpol, lançou uma busca de alto nível em todo o país para localizá-los. Após uma operação bem-sucedida na casa do pai de Sharif em Jhelum, em 9 de setembro de 2023, a polícia extraiu todas as outras cinco crianças. Um tribunal ordenou que as crianças fossem colocadas num orfanato no Paquistão, informou a BBC. Sharif e Batool não estavam presentes na casa no momento da operação.

Sharif, Batool e Malik regressaram voluntariamente ao Reino Unido em 13 de setembro. Sete minutos depois do avião aterrissar, os policiais embarcaram na aeronave e os prenderam em seus assentos de primeira classe no avião no aeroporto de Gatwick.

Vídeos separados de entrevistas policiais com Sharif, Batool e Malik – feitos em 14 de setembro de 2023 e divulgados na quarta-feira desta semana – mostram os três calados quando questionados sobre a morte de Sara e dando uma resposta de “sem comentários” à maioria das perguntas.

Em 15 de setembro de 2023, os três foram acusados ​​pela polícia de homicídio e de causar ou permitir a morte de uma criança, e foram detidos sob custódia até julgamento.

14 de dezembro de 2023: Sharif, Batool e Malik se declaram ‘inocentes’

Todos os três se declararam inocentes de assassinato ou de causar ou permitir a morte de Sara.

13 de novembro de 2024: Sharif aceita a responsabilidade pela morte de Sara

O julgamento começou em 7 de outubro de 2024.

Sharif inicialmente negou ter participado da morte de Sara, voltando às confissões feitas durante o telefonema e ao bilhete que deixou ao lado do corpo dela.

No início do julgamento, ele disse que assumiu a responsabilidade de proteger a sua família e culpou Batool pela morte de Sara, alegando que estava a trabalhar quando o abuso ocorreu. Ele alegou que era plano de Batool fugir para o Paquistão e que Batool havia ditado sua nota de confissão. Batool e Malik não prestaram depoimento durante o julgamento.

No entanto, em 13 de novembro, Sharif finalmente assumiu a responsabilidade pelo assassinato de sua filha, dizendo aos jurados: “Aceito tudo”. Especificamente, Sharif aceitou que havia causado ferimentos e fraturas em Sara, além das marcas de mordidas e queimaduras. Ele também aceitou ter batido na filha com um taco de críquete.

“Eu não queria machucá-la. Eu não queria machucá-la”, disse ele.

Quem é a mãe de Sara Sharif?

A mãe biológica de Sara é Olga Domin, 38 anos. Ela é originária da Polônia e voltou para lá logo após a morte de Sara, tendo vivido no Reino Unido por mais de 10 anos.

O jornal britânico Daily Mail informou que Sara está agora enterrada na Polónia, perto de onde vive a sua mãe.

Depois que Sharif veio do Paquistão para o Reino Unido com visto de estudante em 2003, Domin e Sharif se casaram em 2009. Eles se separaram em 2015 depois que cada um acusou o outro de abuso durante uma batalha judicial pela residência de sua filha, Sara. No final das contas, Sharif ganhou residência em 2019.

Durante o julgamento, o tribunal ouviu que duas outras mulheres polacas, além da mãe de Sara, também denunciaram Sharif à polícia por abuso físico. Segundo a mídia do Reino Unido, uma dessas mulheres o denunciou em 2007.

Quando Sharif, Batool e Malik foram presos, a Polícia de Surrey divulgou uma atualização dizendo que Domin havia sido informado e estava sendo apoiado por policiais especializados.

Segundo o site da Polícia de Surrey, Domin prestou homenagem à filha, dizendo: “Minha querida Sara, peço a Deus que cuide da minha filhinha, ela foi levada muito cedo.

“Sara tinha lindos olhos castanhos e uma voz angelical. O sorriso de Sara poderia iluminar a sala mais escura.

“Todos que conheceram Sara conhecerão seu caráter único, seu lindo sorriso e sua risada alta.

“Ela sempre estará em nossos corações, seu riso trará calor às nossas vidas. Sentimos muita falta de Sara. Amo você, princesa.

Esta fotografia de folheto sem data divulgada pela Polícia de Surrey em 17 de outubro de 2024,
A mãe de Sara, Olga Domin, falou dos “lindos olhos castanhos e voz angelical” de sua filha (Folheto/Surrey Police via AFP)

Alguém já relatou sinais de que Sara estava sendo abusada?

Sim.

Em diversas ocasiões, durante os meses anteriores à sua retirada da escola, os professores de Sara levantaram preocupações sobre os hematomas no seu corpo junto dos serviços sociais do Conselho do Condado de Surrey. Uma investigação foi aberta, mas encerrada seis dias depois que o conselho recebeu a informação de que os pais de Sara a haviam tirado da escola.

Sharif e Batool foram denunciados aos serviços sociais ou ao sistema de monitoramento on-line de proteção infantil da escola de Sara em várias outras ocasiões, mas esses relatórios não levaram a qualquer investigação adicional.

A comissária infantil da Inglaterra, Rachel de Souza, disse à BBC que Batool e Sharif nunca deveriam ter sido autorizados a educar Sara em casa se os professores tivessem notado possíveis sinais de abuso. “Se uma criança é suspeita (vítima) de abuso, ela não pode ser educada em casa”, disse ela.

Ela acrescentou que o governo está actualmente a planear uma lei sobre o bem-estar das crianças que irá introduzir um registo de todas as crianças educadas em casa. Tal registo não existe actualmente. O comissário disse que uma isenção nas leis de agressão que permite o “castigo razoável” de crianças também deveria ser removida.

O que acontecerá a seguir?

Sharif, Batool e Malik serão sentenciados em 17 de dezembro em Old Bailey, Londres.

Quando o juiz John Cavanagh suspendeu a sentença esta semana, ele disse aos jurados que o caso havia sido “extremamente estressante e traumático”.

“Ver as imagens de Sara rindo e brincando mesmo quando ela tinha sinais de ferimentos em seu corpo e sabendo que ela era uma criança feliz na escola – ela adorava cantar e dançar – e saber o que aconteceu com ela, essas são as partes mais comoventes de o caso”, disse Libby Clark, promotora especialista do Crown Prosecution Service.

A BBC informou na quarta-feira que todos os cinco irmãos de Sara que viajaram para o Paquistão com a família permanecem no Paquistão. A mídia paquistanesa informou que três das crianças eram de Batool.



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