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O barulho das panelas: Por que os manifestantes eleitorais em Moçambique se recusam a ir embora | Política

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Maputo, Moçambique – Às 19 horas do dia 4 de Novembro, as ruas de Maputo caíram num silêncio assustador.

Os transportes públicos estavam paralisados, aderindo ao apelo do líder da oposição Venâncio Mondlane para o encerramento.

Então, um barulho constante começou. Moradores de arranha-céus ricos e blocos de apartamentos no centro da cidade juntaram-se em um coro coordenado de um protesto violento.

Conhecida como “panelaco”, esta forma de protesto surgiu como uma forma poderosa de expressar frustrações sobre a situação de Moçambique. resultados contestados das eleições geraispermitindo aos cidadãos expressar a sua dissidência sem enfrentar o risco imediato de retaliação policial. O barulho e o clangor ecoaram pelo horizonte da cidade, marcando o início do que se tornariam expressões noturnas de frustração, unindo os moradores apesar das divisões de classe.

Desde as eleições de 9 de Outubro, a declaração do candidato presidencial da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), no poder Daniel Chapo como vencedor provocou intenso descontentamento. Segundo a Comissão Nacional de Eleições (CNE), Chapo recebeu 71 por cento dos votos e Mondlane, um candidato independente, recebeu 20 por cento.

No entanto, mesmo a CNE admitiu “várias irregularidades”, levando o Conselho Constitucional a rever a integridade das eleições.

Mondlane rejeitou abertamente os resultados e proclamou-se o legítimo vencedor. Dias depois, em 19 de outubro, seu advogado Elvino Dias foi assassinadointensificando ainda mais a indignação pública em relação aos resultados eleitorais, nos quais muitos eleitores não acreditam. Dias, uma figura central na equipa jurídica que contesta os resultados oficiais, estava a preparar um caso alegando fraude eleitoral.

‘Voz dos sem voz’

Nas semanas seguintes, Maputo testemunhou uma série de protestos — demonstrações barulhentas de dissidência à noite, mas também apelos de Mondlane apelando aos manifestantes para encerrarem locais economicamente vitais, de Maputo às capitais provinciais, portos e principais pontos de passagem fronteiriços.

Os trabalhadores foram incentivados a ficar longe do trabalho, as empresas foram fechadas e as pessoas reuniram-se para protestar em cidades de todo o país.

Estes apelos à intensificação dos confinamentos tornaram-se mortais em diversas regiões. ONGs relataram que pelo menos 30 pessoas foram mortas desde o início dos protestos, inclusive em confrontos violentos com a polícia.

A agitação teve impacto no comércio regional, principalmente no posto fronteiriço do Lebombo com a África do Sul, que foi temporariamente fechado devido a manifestações na cidade vizinha de Ressano Garcia, interrompendo uma rota crítica para mercadorias e passageiros.

O estudante de engenharia ambiental Henrique Amilcar Calioio juntou-se aos protestos em Maputo, onde jovens gritavam “poder ao povo” em português e foram recebidos com gás lacrimogêneo da polícia.

“Apesar de não causar nenhum dano ou dano, tivemos que nos dispersar”, disse ele.

Posteriormente, Calioio juntou-se aos protestos noturnos e bateu tachos e panelas como forma de gritar contra o que chama de governo opressor.

“Foi inspirador ouvir as pessoas se unindo por uma causa maior”, disse ele à Al Jazeera sobre os protestos do panelaco. Ele disse que o bater das panelas representa a “voz dos sem voz”.

Uma noite, durante a batida coordenada de maconha, veículos da polícia passaram pelo prédio onde Calioio mora e espalharam gás lacrimogêneo que entrou nas casas, incluindo a de Calioio, deixando-o com dores extremas.

“É chocante que, mesmo em nossas casas, sejamos proibidos de protestar”, disse ele.

‘Todos fazem o que Mondlane diz’

Shenaaz Jamal, professora em Maputo, acusou a polícia de ser “muito, muito dura”.

Ela descreveu seus deslocamentos diários entre casa e trabalho sob o sombra de veículos militares e caminhões da polícia estacionados nas principais vias da cidade.

Nos dias em que os manifestantes atendem aos apelos de Mondlane para encerramentos a nível nacional, ela é forçada a dar aulas online, embora isso tenha sido um desafio devido aos apagões periódicos da Internet e das redes sociais impostos pelo governo. Os sinais telefônicos também foram interrompidos de forma intermitente.

“Os dias anteriores foram um caos”, ela lembrou. “Eu podia ouvir tiros sendo disparados. Foi uma loucura. E o que me frustra é que nem conseguimos nos comunicar. Eu não podia usar meu telefone para ligar para ninguém. Você não pode dizer à sua família que está bem.”

Jamal disse que os protestos e a resposta dos moçambicanos – especialmente a aparente adesão das pessoas aos apelos de Mondlane para encerramentos a nível nacional – são provas de que os resultados eleitorais formais foram duvidosos.

“Todos fazem o que Mondlane diz”, disse ela.

“A questão que está na boca de todos é: se ele obteve apenas 20 por cento e a Frelimo ganhou com 70 por cento, como é que todos estão a seguir o que ele diz?”

‘Forte desencanto’

Sam Jones, investigador sénior do Instituto Mundial de Investigação Económica para o Desenvolvimento, uma parte da Universidade das Nações Unidas, acredita que os protestos têm raízes socioeconómicas mais profundas, para além de uma única eleição.

“Moçambique tem sido atormentado pela estagnação económica e as pessoas estão frustradas”, explicou Jones.

“Há uma sensação cumulativa de que o país não está no caminho certo. Tivemos 10 anos de quase nenhum crescimento económico e há um forte desencanto com a elite dominante. Mondlane conseguiu conectar-se eficazmente com os jovens, mobilizando-os de uma forma que nunca vimos antes.”

Em resposta, Bernardino Rafael, comandante da Polícia da República de Moçambique, condenou os protestos como “terrorismo urbano”, alegando que a sua intenção é desestabilizar a ordem constitucional.

No entanto, muitos vêem o resposta do governo como desproporcionalmente agressivo. Para Jamal, as cenas de agitação têm uma familiaridade assustadora. Os seus pais fugiram de Moçambique há mais de 30 anos para escapar à guerra civil, e agora ela teme que uma violência semelhante possa voltar a engolir a sua terra natal.

Jones disse que a resposta do estado apenas intensificou o conflito.

“A polícia respondeu vigorosamente com gás lacrimogéneo, balas de borracha e até munições reais. Em muitos casos, a violência resultou das respostas brutais das forças de segurança, o que apenas aprofundou o ressentimento entre os manifestantes.”

Escassez de alimentos

A agitação prolongada começou a afectar o abastecimento de alimentos em Maputo, num país que depende fortemente das importações da África do Sul.

“Há ansiedade em torno da escassez de alimentos porque a região fronteiriça sofreu protestos e até encerramentos de fronteiras em diversas ocasiões”, disse Jones.

Siphiwe Nyanda, alto comissário da África do Sul em Moçambique, reconheceu a tensão transfronteiriça, observando que os supermercados em Maputo sofreram escassez directamente devido a interrupções na cadeia de abastecimento relacionadas com os protestos.

“Está a causar sérios problemas tanto a Moçambique como à África do Sul, especialmente às cidades fronteiriças que dependem do comércio”, disse ele, acrescentando que a fronteira do Libombo, uma das mais movimentadas da região, serve como uma rota comercial crucial.

“Os protestos criaram um efeito cascata que afecta não só as economias locais, mas também os passageiros e a vida quotidiana em locais como (a cidade fronteiriça da África do Sul) Komatipoort, que depende dos trabalhadores e do comércio moçambicanos.”

A crise em curso terá levado a perdas económicas estimadas em 10 milhões de rands (550 mil dólares) por dia para a África do Sul, de acordo com Gavin Kelly, CEO da Associação Sul-Africana de Frete Rodoviário.

Em Moçambique, mais de 150 lojas foram vandalizadas, com danos estimados em 369 milhões de dólares, agravando ainda mais a turbulência económica.

Agora, a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, o bloco regional de 16 nações, agendou uma cimeira de emergência em Harare, no sábado, para resolver a crise.

De volta a Maputo, porém, Jones acredita que os protestos ganharam vida própria – a sua escala e persistência são incomuns em Moçambique e uma indicação de uma raiva que os políticos e diplomatas do país e da região não serão capazes de reprimir facilmente. .

“Já vimos protestos pós-eleitorais antes, mas raramente foram tão sustentados. Normalmente, depois de alguns dias, as pessoas ficam cansadas, principalmente quando parece que nada vai mudar”, disse ele.

“Desta vez, a participação foi mais ampla e intensa, refletindo não apenas as queixas eleitorais, mas também uma insatisfação mais profunda com o status quo.”



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17ª Semana Acadêmica de Medicina Veterinária começa na Ufac — Universidade Federal do Acre

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A Ufac realizou, na manhã desta segunda-feira, 8, no Teatro Universitário, campus-sede, a abertura da 17ª Semana Acadêmica de Medicina Veterinária (Savet). O evento reúne professores, estudantes e profissionais convidados em uma programação com palestras, minicursos e mesas-redondas, que seguem até sexta-feira, 12.

O vice-reitor da Ufac, Josimar Batista Ferreira, ressaltou a importância das semanas acadêmicas para o processo formativo. Segundo ele, iniciativas como a Savet ampliam a integração entre ensino, pesquisa e extensão, aproximando os estudantes da sociedade e das entidades de classe. “Esse tipo de evento contribui para formação, melhora a relação com a sociedade e fortalece o aprendizado interno dos alunos.”

Representando o corpo discente, a presidente do Centro Acadêmico de Medicina Veterinária, Anny Marcely, destacou o protagonismo dos estudantes na organização do evento. Ela lembrou que a Savet é planejada pelos alunos para os alunos, com apoio de professores e parceiros. “Organizar uma semana acadêmica exige dedicação e parceria. É uma oportunidade de ampliar contatos, dialogar com profissionais e abrir portas para pesquisas e projetos futuros.”

O professor Gabriel Barbosa, que integra a comissão organizadora, reforçou o caráter consolidado do evento, agora em sua 17ª edição. “É um momento em que os alunos demonstram capacidade de organização e, ao mesmo tempo, têm acesso a novos conhecimentos. A Savet envolve palestras, minicursos e o contato direto com profissionais e patrocinadores, fortalecendo tanto a formação acadêmica quanto a prática de gestão.”

A programação iniciou nesta segunda-feira, com palestra magna do professor Henrique Jorge de Freitas, com o tema “Construindo Caminhos na Medicina Veterinária: Vivências, Escolhas e Propósitos”. Nos próximos dias, haverá mesas-redondas sobre a vivência profissional pós-formação, seção de banners e apresentação de trabalhos. A agenda contempla ainda palestras técnicas nas áreas de pequenos animais, animais de produção, silvestres e saúde pública, além de minicursos como eletrocardiograma, anestesia em equinos, diagnóstico de gestação e práticas de anatomia e patologia.

Também participaram da mesa de abertura a pró-reitora de Graduação, Ednaceli Damasceno; o coordenador do curso de Medicina Veterinária, Leonardo Melchior; e o vice-presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Acre, Jessé Moreira Campos.



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Ufac realiza abertura da 17ª Semana Florestal no campus-sede — Universidade Federal do Acre

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Ufac realiza abertura da 17ª Semana Florestal no campus-sede.jpg

A Ufac e o Centro Acadêmico de Engenharia Florestal (Caef) iniciaram, nessa segunda-feira, 1, no anfiteatro Garibaldi Brasil, a 17ª Semana Florestal. Com o tema “Manejo Florestal Comunitário na Amazônia”, o evento tem como objetivo fortalecer o debate sobre o uso sustentável dos recursos florestais e integrar os conhecimentos científicos e tradicionais, promovendo o protagonismo das comunidades amazônicas. A programação segue até sexta-feira, 5.

O vice-reitor da Ufac, Josimar Ferreira, agradeceu a presença das autoridades e professores da instituição e do campus Floresta, em Cruzeiro do Sul. Aos estudantes, deixou uma mensagem de incentivo. “Aproveitem este momento. As semanas acadêmicas são oportunidades para planejar e orientar, junto aos nossos parceiros, o futuro da universidade. Elas são fundamentais para o fortalecimento da nossa instituição.”

O coordenador do programa de pós-graduação em Ciência Florestal e coordenador da semana, Paulo Trazzi, destacou a importância da iniciativa e agradeceu o empenho dos envolvidos na realização do evento, o Programa de Educação Tutorial Floresta, o Caef, além de docentes e discentes que contribuíram para a construção da programação.

O presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), Jorge Viana, palestrou sobre o tema central da semana, com foco nas mudanças climáticas. Em sua apresentação, compartilhou sua experiência profissional, apresentou dados globais sobre os impactos ambientais, destacou as oportunidades da bioeconomia e mostrou como esse setor tem crescido no exterior. Ele ressaltou ainda que os engenheiros florestais desempenham um papel essencial nesse processo e apresentou o trabalho desenvolvido pela Apex-Brasil, voltado à valorização e à expansão de negócios sustentáveis.

No início da programação, houve a apresentação cultural do coletivo Mapu Huni Kuin e da cantora e ex-aluna de Engenharia Florestal, Alcineia Galdino.

Também compuseram o dispositivo de honra na abertura o diretor do CCBN, José Ribamar Lima; o coordenador do curso de Engenharia Florestal, Givanildo Ortega; a presidente do IMC, Jaksilande Araújo; a diretora técnica da Funtac, Suelen Farias; o diretor de Desenvolvimento Territorial da Seplan, Marky Brito; o diretor estadual da Mútua, Luciano Sasai; o coordenador territorial substituto do ICMBio, Giordano Anastácio; a conselheira do Crea, Gabriele Viana, que na ocasião representou a presidente da instituição; e a presidente da Aefea, Aldione Lessa.

(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)

 

 

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Ufac inaugura novo laboratório de informática do CCJSA — Universidade Federal do Acre

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A reitora da Ufac, Guida Aquino, entregou o novo laboratório de informática do Centro de Ciências Jurídicas e Sociais Aplicadas (CCJSA). A cerimônia de inauguração ocorreu nessa quinta-feira, 28, no prédio do centro. O espaço tem como objetivo fortalecer o ensino e a pesquisa na unidade acadêmica, oferecendo melhores condições de aprendizado e conforto aos estudantes, além de atender às demandas de professores.

O laboratório conta com computadores modernos, adquiridos com investimentos da universidade e apoio de emendas parlamentares. O CCJSA abriga os cursos de Direito, Economia e Contabilidade, este o mais novo, com alunos da primeira turma matriculados em 2023. Todos serão beneficiados com o novo espaço.

A reitora Guida Aquino destacou a satisfação em disponibilizar a estrutura. “Estamos muito felizes por entregar um laboratório tão bem estruturado, que servirá de apoio não apenas para o aprendizado teórico, mas também para a prática. Este espaço representa um avanço significativo para os cursos de Economia, Contabilidade e Direito.”

 

A importância da iniciativa também foi ressaltada pelo diretor do CCJSA, Francisco Raimundo Alves Neto; pela coordenadora do curso de Direito, Sabrina Cassol; pela coordenadora de Ciências Contábeis, Oleides Francisca; e pela vice-coordenadora de Economia, Gisele Elaine. Eles agradeceram o empenho da universidade e dos parceiros, lembrando que, antes, os cursos não contavam com um espaço desse porte e agora terão condições adequadas para desenvolver atividades práticas.

O momento contou ainda com a participação de parceiros. O representante da Alterdata Software, Evaldo Bezerra, informou que a empresa disponibiliza seu sistema para ampliar a prática da contabilidade entre os estudantes. Já o representante da Campos & Lima, Hugo Viana, destacou o apoio da empresa na capacitação dos futuros contadores e mencionou que a CEO, Camila Lima, ficou muito feliz em apoiar o projeto, considerando a parceria uma forma de contribuir para a formação de profissionais mais preparados.

(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)

 



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