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Participação eleitoral sobe nos EUA e cai no Brasil – 14/11/2024 – Poder

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Júlia Barbon

Recém-saídos das urnas, Brasil e Estados Unidos vivenciam movimentos opostos no engajamento de seus eleitores. Enquanto os americanos, que têm voto facultativo, veem suas taxas de participação crescerem, os brasileiros, com voto obrigatório, observam uma redução nas últimas eleições.

O país que elegeu novamente Donald Trump na semana passada elevou os patamares de comparecimento desde 2018, tanto nos pleitos gerais quanto nos de meio de mandato, considerando os últimos 20 anos —apesar de ter registrado queda na última edição em relação à anterior.

Já no Brasil, a presença caiu aos seus mais baixos níveis em duas décadas, levando-se em conta o primeiro turno das eleições nacionais e municipais. No geral, aqui votam 8 em cada 10 eleitores. Lá, são seis, ou menos de cinco no caso do pleito intermediário, visto como uma espécie de referendo sobre o apoio ao governo.

Neste ano, participaram 63,5% dos cidadãos americanos aptos a votar, o segundo maior índice dos últimos cem anos, perdendo apenas para 2020. Por outro lado, no Brasil, compareceram 79,2% dos eleitores registrados na eleição presidencial de 2022, a menor taxa desde 2002.

Os dois países têm sistemas e culturas eleitorais bastante diferentes. Além da distinção da obrigatoriedade, que por aqui vale para adultos de 18 a 70 anos de idade, os EUA permitem votos antecipados e pelo correio, e definem o resultado a partir do vencedor nos estados, e não pela maioria absoluta.

“Nos EUA, a abstenção pode ser decisiva, pela forte polarização e pelo sistema bipartidário. No Brasil ela é menos determinante para a vitória de um ou outro candidato, porque há muitos partidos”, lembra o cientista político Christian Lynch, professor da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).

“Mas a abstenção passou a ter mais peso ultimamente em eleições majoritárias de segundo turno, com a maior polarização aqui também”, diz ele, observando que os candidatos norte-americanos estão habituados a incentivar os eleitores a sair de casa.

“Aqui você considera que eles sairão e que haverá uma taxa de abstenção.”

O tamanho dessa taxa, porém, preocupou o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) no segundo turno destas eleições municipais: 29% não compareceram, nível parecido ao de 2020, em alta desde 2000. “A gente vai ter que apurar em cada local”, afirmou a ministra Cármen Lúcia, presidente da corte, após a divulgação dos resultados.

Aqui, é o tribunal quem contabiliza a presença de eleitores registrados, enquanto nos Estados Unidos não há um órgão eleitoral nacional. Por isso os dados são do Election Lab, da Universidade da Flórida, que faz a projeção desde 1789, com base na presença registrada em relatórios estaduais.

Entre as hipóteses para a queda da participação no Brasil estão, por um lado, a maior facilidade em justificar o voto por aplicativo nos últimos quatro anos e, por outro, uma substituição do voto em branco ou nulo (ambos estão diminuindo) pela abstenção, segundo o cientista político Lucas Gelape, que pesquisa o tema em seu pós-doutorado na FGV-SP.

Ele afirma que estudos sobre o tema estão em fase inicial e se diz cético quanto à teoria de uma crise de representatividade, defendida por outros especialistas.

“Pode até ser, mas textos da década de 1970 já falavam em crises de representação, é quase como uma marca da democracia”, defende. “Além disso, a abstenção é maior em municípios grandes, tem município pequeno com taxa de apenas 10%. Como se explica isso pela crise de representação? Tem a ver com disputas muito específicas.”

Já os motivos do aumento do comparecimento americano passam por uma maior mobilização pós-eleição de Trump —pleitos mais acirrados tendem a levar mais gente às urnas. “São questões muito importantes em jogo para o eleitor, e o esforço para levar as pessoas para votar é vital quando o voto é facultativo”, afirma Gelape.

Uma pesquisa do Pew Research Center mostra que só 37% dos norte-americanos são “eleitores consistentes”, ou seja, votaram nas três eleições entre 2018 e 2022. Republicanos e democratas têm um nível de comparecimento equilibrado (por volta de 50%), mas o partido de Trump tem se beneficiado de um aspecto sociodemográfico.

A taxa de comparecimento entre brancos sem diploma universitário —que preferem o presidente eleito e representam quase metade do eleitorado— é maior (35%) do que a de grupos majoritariamente democratas, como negros (27%) e latinos em geral (19%), campeões de abstenção.

No Brasil, por sua vez, os dados disponíveis do TSE mostram que os que menos votaram em 2022 são homens, jovens de 21 a 29 anos e pessoas que têm até o ensino fundamental completo, embora a abstenção também esteja crescendo entre os mais escolarizados.

Neste ano, os principais motivos de ausência relatados ao Datafolha foram: “não voto na cidade ou não transferi o título” (18%), “desinteresse pela eleição ou pelos candidatos” (14%) e “local de votação muito longe” (14%). No total, um terço disse que não iria se fosse opcional —a maioria dos brasileiros é contra o voto obrigatório desde 2014, com variações ao longo do tempo.

O professor Lynch, da Uerj, acredita numa crise de representatividade em curso e alerta que, além da abstenção, ela pode incentivar “o oposto, que é o populismo“. “A abstenção como sintoma da frustração com o sistema ou da indiferença, e o populismo como expressão da indignação contra o sistema”, diz.

Já Gelape não acha que essa abstenção chegou a tal nível a ponto de influenciar os resultados no Brasil, mas causa preocupação em relação a como as pessoas estão participando da política: “Se elas nem sequer estão participando na eleição, não estão participando em outros espaços, e aí os políticos sofrem menos fiscalização e controle.”

E como aumentar o engajamento? Para ele, a solução depende muito dos próprios políticos e menos das campanhas de conscientização da Justiça Eleitoral. “Parte do trabalho deles é convencer os eleitores de que eles devem ir votar. É o que os países de voto facultativo como os EUA nos ensinam”, afirma.



Leia Mais: Folha

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Ufac realiza 3ª Jornada das Profissões para alunos do ensino médio — Universidade Federal do Acre

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Ufac realiza 3ª Jornada das Profissões para alunos do ensino médio — Universidade Federal do Acre

A Pró-Reitoria de Graduação da Ufac realizou a solenidade de abertura da 3ª Jornada das Profissões. O evento ocorreu nesta sexta-feira, 26, no Teatro Universitário, campus-sede, e reuniu estudantes do ensino médio de escolas públicas e privadas do Estado, com o objetivo de aproximá-los da universidade e auxiliá-los na escolha de uma carreira. A abertura contou com apresentação cultural do palhaço Microbinho e exibição do vídeo institucional da Ufac.

A programação prevê a participação de cerca de 3 mil alunos durante todo o dia, vindos de 20 escolas, entre elas o Ifac e o Colégio de Aplicação da Ufac. Ao longo da jornada, os jovens conhecem os 53 cursos de graduação da instituição, além de laboratórios, espaços culturais e de pesquisa, como o Museu de Paleontologia, o Parque Zoobotânico e o Complexo da Medicina Veterinária.


Na abertura, a reitora Guida Aquino destacou a importância do encontro para os estudantes e para a instituição. Segundo ela, a energia da juventude renova o compromisso da universidade com sua missão. “Vocês são a razão de existir dessa universidade”, disse. “Tenho certeza de que muitos dos que estão aqui hoje ingressarão em 2026 na Ufac. Aproveitem este momento, conheçam os cursos e escolham aquilo que os fará felizes.”

A reitora também ressaltou a trajetória do evento, que chega à 3ª edição consolidado, e agradeceu as parcerias institucionais que possibilitam sua realização, como a Secretaria de Estado de Educação e Cultura (SEE) e a Fundação de Cultura Elias Mansour (FEM). “Sozinho ninguém faz nada, mas juntos somos mais fortes; é assim que a Ufac tem crescido, firmando-se como referência no ensino superior da Amazônia”, afirmou.
A pró-reitora de Graduação, Ednaceli Damasceno, explicou a proposta da jornada e o esforço coletivo envolvido na organização. “Nosso objetivo é mostrar os cursos de graduação da Ufac e ajudar esses jovens a identificarem áreas de afinidade que possam orientar suas escolhas profissionais. Muitos acreditam que a universidade é paga, então esse é também um momento de reforçar que se trata de uma instituição pública e gratuita.”

Entre os estudantes presentes estava Ana Luiza Souza de Oliveira, do 3º ano da Escola Boa União, que participou pela primeira vez da jornada. Ela contou estar animada com a experiência. “Quero ver de perto como funcionam as profissões, entender melhor cada uma. Tenho vontade de fazer Psicologia, mas também penso em Enfermagem. É uma oportunidade para tirar dúvidas.”


Também compuseram o dispositivo de honra o pró-reitor de Planejamento, Alexandre Hid; o pró-reitor de Administração, Tone Eli da Silva Roca; o presidente da FEM, Minoru Kinpara; além de diretores da universidade e representantes da SEE.



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Enanpoll — Universidade Federal do Acre

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publicado:
26/09/2025 14h57,


última modificação:
26/09/2025 14h58

1 a 3 de outubro de 2025



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Ufac inicia 34º Seminário de Iniciação Científica no campus-sede — Universidade Federal do Acre

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Ufac inicia 34º Seminário de Iniciação Científica no campus-sede — Universidade Federal do Acre

A Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (Propeg) da Ufac iniciou, nessa segunda-feira, 22, no Teatro Universitário, campus-sede, o 34º Seminário de Iniciação Científica, com o tema “Pesquisa Científica e Inovação na Promoção da Sustentabilidade Socioambiental da Amazônia”. O evento continua até quarta-feira, 24, reunindo acadêmicos, pesquisadores e a comunidade externa.

“Estamos muito felizes em anunciar o aumento de 130 bolsas de pesquisa. É importante destacar que esse avanço não vem da renda do orçamento da universidade, mas sim de emendas parlamentares”, disse a reitora Guida Aquino. “Os trabalhos apresentados pelos nossos acadêmicos estão magníficos e refletem o potencial científico da Ufac.”

A pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação, Margarida Lima de Carvalho, ressaltou a importância da iniciação científica na formação acadêmica. “Quando o aluno participa da pesquisa desde a graduação, ele terá mais facilidade em chegar ao mestrado, ao doutorado e em compreender os processos que levam ao desenvolvimento de uma região.”

O pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, comentou a integração entre ensino, pesquisa, extensão e o compromisso da universidade com a sociedade. “A universidade faz ensino e pesquisa de qualidade e não é de graça; ela custa muito, custa os impostos daqueles que talvez nunca entrem dentro de uma universidade. Por isso, o nosso compromisso é devolver a essa sociedade nossa contribuição.”

Os participantes assistiram à palestra do professor Leandro Dênis Battirola, que abordou o tema “Ciência e Tecnologia na Amazônia: O Papel Estratégico da Iniciação Científica”, e logo após participaram de uma oficina técnica com o professor Danilo Scramin Alves, proporcionando aos acadêmicos um momento de aprendizado prático e aprofundamento nas discussões propostas pelo evento.

(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)

 



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