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‘Trump e Harris não aceitarão uma vitória de Putin’ – DW – 04/10/2024
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DW: Sr. Krastev, existe um desencanto com a própria ideia de democracia liberal? Muitas pessoas na Europa – não apenas na Bulgária – dizem “isto já não funciona”. Estaremos perante uma ameaça à democracia liberal enquanto valor básico?
Ivan Krastev: Democracia é como o amor: você fica constantemente desapontado com ele, mas mesmo assim espera que algum dia o encontre em sua verdadeira forma. O maior risco aqui é que não tenhamos mais certeza do que é democracia.
Existe o perigo de o autoritarismo se passar por democracia?
Krastev: Claro. A própria divisão entre democracia e autoritarismo foi bastante característica do século XX.
No início do século XXI, assistimos ao surgimento de regimes políticos em que eleições livres coexistem com práticas autoritárias. É possível ter um regime altamente autoritário onde um governo goza do apoio da maioria, mas ao mesmo tempo atropela os direitos do indivíduo e priva a oposição de quaisquer direitos viáveis.
Paradoxalmente, fronteiras abertas são um dos factores que estabilizam tais regimes. No UEpor exemplo, as pessoas estão se inclinando para uma verdade mais simples: se você quer mudar de vida, é mais fácil sair ou mudar o país onde mora do que mudar o governo do seu próprio país.
Você concorda que a ideia de democracia livre não se beneficia necessariamente do que eu chamaria de “exagero liberal” – “regras” ocultas ou explícitas do politicamente correto?
Krastev: Certa vez, passei algum tempo na Universidade de Stanford. Enquanto estive lá, houve um escândalo completamente absurdo. O departamento de TI elaborou uma lista de mais de 150 palavras e frases que não deveriam ser usadas por serem consideradas politicamente incorretas.
Um deles era o provérbio “matar dois coelhos com uma cajadada só”. Supostamente, isso foi uma afronta aos direitos dos animais. Eu me perguntei o que estava por trás disso.
Depois deparei-me com a seguinte estatística: se perguntarmos aos estudantes das universidades americanas como se definem, liberais ou conservadores, a resposta é dois para um a favor dos liberais. Se você perguntar aos professores, essa proporção é de 6 para 1. Se você perguntar à administração, é 12:1.
O que aconteceu? O que aconteceu é que algumas pessoas que receberam uma formação muito elevada, defenderam uma tese e esperavam tornar-se professores, são obrigadas a trabalhar em administrações universitárias porque o número de cargos docentes nas ciências sociais está a ser reduzido.
Estas pessoas sentem-se, com razão, traídas pelo sistema educativo. Dedicaram muitos anos das suas vidas ao estudo, à prova e à obtenção de estatuto intelectual, mas tudo isto foi em vão. É com eles que começa o “exagero liberal” de que fala.
Porque para eles o radicalismo é, entre outras coisas, uma forma de manter o estatuto social. Mas a verdade é que num país como Bulgáriaeste “excesso liberal” é uma realidade virtual. As pessoas leem sobre isso, mas não vivem nem o abraçam.
E surge um mundo ao estilo Sartre, onde o inferno realmente são as outras pessoas.
Krastev: Em certo sentido, sim. “Casa” é, por definição, o lugar que você realmente pensa que entende e onde se sente compreendido.
De repente, quando isso está muito fragmentado, você fica com a sensação de que não só não entende mais o que está acontecendo, mas também ninguém entende você, e você começa a se encapsular em comunidades menores.
A política pressupõe uma circunstância nacional comum, algum acordo básico sobre as coisas importantes. O desaparecimento deste consenso público é um dos principais problemas da democracia liberal.
Disse que a maioria das pessoas pensa na migração como um movimento no espaço, fisicamente, mas na verdade quase todos os migrantes, sem o saberem, pensam nela como um movimento no tempo, como em direção ao futuro. Este ainda é o caso?
Krastev: Todos nós vivemos em um mundo onde estamos em constante movimento. E não apenas no espaço, mas também no tempo.
As pessoas de África ou da Ásia que vemos nas fronteiras da Europa dificilmente pensam que estão simplesmente a deslocar-se geograficamente: para elas, migração é uma viagem em direção ao futuro.
Mas os milhões de pessoas que vêm para a Europa estão naturalmente a mudar as nossas sociedades, a mudar as nossas cidades, o que deixa muitos habitantes locais com a sensação persistente de que a cidade onde vivem já não é a sua cidade.
Enquanto alguns (africanos, asiáticos) atravessam a fronteira com os pés, outros tentam viajar no tempo com o seu voto.
Você concorda que o verdadeiro problema do mundo moderno é a ansiedade, e não o medo (que tem um objeto)? Porque a ansiedade não tem objeto e esse é o perigo psicológico verdadeiramente avassalador.
Krastev: O medo suga seu poder para a vida. A ansiedade toma conta de você. Sentimos que tudo está mudando e isso nos leva à inação ou à reação exagerada.
Teremos uma aparência de compreensão do que está acontecendo agora daqui a 50 anos, quando olharmos para trás. Mas a sensação de que estamos vivendo um momento especial nunca nos abandona.
Durante uma visita a Moscou no início da guerra, o presidente chinês disse: “estamos vendo uma mudança que não víamos há cem anos”. Mas nem ele nem nós sabemos exatamente o que é essa mudança.
Muitos na Europa questionam-se como é que o resultado das eleições nos EUA irá afectar a guerra na Ucrânia.
Krastev: O guerra está em uma fase crítica. Ambos os lados aguardam o início das negociações e, portanto, ambos os lados procuram uma escalada que lhes permita negociar a partir de uma posição de força.
A Rússia destruiu uma grande parte do sistema energético ucraniano, ameaçando congelar não apenas a guerra, mas a própria Ucrânia. Kiev tomou a ofensiva em Kursk e pretende atacar alvos dentro da Rússia.
A própria ideia de que a possível eleição de Trump representa o fim da guerra e que uma vitória democrata significaria uma recusa em negociar, baseia-se num argumento falso. Ambos Trunfo e Harris não aceitará uma vitória de Putin e uma derrota ucraniana.
Mas tanto Trump como os Democratas querem que a guerra acabe o mais rapidamente possível. Por uma razão simples: em última análise, o público americano está cansado das guerras e dos recursos gastos nelas. O novo consenso é que a América deveria fazer mais pelos americanos e não lidar com o mundo inteiro. A ideia de que a América deveria ser o polícia do mundo já não é aceitável.
Você está otimista em relação ao mundo atual?
Krastev: Temos outro mundo?
Editado por: Aingeal Flanagan
Ivan Krastev é presidente do Centro de Estratégias Liberais em Sófia, Bulgária, e membro permanente do Instituto de Ciências Humanas de Viena (IWM).
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Aperfeiçoamento em cuidado pré-natal é encerrado na Ufac — Universidade Federal do Acre
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12 de novembro de 2025A Ufac realizou o encerramento do curso de aperfeiçoamento em cuidado pré-natal na atenção primária à saúde, promovido pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proex), Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre) e Secretaria Municipal de Saúde de Rio Branco (Semsa). O evento, que ocorreu nessa terça-feira, 11, no auditório do E-Amazônia, campus-sede, marcou também a primeira mostra de planos de intervenção que se transformaram em ações no território, intitulada “O Cuidar que Floresce”.
Com carga horária de 180 horas, o curso qualificou 70 enfermeiros da rede municipal de saúde de Rio Branco, com foco na atualização das práticas de cuidado pré-natal e na ampliação da atenção às gestantes de risco habitual. A formação teve início em março e foi conduzida em formato modular, utilizando metodologias ativas de aprendizagem.
Representando a reitora da Ufac, Guida Aquino, o diretor de Ações de Extensão da Proex, Gilvan Martins, destacou o papel social da universidade na formação continuada dos profissionais de saúde. “Cada cursista leva consigo o conhecimento científico que foi compartilhado aqui. Esse é o compromisso da Ufac: transformar o saber em ação, alcançando as comunidades e contribuindo para a melhoria da assistência às mulheres atendidas nas unidades.”
A coordenadora do curso, professora Clisângela Lago Santos, explicou que a iniciativa nasceu de uma demanda da Sesacre e foi planejada de forma inovadora. “Percebemos que o modelo tradicional já não surtia o efeito esperado. Por isso, pensamos em um formato diferente, com módulos e metodologias ativas. Foi a nossa primeira experiência nesse formato e o resultado foi muito positivo.”
Para ela, a formação representa um esforço conjunto. “Esse curso só foi possível com o envolvimento de professores, residentes e estudantes da graduação, além do apoio da Rede Alyne e da Sesacre”, disse. “Hoje é um dia de celebração, porque quem vai sentir os resultados desse trabalho são as gestantes atendidas nos territórios.”
Representando o secretário municipal de Saúde, Rennan Biths, a diretora de Políticas de Saúde da Semsa, Jocelene Soares, destacou o impacto da qualificação na rotina dos profissionais. “Esse curso veio para aprimorar os conhecimentos de quem está na ponta, nas unidades de saúde da família. Sei da dedicação de cada enfermeiro e fico feliz em ver que a qualidade do curso está se refletindo no atendimento às nossas gestantes.”
A programação do encerramento contou com uma mostra cultural intitulada “O Impacto da Formação na Prática dos Enfermeiros”, que reuniu relatos e produções dos participantes sobre as transformações promovidas pelo curso em suas rotinas de trabalho. Em seguida, foi realizada uma exposição de banners com os planos de intervenção desenvolvidos pelos cursistas, apresentando as ações implementadas nos territórios de saúde.
Também participaram do evento o coordenador da Rede Alyne, Walber Carvalho, representando a Sesacre; a enfermeira cursista Narjara Campos; além de docentes e residentes da área de saúde da mulher da Ufac.
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CAp promove minimaratona com alunos, professores e comunidade — Universidade Federal do Acre
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11 de novembro de 2025O Colégio de Aplicação (CAp) da Ufac realizou uma minimaratona com participação de estudantes, professores, técnico-administrativos, familiares e ex-alunos. A atividade é um projeto de extensão pedagógico interdisciplinar, chamado Maracap, que está em sua 11ª edição. Reunindo mais de 800 pessoas, o evento ocorreu em 25 de outubro, no campus-sede da Ufac.
Idealizado e coordenado pela professora de Educação Física e vice-diretora do CAp, Alessandra Lima Peres de Oliveira, o projeto promove a saúde física e social no ambiente estudantil, com caráter competitivo e formativo, integrando diferentes áreas do conhecimento e estimulando o espírito esportivo e o convívio entre gerações. A minimaratona envolve alunos dos ensinos fundamental e médio, do 6º ano à 3ª série, com classificação para o 1º, 2º e 3º lugar em cada categoria.
“O Maracap é muito mais do que uma corrida. Ele representa a união da nossa comunidade em torno de valores como disciplina, cooperação e respeito”, disse Alessandra. “É também uma proposta de pedagogia de inclusão do esporte no currículo escolar, que desperta nos estudantes o prazer pela prática esportiva e pela vida saudável.”
O pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, ressaltou a importância do projeto como uma ação de extensão universitária que conecta a Ufac à sociedade. “Projetos como o Maracap mostram como a extensão universitária cumpre seu papel de integrar a universidade à comunidade. O Colégio de Aplicação é um espaço de formação integral e o esporte é uma poderosa ferramenta para o desenvolvimento humano, social e educacional.”
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Semana de Letras/Português da Ufac tematiza ‘língua pretuguesa’ — Universidade Federal do Acre
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11 de novembro de 2025O curso e o Centro Acadêmico de Letras/Português da Ufac iniciaram, nessa segunda-feira, 10, no anfiteatro Garibaldi Brasil, sua 24ª Semana Acadêmica, com o tema “Minha Pátria é a Língua Pretuguesa”. O evento é dedicado à reflexão sobre memória, decolonialidade e as relações históricas entre o Brasil e as demais nações de língua portuguesa. A programação segue até sexta-feira, 14, com mesas-redondas, intervenções artísticas, conferências, minicursos, oficinas e comunicações orais.
Na abertura, o coordenador da semana acadêmica, Henrique Silvestre Soares, destacou a necessidade de ligar a celebração da língua às lutas históricas por soberania e justiça social. Segundo ele, é importante que, ao celebrar a Semana de Letras e a independência dos países africanos, se lembre também que esses países continuam, assim como o Brasil, subjugados à força de imperialismos que conduzem à pobreza, à violência e aos preconceitos que ainda persistem.
O pró-reitor de Extensão e Cultura, Carlos Paula de Moraes, salientou o compromisso ético da educação e reforçou que a universidade deve assumir uma postura crítica diante da realidade. “A educação não é imparcial. É preciso, sim, refletir sobre essas questões, é preciso, sim, assumir o lado da história.”
A pró-reitora de Graduação, Ednaceli Damasceno, ressaltou a força do tema proposto. Para ela, o assunto é precioso por levar uma mensagem forte sobre o papel da universidade na sociedade. “Na própria abertura dos eventos na faculdade, percebemos o que ocorre ao nosso redor e que não podemos mais tratar como aula generalizada ou naturalizada”, observou.
O diretor do Centro de Educação, Letras e Artes (Cela), Selmo Azevedo Pontes, reafirmou a urgência do debate proposto pela semana. Ele lembrou que, no Brasil, as universidades estiveram, durante muitos anos, atreladas a um projeto hegemônico. “Diziam que não era mais urgente nem necessário, mas é urgente e necessário.”
Também estiveram presentes na cerimônia de abertura o vice-reitor, Josimar Batista Ferreira; o coordenador de Letras/Português, Sérgio da Silva Santos; a presidente do Cela, Thaís de Souza; e a professora do Laboratório de Letras, Jeissyane Furtado da Silva.
(Camila Barbosa, estagiária Ascom/Ufac)
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